“Houve dias na cidade em que regressei a casa com os pés esgotados de não andar e a cabeça exausta de não ter pensado coisa alguma. Foram dias imóveis em que fiz o que não quis e não fiz o que gostaria de ter feito. Houve dias na cidade em que, chegado a casa, tomei banho só para me livrar de mim, ralo abaixo. Depois vieram os dias em que já não havia na cidade a casa a que supunha voltar. ”
Li este livro há já algum tempo, porque tinha de ler um livro de um autor português. Ler por obrigação dá sempre um certo desânimo logo para começar, mas este livro acabou por se revelar uma surpresa fantástica.
José António Barreiros é advogado e conhecido sobretudo pelos seus escritos juridicos e com teor histórico. Este livro vem num registo diferente. É um livro de contos, eu diria mais, é um livro de contos sobre solidão.
Se procuram um livro alegre, não o vão encontrar neste. Este é um livro em que cada palavra traz uma nostalgia diferente, um livro que nos faz sentir perdidos e sós dentro de nós mesmos, que nos faz olhar para a solidão (a nossa e a dos outros) como uma velha amiga que nos entra pela casa adentro frequentemente, sem sequer pedir.
E é um livro lindo. Não é de leitura fácil, é um livro para ler devagar, mas que ainda assim vale cada minuto. Eu diria até que é um livro de contos tipicamente português: cheio de nostalgias e de saudades. É um livro de contos, em prosa, que se saboreia como se fosse poesia.
E, ainda assim, é um livro muito pouco conhecido. Porquê? Francamente, não sei. Mas se não conhecem, recomendo que passem a conhecer. Leiam. Este é um daqueles livros que se devia ler pelo menos uma vez na vida.
Livro muito recomendado!!