“Eu devia ter uma pena de luz para contar esta história. E não tenho. Mas os olhos dos meninos são luz e quem me lê há-de emprestar luz às minhas palavras.”
“E arrependeu-se de ter vivido tão só. De não ter saído de sua casa em volta da qual nasciam flores e frutos, da qual voava uma pomba branca todas as manhãs. Arrependia-se de não ter olhado, de não ter dito palavras boas aos outros homens. Dizer-lhes que as mãos devem segurar flores e frutos e não lanças frias.”
Matilde Rosa Araújo nasceu a 20 de Junho de 1921 em Lisboa e faleceu 6 de Julho de 2010. Foi professora de português e de literatura portuguesa e formadora de professores na Escola do Magistério Primário de Lisboa. Escreveu mais de 20 livros para crianças e jovens e foi uma fiel defensora dos direitos das crianças.
O Sol e o Menino dos Pés Frios é um conjunto de 24 pequenos contos, recomendados para jovens dos 14 aos 16 anos. A leitura é fácil, os contos são muito curtos e, devo dizer que me tocaram muito.
Estes contos falam de crianças que não têm a oportunidade de ser crianças, de crianças que já são adultos, de velhos que já foram jovens, de meninas, bonecas e mães. São contos extremamente doces, escritos com muita poesia na voz como só os autores portugueses sabem verdadeiramente fazer.
As personagens são apaixonantes, dá vontade de as trazermos a todas para casa só para as proteger do mundo. A tristeza, que não se cala mesmo quando a personagem sobre quem lemos é feliz, fez-me lembrar Miguel Torga e os seus contos e o Meu Pé de Laranja Lima de José Mauro de Vasconcelos. Um pouco mais longos e o leitor acabaria sem dúvida a chorar.
É um livro maravilhoso, extremamente lindo. Conta-nos realidades mais ou menos reais, que estão mesmo ao nosso lado e muitas vezes nós não vemos. Por vezes, são até a nossa própria realidade.
Recomendo, imenso! 5*