“Arriscado, pensou Paul D, muito arriscado. Uma ex-escrava amar algo assim tanto era perigoso, especialmente se dedicava uma amor desses aos filhos. O melhor, sabia ele, era amar só um pouquinho; amar tudo, mas só um pouquinho, pois, no caso de a coisa desaparecer, talvez ainda restasse um pouco de amor para a próxima.”
“Existe uma solidão que pode ser embalada. Braços Cruzados, joelhos dobrados; segurando, continuando, esse movimento, ao contrário do balançar de um navio. acalma e contém o que vai e vem. Há também a solidão que vagueia. Nenhum balanço pode contê-la. Está viva, sozinha. Uma coisa seca e disseminada que faz com que os passos de uma pessoa que anda pareçam vir de muito longe.”
“Com uma marreta nas mãos e, sob a liderança do Homem do Ai, os prisioneiros começaram o trabalho. Cantavam e batiam nas pedras, misturando as palavras de modo que elas não pudessem ser compreendidas, modificando as palavras para que as silabas adquirissem outros significados. Cantavam de tudo: canções sobre as mulheres que conheciam, as crianças que haviam sido, os animais que tinham domado; cantigas sobre capatazes e senhores, mulas e cachorros, a maldade da vida. Cantavam com amor músicas que lembravam cemitérios e irmãs há muito desaparecidas, porcos -do-mato, comida na panela, peixes no anzol, cana-de-açúcar, chuva e cadeiras de baloiço. E batiam. Nas mulheres, por terem-nas conhecido e agora não existirem mais; nas crianças que haviam sido e jamais voltariam a ser. Matavam os capatazes com tanta frequência que precisavam trazê-los de volta à vida uma vez mais para poderem esmagá-los de novo.”
Toni Morrison, nascida Chloe Ardelia Wofford a 18 de Fevereiro de 1931 em Lorain, nos Estados Unidos da América. Foi escritora, editora e professora. A sua obra Amada [Beloved], publicada em 1987, é o primeiro romance de uma trilogia que continua em Jazz de 1992 e Paraíso de 1997. Amada ganhou o Prémio Pulitzer de melhor ficção e foi escolhido pelo jornal americano The New York Times como “a melhor obra da ficção americana dos últimos 25 anos”. Toni Morrison ganhou ainda o Prémio Nobel da Literatura em 1993.
Em Amada conhecemos a história de Sethe, uma mulher negra, escrava e mãe de três filhos, grávida do quarto. Quando a fazenda onde ela, o marido e os amigos trabalham muda de dono, as suas vidas pioram drasticamente. É então que resolvem fugir, mas os seus planos são descobertos.
Sethe acaba por enviar os seus filhos à frente na fuga, ficando para trás em busca do marido, mas não o encontra. Quando finalmente resolve partir atrás dos filhos, vai empreender a fuga mais difícil da sua vida. Consegue chegar a casa da sogra, uma ex-escrava, onde já estão as crianças. Mas algures nesse tempo, a sua filha morre.
Encontramos Sethe dezoito anos mais tarde, ainda a viver na casa da sogra. Uma filha quase crescida, outra morta e os dois filhos fugidos de casa. A criança morta assombra a familia a ponto de afugentar os visitantes mais corajosos. Até que alguém a expulsa…
Mas a grande questão mantém-se: afinal, como morreu Amada?
Esta é uma obra dura e cruel, sobre uma realidade incrivelmente dolorosa. É um livro bem escrito, que se lê facilmente e que nos faz pensar que esta autora realmente mereceu o prémio nobel que recebeu. Agarra os leitores do inicio ao fim, tem reviravoltas que nos deixam de boca aberta e acontecimentos tão angustiantes que nos deixam de coração bem apertado. O maior choque é quando finalmente percebemos como morreu aquela criança.
Tem uma grande dose de paranormal mas ainda assim o que prevalece é a história de dor da escravidão, o pesadelo de perder um filho de uma forma tão cruel e um certo sabor a solidão acompanhada difícil de explicar.
É sem dúvida um livro excelente, que vale muito a pena ler!
Recomendado!
5*