Vidas Secas – Graciliano Ramos
Graciliano Ramos de Oliveira, conhecido como Graciliano Ramos nasceus em Quebrangulo a 27 de outubro de 1892 e faleceu no Rio de Janeiro a 20 de março de 1953. O livro Vidas Secas, considerado a sua melhor obra, foi publicado originalmente em 1938. Em Vidas Secas conhecemos Fabiano, Sinha Vitória e os seus dois filhos pequenos. Habitantes do sertão, passam uma vida dura sempre à mercê das estações, do clima, das secas e inundações e vêem-se ocasionalmente obrigados a partir com os seus poucos haveres em busca de outra terra onde possam trabalhar e alimentar a família. Vidas secas é um livro duro mas belissimo. As personagens são cruas, honestas, humildes, que assim como as intempéries têm as suas pr´prias secas e trovoadas. O título, pessoalmente, acho-o brilhante. Vidas secas, como as secas do sertão. São personagens que vivem para sobreviver, sempre em busca de um futuro um pouco ou nada melhor, que não mostram sentimentos profundos além de um ou outro laivo de violência, de um ou outro laivo de arrependimento e saudade. A vida é tão cruel nesta história que os meninos, que andam muita svezes nus pela terra, mal conhecem os nomes às coisas pois os adultos não têm tempo para lhes ensinar. E depois, claro, há a cadela Baleia. Eu já tinha ouvido falar da cadela Baleia, anteriormente, quando ouvi falar desta história e sabia que algo trágico lhe acontecia. Mas ler o seu fim, a maneira como está escrito, a história que é, bem… que aperto no peito! Que dor! É, também, uma história que acaba onde começa. Sem grandes reviravoltas, sem surpresas, na simplicidade dura e crua da vida. E é assim mesmo.
A Quinta
Joanne Ramos
Joanne ramos nasceu nas Filipanas mas mudou-se para Winsconsin, EUA ainda criança. Formou-se em Princeton, trabalhou na área bancária e colaborou com a revista The Economist. Em A Quinta conhecemos a história de Jane, uma mulher filipina sozinha e desempregada, com uma filha bebé. Jane está desesperada por um emprego que lhe permita criar um futuro melhor para ela e para a filha e é então que lhe falam de Golden Oaks. Golden Oaks, a Quinta, é um retiro de luxo para onde são enviadas as Hospedeiras, mulheres que são barrigas de aluguer, grávidas de filhos de casais extremamente ricos. A Quinta é luxuosa e o prémio por um parto bem sucedido e um bebé saudável pode mudar a vida de Jane. Mas para isso ela vai ter de estar afastada da família e isolada durante 9 meses… Queria ler este livro à muito tempo. Admito que esperava mais do que aquilo que tive. Ainda assim, adorei esta história. Está leve e muito bem escrita. Está bem criada, realista e é uma história interessante. Não tem grandes surpresas nem reviravoltas e eu não diria que é um thriller muito intenso. Ainda assim é interessante pelo suspense e pelas questões que trata, que no que toca à maternidade quer à imigração/emigração e à luta por uma vida melhor. Desiludi-me com o final. Esperava mais, algo diferente, que surpreendesse. Foi razoável e um boa leitura ara entreter. Recomendado. 3*
A Arte da Guerra de Sun Tzu para Mulheres
Catherine Huang e A. D. Rosenberg
Numa biblioteca, ainda para mais com depósito legal, nunca sabemos o que nos vai passar a seguir pelas mãos. E nunca paramos de ser surpreendidos. Com certeza já ouviram falar no texto A Arte da Guerra de Sun Tzu. Sun Tzu foi um filósofo, estrategista e general chinês que viveu entre 544 a.C. e 496 a.C. O seu A Arte da Guerra é um tratado militar que se tornou no maior clássico sobre estratégia de sempre e que se mantém atual ainda hoje, podendo ser “adaptado” para várias áreas da nossa vida. A Arte da Guerra é uma obra que está na minha lista de “Para ler”, que eu quero mesmo ler e sei que vou ler. Mas vamos ser sinceros… quando eu for ler A arte da guerra eu vou ler o texto de A arte da guerra. Não um conjunto de excertos escolhidos sei lá por quem nem sob que princípio ou critérios e analisados para que as mulheres os possam entender. Não, eu não gostei deste livro. Recentemente, no facebook do blog falei desta questão, no respeitante aos livros infantis. Livros para meninas, livros para meninos. Títulos que excluem, textos preconceituosos, autores que julgam os públicos para que escrevem. Em livros para adultos esta questão é menos frequente mas nem por isso menos chocante. Eu leio livros “vocacionados” para mulheres, sim. Independência Financeira para Mulheres e Clube de Combate Feminista por exemplo, são livros de que já falei aqui e até recomendei. Mas são livros que falam dos problemas que as mulheres enfrentam, que fundamentam as suas afirmações em estudos e casos reais, que propõem estudos e estatísticas e soluções reais que não se baseiam na mera opinião dos autores. São livros que realmente estão ali a “prestar um serviço”. A arte da guerra de Sun Tzu para mulheres é algo diferente. Aqui temos alguns excertos de A Arte da Guerra de Sun Tzu seguidos de uma análise. “Sun Tzu escreveu” seguido de uma explicação muitas vezes com uma grande parte em forma de lista e uma cereja no topo do bolo que é um “Em resumo”. Sim, porque precisamos do resumo, a lista de pontos não bastava. Eu gostei particularmente do “Se cheira e sabe bem, provavelmente não está envenenado.” Primeiro, são apenas excertos e para haver uma leitura e análise ao texto realmente bem feita não se pode pegar em meia dúzia de palavras e tirá-las do contexto. Nesta obra os excertos não têm a informação de onde se encontram. Sim, são de Sun Tzu. Mas são a obra toda? O princípio o meio ou o fim? De que edição, com que tradutor? Foram traduzidos diretamente do chinês? Já passaram por várias traduções? Em que página se encontram? Até a formatação dos excertos deixa dúvidas. Por vezes está correta; noutras é referido que ele escreveu mas sem qualquer tipo de formatação. Então ele escreveu mas aquelas não são as palavras dele? São uma interpretação da autora? Baseada em quê? Se são da autora não são de Sun Tzu. Então ele não escreveu… E os casos reais? Também os há. Escritos na primeira pessoa, para criar identificação com o leitor e diminuir a imparcialidade. Não, esperem…
Isso passa, logo à partida, uma enorme falta de credibilidade.Será que as mulheres não percebem referências bibliográficas? Não acreditam na ciência e na investigação? Saíram agora da idade das trevas? Ou só não saberão o que são essas coisas? Depois… bem, o texto é uma análise. Mesmo sabendo que A Arte da Guerra não é um texto literário e por isso pode não ser tão susceptível a análises e pontos de vista diferenciados, eles existem. Esta análise, é a da autora? A do autor? A dos dois? Leram algum estudo para se basearem? Falaram com algum especialista na obra? Leram o texto original ou uma tradução? Sabemos os currículos. Mas como chegaram a estas conclusões? Ok, talvez eu esteja a ser demasiado exigente com esta obra. Não vou dizer que todo o que diz é inútil. Algumas coisas fazem sentido e até podem ser interessantes. Outras são mais do mesmo. A verdade é que eu não me chatearia com isto se o título fosse por exemplo “A arte da guerra de Sun Tzu para preguiçosos” ou “A arte da guerra de Sun Tzu para pessoas com pressa”. Mas para mulheres? Porquê, expliquem-me! E para finalizar e não dizerem que não dou exemplos, deixo-vos uma citação do final do livro, página 287:
“O tratado clássico de Sun Tzu A Arte da Guerra permitiu a gerações – de homens – tornarem-se pensadores estratégicos de sucesso. Pela primeira vez, esta é uma Arte da Guerra destinada a ajudar mulheres a terem sucesso – no local de trabalho e nas suas vidas pessoais!”
De facto… nunca nenhuma mulher deve ter lido A Arte da Guerra, só homens. Não recomendado. -20*
A zanga das letras comadres
Carlos Nuno Granja
As letras vivem numa rua muito estreita, mesmo ao lado da rua larga dos números. Um dia os números zangam-se e decidem levar as letras a tribunal, já que elas acham que podem andar à vontade na rua deles. Quem se vê numa grande confusão é o juiz. Mas no fim, todos são apenas feitos de traços… Um livro diferente, divertido, bom para entreter. Admito que não fiquei fã das ilustrações, mas ainda assim vale a pena espreitar este livrinho. 3*, recomendado.
A Zebra Camila
Marisa Núñez
A Zebra Camila achava que já não tinha idade para usar calças e suspensórios, mas vivia numa terra muito ventosa, por isso a mãe não deixava que ela os tirasse. Um dia Camila desobedece-lhe e sai de casa sem eles. É então que um vento muito forte vem e lhe rouba as riscas, deixando-a parecida com uma mula branca de t-shirt. Camila começa então a andar, muito triste por ter perdido as suas riscas, mas pelo caminho vai encontrando vários amigos que a ajudam a ficar um pouco menos triste… Uma Zebra que perde as riscas num dia de vento é uma divertida e poética imagem para os mais novos. Uma história repleta de imaginação, sobre o valor da amizade e de não perder a esperança, sobre os contratempos que nos atrapalham e o recuperar da alegria. Ah, e claro, sobre a obediência aos pais. Muito recomendado! 4*
Rapaz conhece rapaz
Alice Oseman

Livro Físico
Nascida a 16 de outubro de 1994, Alice Oseman é uma autora de ficção para jovens adultos. Rapaz procura rapaz já é um best-seller mundial e vencedor do prémio Goodreads Choice Awards 2020 para melhor banda desenhada. Tenho visto imensas e óptimas opiniões sobre este livro. Talvez por isso as minhas expectativas estivessem demasiado altas. A verdade é que é um bom livro: com uma boa história, bonita e interessante com a qual os jovens se vão identificar. Não é demasiado pesada e nem muito surpreendente. É um romance jovem, simplesmente. Eu admito que no que toca a bandas desenhadas prefiro as coloridas. Talvez por isso este livro não me tenha conquistado verdadeiramente, visto que é apenas a preto e branco. É outro estilo, respeito, só não o que mais me atria. Ainda assim é um livro que vale muito a pena. De temática LGBT, trata o tema com uma perfeita normalidade, boa para a inclusão e para que os jovens se comecem a sentir mais confortáveis com ele. E é sempre bom quando há este género de publicações, que não são muitas. Recomendado. 4*
A árvore das recordações
Britta Teckentrup
A Raposa está feliz, mas muito, muito cansada. Então, deita-se na neve e parte, para sempre. Os seus amigos ficam tristes, vão sentir a falta dela, mas depois começam a lembrar-se de todas as boas recordações que partilham da sua falecida amiga… A Árvore das Recordações é um livro infantil que trata de um tema muito difícil: a morte. Não é um tema fácil de tratar e não e fácil encontrar bons livros sobre este tema, adequados às necessidades das crianças. É por isso que este livro é tão especial. É triste, sim, a história que traz é triste mas a morte também o é e é normal ficar triste nestes momentos. Ainda assim é um livro realmente muito bonito e que nos lembra o que é realmente importante: os bons momentos que partilhamos com quem partiu. Lindíssimo, um livro para ser muito lido e muito trabalho com as crianças e que promete ser um verdadeiro conforto para os mais novos. Muito recomendado! 5*
Eu sou a Ágata
Anna Pignataro

A Ágata nasceu quando começaram a cair as primeiras folhas. É filha do Urso Alberto e da Porquinha Vitória e tem o nariz do pai e as orelhas da mãe e nunca se encaixou bem na sua família. Quando entra para o infantário a Ágata percebe que é muito diferente de todos os outros. Será que isso é bom, ou mau? A Ágata é uma personagem apaixonante. Tem tudo para conquistar os jovens leitores e esta obra, além de umas belíssimas e muito bem pensadas ilustrações, está escrita de uma forma muito acessível. É um ótimo livro para falar com os mais novos sobre a diferença e sobre a forma como cada um de nós é único e especial à sua maneira. 5*, recomendado!
Memórias do Cárcere
Camilo Castelo Branco
Livro Físico
Camilo Castelo Branco nasceu a 16 de março de 1825 em Lisboa e faleceu a 1 de junho de 1890 em Vila Nova de Famalicão. É um dos mais reconhecidos autores portugueses, tendo sido o primeiro a conseguir viver inteiramente dos direitos autorais das suas obras. Uma das suas obras mais reconhecidas é Amor de Perdição. Ana Plácido, por sua vez, era Viscondessa de Correia Botelho e escritora, casada com Manuel Pinheiro Alves. Ana Plácido e Camilo Castelo Branco acabam por se apaixonar um pelo outro, numa época em que o adultério ainda era crime. A denúncia feita pelo marido de Ana acaba por levá-la à prisão a 6 de Junho de 1860, e a Camilo a 1 de Outubro de 1860. Ambos são presos na Cadeia da Relação do Porto, onde as condições eram miseráveis e cujo cheiro das latrinas chegava às ruas, permanecendo presos até outubro de 1961. É sobre os meses que passou na cadeia que Camilo viria a escrever mais tarde o Memórias do Cárcere. Camilo é conhecido principalmente pelas suas obras tipicamente românticas, as histórias onde se adoece e morre de amor. Mas a verdade é que ele escreveu muito, muito mais que simples romances e mesmo esses são muitos mais do que a maioria das pessoas conhecem. Esta obra de Camilo é particularmente diferente, por serem memórias e por serem de um período tão específico e tão privado da sua vida. Ele conta muito do que viu e conheceu na prisão e fá-lo com um brilhante à vontade literário. Foi, francamente, um dos livros de Camilo que mais gostei. Não tem dramatismo em excesso, percebe-se claramente que é baseado na realidade e é uma leitura deliciosa pela forma como está escrita. O talento de Camilo Castelo Branco para a escrita é, nesta obra, verdadeiramente notável. Depois, claro, há a questão da prisão e dos presos. Camilo diz tudo de uma forma muito literária, quase poética, mas a verdade é que os factos estão lá e estão muito longe de ser literários ou poéticos. São histórias duras de homens culpados e inocentes, de condições más e famílias afastadas, É um livro pesado sem ser pesado, uma obra que nos mostra bem a realidade de uma prisão portuguesa e da sua falta de condições naquela época, um livro que apaixona e provoca o leitor. Bonito, comovente, verídico e encantador.
A Bíblia da Carreira
Cassiana Tavares
Cassiana Tavares é psicóloga e consultora, especialista em psicologia do trabalho. Lidera projetos de consultoria empresarial e apoia jovens e adultos no seu desenvolvimento pessoal e profissional. Podem saber mais sobre a autora neste link. A Bíblia da Carreira é um livro complexo, sobre um tema complexo. Ter uma carreira, uma verdadeira carreira que seja útil para a sociedade e o faça feliz é muito mais do que simplesmente arranjar um emprego e acho que isso se torna bastante perceptível nesta obra. A autora fala de temas tão diversos como a razão de se estar naquele trabalho, a criação de um bom curriculo o abuso e assédio no ambiente de trabalho, as competências essenciais para o séc. XXI e muito mais… Não há, diria eu, nenhum livro dentro destes temas que faça milagres. Pode ler os livros que quiser mas para desenvolver a sua carreira vai ter de fazer mais: vai ter de se pôr a trabalhar e a pôr as recomendações deles em prática. Agora, que já esclarecemos este ponto, vamos ao livro da Cassiana: é excelente! Tenho lido vários livros do género nos últimos anos e atrevo-me a dizer que este é um dos mais completos. Fala de quase tudo o que precisa de saber, dá bons e profundos conselhos, tem exercícios para o fazerem pensar mais e começar a testar-se e no fim de cada capítulo tem um pequeno resumo dos pontos mais importantes que eu particularmente adorei. É um livro que se lê bem, uma obra para interiorizar e aprender que promete ajudar realmente no desenvolvimento pessoal e profissional de cada um de nós. E é também, ao mesmo tempo, um livro técnico. Porque é que digo isto? Livros sobre esta temática, se não forem realmente bem feitos e bem escritos, correm o risco de beirar a área da auto-ajuda. Deixam de ser “práticos” e “técnicos” e perdem parte do efeito. Este livro passou bem longe disso e por isso tornou-se, para mim, uma referência no que respeita a leituras de desenvolvimento de carreira. É consiste, com princípio meio e fim, está bem escrito e bem fundamentado e tem uma ótima lista de bibliografia de base. Livro preferido. 5*. Vou seguir o trabalho da Cassiana, sem dúvida!
Oh, não! Adotei um elefante!
David Walliams
Um dia o Rui preencheu um formuláriono jardim zoológico para adotar um elefante, mas nunca mais pensou nisso. A sério a sério, o Rui não esperava que o elefante fosse mesmo aparecer lá por casa… mas ele apareceu. Comeu a comida toda, inundou a casa de banho e esmagou a bicicleta do Rui. E pior, o Rui não leu as letras pequenas do formulário… é que o elefante até pode convidar os amigos a ficarem! Um livro divertidíssimo, para pôr miúdos e graúdos a darem umas boas gargalhadas, sem pretensão de ensinar nada… a não ser que se deve sempre ler as letras pequenas! Muito, muito bom! 5*, recomendado!
Essa dama bate bué!
Yara Monteiro
Em Essa dama bate bué! conhecemos a história de Vitória, uma jovem que nasceu em Angola mas foi criada pelos avós em Portugal e que pouco antes do seu casamento decide fugir para Angola à procura da mãe que nunca conheceu e da sua própria identidade. É um livro com imensas (e boas) referências à cultura negra e à cultura Angolana. É também um livro que nos mostra uma parte da história de Angola, através da história desta jovem e da sua família, de uma maneira bastante interessante. Nesse aspecto, é possível aprender com ele e o leitor dá por si com vontade de continuar a ler e a saber mais. Ainda assim foi um livro que não me conquistou. Tudo corre “às pressas”, sem aprofundamentos. É uma leitura estranha, como se o que estivéssemos a ler não fosse realmente um livro de literatura. Basicamente, a história é ótima, mas a escrita não tem muitas qualidades literárias. É um discorrer de factos e ações sem fim nem intervalo, sem parar para respirar. E o título, pessoalmente, acho-o terrível! Resumidamente, uma boa história, mas dificilmente será um livro capaz de concorrer a prémios literários de qualquer espécie. Não recomendo. 2*