“Tem orgulho em estar do lado de quem tem razão. Ninguém gosta dos perdedores. E ninguém ama todo o género humano. Não se pode chorar sobre as existências interrompidas de biliões e biliões de indivíduos há seis milhões de anos. Não terá sido este o pacto original: que cada existência na terra tivesse, mais tarde ou mais cedo, de ser interrompida? Ouvir com os próprios ouvidos o relincho agonizante de um cavalo dói mais do que o pensamento da morte de um homem desconhecido, porque a História é feita de mortes.” (pág. 228)

Rosella Postorino é uma editora e autora italiana que já venceu o Prémio Internacional Città di Penne, o Prémio Rapallo Carige e o Prémio Campiello, entre vários outros. Nasceu em 1978 em Reggio Calabria.
As provadores de Hitler conta-nos a história de um grupo de mulheres que moram numa pequena aldeia durante a segunda grande guerra mundial e são escolhidas para provarem a comida de Hitler, todos os dias, para garantir que ele não é envenenado.
Rosella Postorino escreve muito bem, a tradução está muito bem feita e a qualidade da edição é boa. Desse ponto de vista, é uma excelente leitura.
Tenho lido muitos livros sobre a época da Segunda Guerra Mundial (podem ver neste link), mas atrevo-me a dizer que este é bastante diferente da maioria.
Em primeiro lugar, nesta obra conhecemos a população de uma aldeia alemã. Não há guetos, esconderijos nem campos de concentração. Só muito brevemente são mencionadas personagens judias. Existem, mas não são o centro da história. Depois, a autora escreveu esta obra de forma a que conhecessemos o pensamento alemão. A questão do certo e errado, como se justificavam algumas coisas aos civis, porque é que as pessoas acreditavam em Hitler…
Rosella fez isso de tal maneira que a determinado momento da leitura dei comigo a pesquisar a sua biografia, só para ter a certeza se ela era ou não alemã.
Outra diferença entre este livro e outros que tenho lido é o papel central que o amor e o sexo desempenham nesta história. Em obras sobre o holocausto é raro o tema do sexo ser referido e muitas vezes quando é feito, é sobre violações. Aqui não. Nesta obra encontramos amor, sexo e traição em grande quantidade, bem como gravidez e aborto e outros temas muito mais “quotidianos”.
Se o livro é melhor ou pior por isso? Para mim, foi só diferente. E é agradável ler um livro sobre este tema que não é igual a todos os outros, sem dúvida. Ainda assim tenho de admitir que ver o ponto de vistas destas personagens alemãs me incomodou bastante. O sentimento que tive ao ler este livro foi quase como o sentimento que tive a ler Lolita. Gostamos da história, gostamos das personagens, mas ainda assim há ali algo de muito errado de que não gostamos nada.
É um bom livro, que me surpreendeu, mas que não acho que seja um livro exemplar dentro desta temática.
Recomendado. 4*