“O Thomas escolheu estar só, mas eu, que não queria renunciar à solidão, dei de caras com alguém que preencheu a minha vida, esbateu a individualidade dos meus despertares, , obrigando-me a aprender a adaptar-me à minha própria contradição. Partilha-se um beijo, um recanto secreto, uma confidência, um apartamento, e acabamos por partilhar a vida inteira. Até aqui, tudo sob controlo, de uma maneira ou de outra, gerimos a inércia; até que o acaso faz da suas e deixa à sua passagem apenas um monte de memórias deturpadas e a sensação de impotência por não conseguirmos nem voltar para trás nem seguir em frente. A minha solidão não pode ser como a do Thomas porque de mim se espera uma mudança, chapa e pintura nova nos arranhões que a vida me rasgou nas costas.”
“Cento e trinta e sete pessoas morrem em Paris devido aos ataques reivindicados pela organização terrorista Estado Islâmico, seis mortos em diversos choques frontais nas estradas em menos de vinte e quatro horas, a inundação de um rio provocou quatro mortes numa pequena localidade do sul de Espanha, houve pelo menos setenta mortos numa sequência de atentados na Síria. E nós sobressaltávamo-nos durante um instante […] Mas nós estavamos vivos, a morte era dos outros.”
“Carla. A força de um nome. Carla é um lugar, um acontecimento, um perfume suspeito, uma história, uma recordação amarga, gargalhadas roucas, uma suspeita que, provavelmente, sempre estivera presente. Carla é um mundo escondido.”
Marta Orriols nasceu em Sabadell, Espanha, em 1975. Vive em Barcelona, é historiadora de arte e autora do blog No Puc Dormir.
Em Aprender a Falar com as Plantas Paula é uma neonatologista e passa muito tempo no seu exigente trabalho. É casada com Mauro há 15 anos, uma relação duradoura que como todas as relações, teve os seus altos e baixos. Um dia Mauro convida para um almoço onde lhe diz que se quer separar porque há outra mulher na sua vida. Depois, ao sair para a rua, sofre um acidente e morre. Paula precisa então de enfrentar não um, mas dois choques repentinos: A traição e a morte do seu companheiro…
Aprender a falar com as plantas é um livro que fala sobre luto e confiança, sobre dor e boas recordações, sobre a perda, a solidão e a expectativa dos outros. Não é um livro excepcional, mas é um livro muito bom naquilo que se propõe fazer: falar sobre a perda e os complexos sentimentos humanos. No lugar de Paula, ainda amaria Mauro após a sua morte? Ou o ódio seria forte ao ponto de matar um amor de quinze anos em poucos minutos? E como agir com Carla, a nova mulher da vida do marido, quando ela chega ao saber da morte? Como se supera algo assim?
Não é um livro com uma história que se resolve milagrosamente no final, tal como a própria vida não é. Tem um bom final, um final que é um recomeço doce e agradável e parece-me a mim que foi o final ideal. A leitura é agradável e leve, embora a história tenha o seu peso. Senti que foi um livro que me veio parar às mãos no momento em que tinha de vir, o melhor momento. As personagens estão bem construídas, são humanas, podiam ser qualquer um de nós.
Um livro lindo que é ao mesmo tempo um abraço caloroso e uma chapada de realidade.
Muito recomendado! 5*
Que bonito! Pelo título eu não imaginaria que o livro traz tudo o que você apontou!
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É verdade, pelo título não dá para perceber. Foi uma óptima surpresa 😉
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