À primeira investida, eu realmente não percebi sobre o que era este livro. Quando li “a grande magia” na capa deste livros pensei que fosse sobre algum tema místico, sobrenatural, de “outro mundo”.
Mas este livro, na verdade, é sobre a criatividade e o processo criativo. Quando percebi nem pensei duas vezes e ele voou da estante da biblioteca directamente para a minha pilha de livros requisitados.
Como pseudo-escritora que sou, este é um tema que gosto muito. E este é um livro estranho, diferente e bem interessante.
A autora fala com o leitor de um para um, numa escrita leve, sobre o processo criativo. E diz-nos coisas muito importantes.
Fala-nos do medo de criar e de como podemos conviver com ele. Fala-nos da maneira como as ideias vêm e vão e das “estranhezas” do processo criativo (como quando sonhamos um conto inteiro enquanto dormimos, quando é preciso perseguir um poema e puxá-lo pela cauda para que seja nosso, ou como as ideias partem para outras pessoas quando nós não lhes damos a devida atenção). Lembra-nos a importância da gratidão, do trabalho árduo, da motivação certa.
Para quem gosta deste tema, para quem gosta de escrever, pintar, desenhar e criar algo seja de que maneira fôr, este é sem dúvida um bom livro. A leitura é fácil e a escrita de Gilbert é doce, calma e interessante. Ou não fosse a mesma autora de Comer, Orar, Amar.
Excerto (sobre o medo):
“Gostaria de esclarecer que a única razão que me permite falar com tanta autoridade sobre o medo é o facto de o conhecer intimamente. Conheço cada centímetro do medo, da cabeça aos pés. Durante toda a minha vida, fui uma pessoa medrosa. Já nasci apavorada. (…) Quando criança, tinha medo não apenas dos perigos legítimos e reconhecidos da infância (do escuro, de estranhos, da parte mais funda da piscina) mas também de uma longa lista de coisas inócuas (da neve, de amas perfeitamente inofensivas, de carros, de parquinhos, de escadas, da Rua Sésamo, do telefone, de jogos de tabuleiro, do mercado, das folhas afiadas da relva, de quase todas as situações novas, de qualquer coisa que ousasse mexer-se, etc etc etc.). (…) Passei anos a lutar contra a fé inabalável da minha mãe na minha força e nas minhas capacidades. Então, certo dia, num momento qualquer da adolescência, percebi, por fim, que a batalha que eu travava era muito estranha. Defender a minha fraqueza? (…) Ora, porque quereria eu manter as minhas limitações? Na verdade, como acabei por me dar conta, não queria.”
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