Suícidas
Pablo Javier Pérez López

Em Suícidas o autor traz-nos uma breve antologia de poemas, cartas e textos de autores que se suicidaram. Aqui lemos Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Manuel Laranjeira, Mário de Sá-Carneiro, Florbela Espanca e Barão de Teive (heterónimo de Fernando Pessoa). Este livro impressionou-me muito. É maravilhoso, magnífico, encantador, mas é uma leitura que dói. Eu já conhecia muito dos textos que constituem esta antologia, particularmente os poemas, mas nunca tinha pensado neles enquanto conjunto, ainda menos na ligação temática que têm uns com os outros. E repito-me, isso deixou-me verdadeiramente impressionada. É um livro que nos traz uma curiosa intertextualidade e que transparece uma dor profunda, um desânimo, o desistir destes autores. Lindíssimo e ao mesmo tempo tão trágico. Depois, temos ainda Miguel de Unamuno como ponto de partida, uma vez que o autor referiu no seu livro Por Tierras de Portugal y España que o povo português era um povo trágico. Difícil é ler este livro e não acabar a concordar. Eu adorei esta obra, ao ponto de a adicionar à minha wishlist (li da biblioteca), mas compreendo que não é um livro para todos. Provavelmente é um dos livros mais tristes que alguma vez li. Recomendo. 5*. Livro preferido!
O Frigorífico da Magui
Lois Brandt
A Sofia e a Magui são grandes amigas: andam na mesma escola, vivem no mesmo bairro e brincam juntas no mesmo parque. Mas há uma grande diferença entre elas: o frigorífico! Pois enquanto o frigorífico da Sofia está sempre cheio, o da Magui está sempre vazio. A Sofia quer muito ajudar a Magui e a sua família, mas prometeu à amiga que não contava a ninguém… e agora? Não esperava que este livro fosse o que é. Mas é maravilhoso. A ilustração é excepcional, cheia de pormenores. E a história, apesar de triste e até certo ponto algo pesada pelo tema que trata, é incrível. Uma excelente forma de explicar às crianças que nem todos temos os mesmos meios e que por vezes há quem não tenha tanta comida. Um livro para falar de fome, de amizade e de solidariedade. 5*, muito recomendado!
Outrora e Outros Tempos
Olga Tokarkzuc

Outrora é uma aldeia que fica mesmo no centro do universo. Pelo menos para quem dela faz parte. É guardada por quatro Arcanjos, um a norte, outro a sul, outro a este e outro a oeste. Há quem acredite que não há nada para lá das fronteiras desta aldeia.. os que saem apenas sonham, os que entram são inventados pela própria fronteira. A única constante é o tempo e a sua passagem, o correr das estações e o avançar da idade destes aldeões. Eu li o Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos, da mesma autora, há algum tempo e ainda hoje me lembro daquela história. Lembro-me que naquela altura a maneira como a autora escreve e a história que construiu me impactou bastante. Não esperava que esta nova leitura pudesse superar a anterior, mas a verdade é que superou. Ler este livro trouxe-me a sensação de que estava a ler algo totalmente novo – e isso é dificil, eu leio imenso! Estranhamente esta é também uma história bastante simples – uma aldeia, duas guerras e a passagem do tempo. Já li algo assim, muitas vezes. Mas este livro é diferente. Primeiro porque a autora tem um dom único para misturar o real e o irreal. Os arcanjos existem mesmo naquele mundo? Podemos dizer que sim, podemos dizer que não. Talvez seja apenas um reflexo do nosso próprio mundo com umas metáforas meio mágicas à mistura. Ou talvez seja realmente uma aldeia diferente, de outro universo onde não existe nada para lá das fronteiras desta terra, onde por acaso as fronteiras recriam alguns acontecimentos semelhantes aos que aconteceram cá. Mas o verdadeiro dom desta autora está nas personagens. Todas elas são simultâneamente simples e complexas como cada um de nós. Nós podiamos ser as personagens de Olga – e ao mesmo tempo isso seria impossível. São personagens humanas, com virtudes e defeitos, que nascem, crescem, envelhecem e morrem. Personagens que se bamboleiam na linha entre a realidade e a ficção, a loucura e a sanidade. Não precisamos de as conhecer a fundo para as conhecer a fundo. E têm, entre elas, relações complexas. Coisas que se dizem sem ser ditas. Depois, é também uma história que reflete o que de pior há na humanidade. A guerra, a morte, a fome, a violação, o abandono… todos eles fazem parte deste livro mas estão tão enredados nas próprias personagens que quase não são vistos como o tema principal. O tema é o tempo. Tudo segue, a vida continua mesmo quando não se quer. Incrível. Excepcional. Uma autora que mereceu, sem sombra de dúvida, o Prémio Nobel da Literatura. 5* Faltou apenas, na edição, um mapa de Outrora e das suas fronteiras. Senti falta disso no início da história, quando a descrição é feita. Teria sido a cereja no topo do bolo.
Inquieta
Susana Amaro Velho

Eu, e admito isto como um defeito, não tenho por hábito ler livros de autores portugueses menos conhecidos. Entretanto, e apesar de nunca antes ter ouvido falar de Susana Amaro Velho, este livro chamou-me a atenção nas novidades da wook. Não sei se foi a capa (que acho linda), se foi a sinopse, ou se foi pelo facto de a autora ser portuguesa… o certo é que assim que o vi soube que tinha que o ler. Não foi o que eu esperava e não digo isto de forma negativa. Surpreendeu-me, muito, e deixou-me a pensar. É um daqueles livros que nos deixa a pensar. Aqui conhecemos Julieta. Julieta tem o casamento perfeito, um emprego que adora e uma melhor amiga espectacular. Alguns diriam que tem uma vida perfeita. Mas no início da obra Julieta encontra-se à beira de saltar de uma ponte… É um livro que fala de amor e de obsessão. De passado e presente e da forma como o que nos aconteceu lá atrás, no passado, nos molda ainda hoje. Este é um tema que me diz muito, mas que eu não considero fácil: a forma como o nosso passado afecta o nosso presente. Este livro fala disso e fala de uma forma brilhante. Julieta é, várias vezes ao longo da história, uma personagem capaz de irritar os leitores. Ela não segue em frente! Ela está de tal forma agarrada ao passado que não aproveita o presente! Ao mesmo tempo, conseguimos compreendê-la, pelo menos até certa medida… Mas depois vem o resto. Vem o fim do livro, vem a surpresa final e vem o tema central, que esteve sempre lá mas não totalmente a descoberto. Estava lá, mas o leitor podia ou não vê-lo. A doença mental. Um livro brilhante, muito bem escrito e uma leitura que agarra afincadamente o leitor. Muito, muito recomendado! Uma autora a manter debaixo de olho. 5*
Zog
Julia Donaldson
Zog é um dragão mas, como todos os dragões, tem de aprender a sê-lo. Afinal, ninguém nasce ensinado. Zog tem de aprender a voar, a cuspir fogo, a lutar e claro… a raptar princesas! Mas a princesa que ele rapta, Pérola, não gosta lá muito de ser princesa. Na verdade, ela aé tem outros planos e quem sabe se Zog não vai acabar por ser uma valente ajuda… Divertido e diferente, este livro conta com coloridissimas e brilhantes ilustrações euma história que é sem dúvida fora da caixa. Do mesmo autor de O Grufalão, não lhe fica nada atrás. Para os miúdos que gostam de histórias de dragões e princesas promete sem dúvida ser uma excelente diversão. Recomendado! 5*
O Silêncio
Don DeLillo

Em O Silêncio conhecemos um grupo de amigos (dois casais e um ex-aluno) que se reúnem para jantar.. Poderia ser uma situação corriqueira, perfeitamente normal, mas é então que o televisor de apaga. E os telemóveis, e os telefones. Os aviões caem do céu, os carros param, não há noticias nem eletricidade… Então, as personagens conversam. Sobre o que poderá estar a acontecer, sobre o passado, sobre o que é ser humano. Silêncio é um bom nome para este livro. Porque entre a conversa das personagens, aquilo que mais se ouve, que mais pesa, é o silêncio. Eles tinham uma vida perfeitamente normal, igual à nossa. E de repente, o mundo ficou em silêncio. Não há mais redes sociais, televisões, noticias, aviões… nada! O mundo ficou em silêncio. Até certo ponto, tive um pouco de inveja daquelas personagens. Não era mau um pouco mais de silêncio. É um bom livro, pequeno e interessante. Um bom ponto de vista sobre o nosso mundo, as personagens são interessantes e têm uma conversa interessante. Mas é um livro complexo, com personagens complexas, que não irá certamente agradar a todos. É preciso saber ler também o silêncio. 3,5*. Recomendado.
Fahrenheit 451
Ray Bradbury

Ray Douglas Bradbury nasceu a 22 de agosto de 1920 em Waukegan, Illinois, EUA e faleceu a 5 de junho de 2012 em Los Angeles na Califórnia. A maioria do seu trabalho é de ficção cientifica mas escreveu em diversas áreas. Fahrenheit 451 é a sua obra mais conhecida. Eu já tinha lido esta obra há alguns anos e, admito, na altura não gostei. Mas a leitura é como tudo o resto, algo para a qual é preciso maturidade. Acho que na altura não estava pronta paa aquela leitura, agora estava. E agora eu adorei este livro. Em Fahrenheit 451 conhecemos Montag, um bombeiro cuja principal função é queimar livros e as casas onde eles existem. No mundo distópico em que vive já não há incêndios e os livros são proibidos. Montag não acha estranho aquele trabalho e nunca se questiona sobre a sua função. Até ao dia em que conhece a jovem Clarisse, sua vizinha… Esta distopia continua a ser uma das mais importantes (e muitas vezes uma das mais atuais). O mundo de Montag é diferente, muito diferente do nosso. E ainda assim somos separados dele por uma linha muito ténue. Quantos livros não foram já proibidos, censurados e queimados no nosso mundo? muitos, sem dúvida. Uma obra magnífica, que se lê muito melhor do que se poderia pensar e que nos relembra a importância que os livros podem e devem ter na nossa vida. Bonito e empolgante. Recomendado. 4*
O Voo do Golfinho
Ondjaki
Esta é a história de um golfinho diferente, um golfinho que tinha um bico de pássaro e que lá no fundo sempre quis ser um pássaro. Até que um dia o Golfinho levanta voo e se transforma em pássaro. No céu ele conhece muitos outros pássaros que também não nasceram pássaros mas o quiseram ser: um gato que queria ser pássaro, uma serpente que queria ser pássaro… Um livro belíssimo, com uma história doce e comovente soberbamente bem escrita que nos lembra que todos podemos ser aquilo que quisermos ser. Uma obra verdadeiramente inspiradora. Muito recomendado! 5*
Vozes Femininas
Antologia de Escritoras Lusófonas
org. Ricardo Lourenço

Fui contactada pelo Ricardo Lourenço, criador do Projecto Adamastor e organizador desta antologia, pois conhecendo o blog ele considerou que esta seria uma leitura que eu iria gostar. E não podia estar mais certo. A Antologia Vozes Femininas reúne 13 contos de autoras lusófonas pouco conhecidas ou pouco valorizadas mas que desempenharam papéis importantíssimos na sua época. Sempre foi mais difícil uma mulher tornar-se escritora do que para um homem tornar-se escritor, quer pelas oportunidades editoriais, opiniões do público e tempo e lugar para escreverem (recomendamos sobre isso o livro Um quarto que seja seu) e isso era ainda mais notório na época em que estas autoras viveram. Eu, admito, não conhecia a maioria delas. E admito-o com pena, pois gostava de as ter conhecido há mais tempo. Os contos são belissímos! Eu ri e chorei (vá, ou quase) com estas histórias. A escrita é de mestre (em todas), o livro tem apenas 366 páginas (apenas, sim, eu achei pouquíssimo) e a antologia ainda nos dá, antes de cada conto, uma pequena e interessante biografia da autora que o escreveu. Li os treze contos e teria lido muitos mais, se os houvesse. É uma leitura que ensina, que inspira, que abre horizontes. Todas estas mulheres mereciam, sem dúvida, serem mais valorizadas e os seus textos mais lidos. Tem um tom muito lusófono, muito terra-a-terra, muito apaixonante. Sabe bem ler histórias que são tão “a nossa língua”. E em termos de estudos literários, é um livro interessantissimo! Esta obra merecia muito uma publicação em papel. Eu comprava! Muito, muito recomendado! 1000* Relembro que o ebook é gratuito! Por isso vão ler que não perdem nada, só ganham!
Sete minutos depois da meia-noite
Patrick Ness

Patrick Ness nasceu a 17 de outubro de 1971 na Virginia, EUA. É escritor, jornalista e conferencista e já foi professor de escrita criativa. Em Sete minutos depois da meia-noite conhecemos Conos O’Malley, um rapaz de treze anos que todas as noites tem o mesmo pesadelo e que certa noite começa a ser visitado, à 0h07m, por um monstro que é o teixo do seu jardim. Esse monstro vem para lhe contar três eestranhas histórias e, no fim, para ouvir a quarta história da boca de Conor, uma história que seja verdade. Acontece que a mãe de Conor está doente, muito doente. O pai mora na América e a avó não é uma avó muito comum. Sete minutos depois da meia-noite é um livro que pode ser considerado juvenil e jovem adulto e que fala de um tema extremamente difícil: a doença e a perda de uma mãe. É um livro que está magnificamente escrito, que tem aventuras e emoções na quantidade certa, uma história dolorosa mas bonita, de crescimento e aprendizado. E consegue fazê-la adequada para as idades dos leitores desta obra, sem se tornar fastidiosa ou desinteressante. Provavelmente, um dos melhores livros para estas idades que conheço. Muito recomendado! 5*
Ainda gostas de mim?
Jane Chapman
De um momento para o outro, o Serafim deixou de ser a coruja mais pequena da famíliaeagora tem de dividir as atenções da avó com a sua pequena prima, Bia. E ele não está a gostar nada disso! Será que a avó ainda gosta dele da mesma maneira? Ele acha que não. Um livro bonito e simples sobre o ciúme que é tão frequente nos mais novos quando chega u novo bebé à família. Terno, doce e inspirador, pode sem dúvida ser uma ajuda para lidar com a situaçãi e falar sobre isso com os mais novos. Recomendado. 4*
Contos do Além
Agatha Christie

Agatha Christie nasceu a 15 de setembro de 1890 no Reino Unido e faleceu a 12 de janeiro de 1976. É conhecida popularmente como a rainha do crime, pelos muitos e reconhecidos romances policiais que escreveu, como por exempo Um Crime no Expresso do Oriente e As Dez Figuras Negras. Contos do Além é um registo um pouco diferente daquilo que estou habituada a ler com Agatha Christie. Aqui não há os habituais assassinatos e as investigações pormenorizadas que estamos habituados a ver com as personagens habituais da autora. São contos de terror. Simplesmente. E são óptimos contos de terror! São contos calmos, que a pouco e pouco vão criando uma aura de suspense e mistério, com reviravoltas e pormenores surpreendentes e que no fim ficam a remoer no interior do leitor, lhe dão a volta ao estomago e com certeza vão ficar na memória. Muito recomendado. 4,5*