“Agora estamos aqui, nesta sufocante tarde de Setembro, sentindo que as coisas que nos rodeiam são os agentes impiedosos dos nossos inimigos. O papá não tem com que se preocupar. Na realidade, passou a vida a fazer coisas como esta; fazendo a aldeia morder o pó, cumprindo os seus mais insignificantes compromissos de costas voltadas a todas as conveniências.”
A Revoada é o primeiro romance do colombiano Gabriel García Márquez. Foi publicado pela primeira vez em 1955 e é a primeira aparição literária de Macondo, o povoado que mais tarde veio a destacar-se nas obras de Gabo.
Nesta obra um velho coronel reformado, acompanhado da sua filha e do seu neto, sai certo dia de casa para enterrar um velho médico odiado pela população. Indo contra tudo e contra todos, a única coisa que ele quer é que o médico tenha um enterro digno. Mas porque será que a população quer deixar o médico por enterrar?
Já nesta primeira obra de Gabriel García Márquez se vê a forte presença que o realismo mágico viria a ter na sua obra. No entanto, e apesar de eu adorar as obras de Gabo, este está longe de ser o meu preferido.
A narrativa começa em média rés ou seja, as personagens já estão à beira do médico morto quando começam a recordar e a contar-nos a sua vida. Para mim pessoalmente, neste ponto tornou-se um pouco estranho, porque fez com que passassem muito tempo a velar o falecido.
Achei esta obra um pouco parada, quieta e isso fez com que demorasse muito mais tempo com esta leitura do que esperava, apesar de até ser um livro relativamente pequeno. No entanto a escrita de Gabo continua lá, é boa e o realismo mágico continua a ser algo que adoro. O médico era uma personagem meio odiosa mesmo e não sei se concordo totalmente com a opção do coronel de ir contra tudo e contra todos para lhe fazer um último gesto bondoso. Mas também não me parece que a opção da população seja a melhor, a de deixar o médico insepulto como castigo pelos seus actos.
Uma história um pouco dúbia.
De qualquer das formas acho que tão depressa não vou conseguir esquecer o médico que só comia relva. Uma personagem que mesmo já estando morta, é uma personagem marcante.
Livro recomendado!
3*