O Homem de Giz – C. J. Tudor

“Sento-me num banco, à entrada da igreja. Como era de calcular, estava vazia. Hoje em dia, as pessoas procuram outros locais de culto. Bares, centros comerciais, a televisão e o mundo virtual on line. Quem precisa da palavra de Deus quando a palavra de uma qualquer estrela de televisão faz o mesmo efeito? (…) Pergunto-me se os santos terão de viver uma qualquer vida impoluta ou se é possível viver como um pecador e basta fazer depois uns milagres para se ser santo. Parece que com a religião é assim. Homicídio, violação, massacre e mutilação, tudo pode ser perdoado desde que a pessoa se arrependa. Nunca me pareceu justo. Mas, tal como a vida, Deus também não é justo.”

 

Este livro conta-nos a história de Edgar Adams, dos seus amigos, das suas famílias e da pequena comunidade onde vivem, que tinha tudo para ser pacifica mas não é.

Ed gosta de coleccionar coisas que não são dele, sem que mais ninguém saiba. Mickey é um amigo pouco honesto, com um irmão ainda menos honesto. Gav, o Gav Gordo, acaba numa cadeira de rodas. E Hoppo.

Entre o bullying, acidentes, violações, relações pouco prováveis e muitas outras coisas, acontece o pior: o corpo decepado de uma rapariga é encontrado no bosque por Eddie e a sua quadrilha.

Este foi o melhor livro deste género que eu li em muito tempo. Talvez tenha sido até mesmo o melhor de todos.

É um livro diferente, que não se fica pelo básico “morte-investigação” que tantas vezes vemos. Vamos conhecendo a história pelos olhos de Eddie do passado, com doze anos e do Eddie do presente, já nos seus 40 anos.

As personagens são complexas, muito complexas, com problemas complexos e reais. Todas tem os seus próprios problemas, todas têm o seu próprio segredo. E ao longo desta história vamos descobrindo os segredos de todos eles.

Aqui, o assassínio da rapariga não é o ponto fulcral do livro. Há muito mais a ler, muito mais a assimilar. Na verdade, já passava de mais de metade do livro quando percebi finalmente qual tinha sido a rapariga que fora assassinada. Não que isso tenha importância, na verdade mal tinha dado pela falta desse facto.

Nesta história todos são culpados de alguma coisa: os adultos, as crianças, os crentes e os médicos, não há ninguém isento de culpas. E acredito que qualquer leitor vai acabar por simpatizar pelo menos com um destes culpados, por se identificar com pelo menos uma destas personalidades tão complexas.  Além disso, não se trata apenas de conhecermos aquele universo, aquelas personagens. Há reflexões reais neste livro, é um livro que se estivermos atentos nos faz pensar, que não tem nada de superficial.

A escrita é fantástica, agarra-nos deste a primeira página e não nos larga até ao fim das revelações, que só terminam bem depois do crime desvendado.

Há muito tempo que não passava a noite acordada agarrada a um livro. Nesta leitura, não consegui evitar.

Livro muito, muito recomendado!

Livro na Wook

 

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