Ana Terra – Erico Verissimo

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“E, quanto mais o tempo passava, mais o marido e os filhos iam ficando como bichos naquela lida braba – carneando gado, curando bicheira, lançando, domando, virando terra, plantando, colhendo e de vez em quando brigando de espingarda na mão contra índios, feras e bandidos. Parecia que a terra ia se entranhando não só na pele como também na alma deles.”

 

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Erico Lopes Verissimo nasceu a 17 de Dezembro de 1905 em Cruz Alta no Rio Grande do Sul, Brasil. Foi um dos escritores brasileiros mais reconhecidos do século XX, era imensamente atento à identidade e aos problemas particulares do seu país e notabilizou-se com obras como ClarissaOlhai os Lírios do Campo e a trilogia O Tempo e o Vento.

Ana Terra é um dos episódios que integram O Continente, a primeira parte da trilogia O Tempo e o Vento de Erico Verissimo, ao qual se seguem O Retrato e O Arquipélago. Apesar de no total esta ser uma obra de uma dimensão razoável, é francamente possível ler alguns episódios isolados como é este de Ana Terra e foi isso que fiz. Originalmente, O Continente é dividido em dois volumes, O Retrato em dois volumes e O Arquipélago em três, ou seja são sete livros!

Em Ana Terra conhecemos a história de Ana, que se inicia em 1777. Ana vive isolada com os pais e dois irmãos. Os homens passam os dias na lida do campo e as mulheres na lida da casa. Não há relógios nem calendários e a passagem do tempo é algo um pouco vago, visto apenas pelo passar das estações. Os dias sucedem-se uns atrás dos outros, uns iguais aos outros, até que um dia Ana, já com 25 anos, encontra um homem ferido quando vai lavar a roupa. Esse homem é Pedro Missioneiro, que acaba por integrar o dia a dia da família de Ana. Dentro da sua solidão, Ana acaba por se envolver com Pedro e engravidar. Mas essa está longe de ser a maior reviravolta da sua vida…

Ana Terra conta-nos uma história dura, penosa. O trabalho diário no campo, o passar das estações, o isolamento, a insegurança, as pilhagens. E sabemos, mesmo lendo apenas este episódio, que esta história é apenas parte de uma história muito maior.

É uma obra com uma escrita acessível, que nos conta algo muito distante da nossa realidade actual, mas que ainda assim nos toca profundamente. Deixou-me um sabor a desespero na boca, não sei o que faria no lugar desta mulher, mas ela é sem dúvida uma personagem feminina extremamente forte e cativante.

Uma história triste e cinzenta, seca como a terra no Verão, que nos deixa um tremor amargo no peito e uma lágrima no canto do olho em algumas partes. Não sei se terei coragem de iniciar a leitura de O Tempo e o Vento, pela sua extensão, mas considerando que um episódio tão pequeno é tão maravilhoso, imagino que toda a história o seja também. Não sei se terei coragem, mas fiquei com vontade.

Muito recomendado! 5*

*Livros esgotados (mas há nas bibliotecas! 😉 )*

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