
“E, a partir daí, como quem repete uma palestra sabida de cor e salteado, começou, com toda a calma, a enumerar: os cães que sofrem com o calor, presos a correntes demasiado curtas à espera de água como quem espera pela salvação; os seus filhotes, que estão presos com correntes com meio metro de comprimento e que, com dois meses de vida, ainda não sabem andar; as ovelhas que dão à luz nos campos cobertos de neve, em pleno Inverno, e a única coisa que os seus criadores fazem é arranjar camiões para transportar os cordeirinhos enregelados; os restaurantes que conservam as lagostas nos aquários para que, com o apontar de um dedo, o cliente possa sentenciá-las à morte, indicando qual delas deve ser cozida vida;”
“Quanto a mim, muito me agrada a ideia de tratar o hábito da leitura de livros como um dever moral e fraterno, face ao próximo.”

Olga Tukarczuk nasceu a 29 de Janeiro de 1962 em Sulechów, na Polónia. Formada em psicologia, venceu em 2018 o prémio Man Booker Internacional e o Prémio Nobel da Literatura. Dela já falámos dos livros Outrora e outros tempos e Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos.
Viagens é o terceiro livro que leio desta autora e estou assumidamente fã. Admito que não era o que esperava. Viagens é um livro de pequenos textos, histórias com diversos protagonistas, aeroportos, diversos países. Basicamente, é um livro sobre a essência de viajar, sobre o que é sem nómada, peregrino, sobre o ir sem destino por aí.
Não é um livro fácil de ler. É um livro pesado, denso, mas muito apaixonante. Sem dúvida algo que os verdadeiros amantes de viagens vão adorar. Eu adorei, conseguimos sentir-nos no lugar daquelas pessoas, ver o que elas vêem, sentir o que elas sentem. Para mim, levou-me a ver as viagens sobre um ponto de vista totalmente diferente daquele a que estou habituada.
Em alguns momentos dei comigo a pesquisar algumas definições e lugares de que o texto falava porque pensava “Não, isto não pode ser real”. A verdade é que eram! Fiquei verdadeiramente surpreendida e encantada. Foi uma leitura dura, longa, mas que se transformou num abrir de olhos, de alargar de horizontes.
5*, recomendado!