“Era o amor puro sem outro fim que o próprio amor. Sem posse e sem ciúme.”
“Passou toda a estação das chuvas a ruminar a sua desgraça de leitor inútil, e pela primeira vez se viu acossado pelo bichinho da solidão. Bicho astuto. Atento ao menor descuido para se apropriar da sua voz, condenando-o a longas conferências orfãs de auditório.”
“Tu não és um caçador. Muitas vezes os habitantes de El Idilio falam de ti chamando-te o Caçador, e respondes-lhes que isso não é verdade, porque os caçadores matam para vencer um medo que os enlouquece e os apodrece por dentro.”
Luis Sepúlveda nasceu a de 4 de Outubro de 1949 em Ovalle, no Chile. É um romancista, realizador, jornalista e activista político chileno. Em 1970 venceu o “Prémio Casa das Américas” pelo seu primeiro livro Crónicas de Pedro Nadie, e também uma bolsa de estudo de cinco anos na Universidade Lomonosov de Moscovo.
Em O Velho que Lia Romances de Amor conhecemos a história de Antonio José Bolívar Proaño, um homem que vive em El Idilio, um lugar remoto na região amazónica dos índios shuar. Com os índios aprendeu a conhecer a selva e as suas leis, a respeitar os animais que a povoam, mas também a caçar e descobrir os trilhos mais indecifráveis.
Um certo dia resolve começar a ler, com paixão, os romances de amor que, duas vezes por ano, lhe leva o dentista Rubicundo Loachamín, para ocupar as solitárias noites equatoriais da sua velhice anunciada. Com eles, procura alhear-se da fanfarronice estúpida desses “gringos” e garimpeiros que julgam dominar a selva porque chegam armados até aos dentes, mas que não sabem enfrentar uma fera a quem mataram as crias.
Quando me falaram nesta obra e eu a decidi ler, fi-lo sem ler a sinopse. Por isso entrei a leitura a imaginar que seria uma história singela, sobre um velho homem que se sentava num banco de jardim a ler romances de amor e a lembrar amores passados. Não podia estar mais enganada.
Não que Antonio não recorde o seu passado ao longo da história. Mas está longe de ser o velhote que imaginei.
Antonio é acima de tudo um homem sábio. Não conhece cidades grandes, não acredita em muitas das coisas que se passam para lá da sua selva, não tem bem a certeza sobre o que são gôndolas. Mas conhece a linguagem da selva, respeita os seus animais, obedece às suas leis.
Acho que só compreendi realmente qual era a intenção deste livro quando li o último parágrafo. E foi aí que a obra ganhou todo um novo sentido para mim. Talvez alguém mais atento que eu chegue lá mais depressa. Mas para mim esse choque foi o ponto forte da obra.
E tornou-a numa história linda, e triste.
Livro muito recomendado!