“E pela primeira vez a sua humanidade dura teve consciência do mistério da vida e da morte, e das forças cósmicas que aproximam os homens e os fazem amar-se uns aos outros.”
“A caneta parecia-me na mão o cabo endiabrado de uma vassoira de feiticeira. Voei, não há dúvida.”
“Mas era inútil. Não há remédio para a dor que deixa toda a agressão à pessoa que se quer amar ou destruir.”
“E, diante do fruto imaculado de tanto amor e de tanto ódio, por instantes, foram ambos pequeninos e fracos como o filho.”
Esta é a história do Senhor Ventura, alentejano de Penedono, soldado raso, desertor, que corre o mundo entre fomes e esperanças, fortunas e misérias, passado e futuro. É uma história de um homem cheio de vontade de ver o mundo, com um espírito de aventura indomável, e um dom para o desenrasque que só podia ser português.
Depois de ler Bichos, de Miguel Torga, admito que esperava mais. Mas como o próprio autor diz no prefácio deste livro, ele escreveu-o numa fase muito diferente da sua vida, com mais de 40 anos de diferença da altura da publicação.
E isso, de certa forma, nota-se na escrita. É um livro muito mais singelo do que Bichos, muito mais humilde, muito menos emocionante. Mas não é mau.
A escrita de Miguel Torga, já na época em que escreveu esta história, era fantástica. Com poesia na voz, tanto fala de coisas boas como más, do nascer de um filho ou da criação de um negócio de droga.
É um livro que nos encanta do inicio ao fim, que mesmo ao falar de coisas amargas tem um sabor doce. É um livro com o tom exótico do oriente e o sabor salgado do mar, que vale muito a pena.
Não acho que seja o melhor livro deste autor, de forma nenhuma. Mas acho que o Miguel Torga não tem nenhuma obra que possamos dizer que não é boa. É um livro bom sim, mas em que se nota a inexperiência que tinha na altura.
Mesmo assim, recomendo fortemente!
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