Comecei a ler este livro na segunda-feira. Terminei de ler este livro na segunda-feira. Isso só por si já diz muito de um livro, não é?

Este foi o primeiro livro de Kafka que li. Tenho de admitir que tinha vontade, mas sempre deixei para depois porque sempre pensei que os livros do Kafka eram livros difíceis.

Mas eu não achei, de todo, que este fosse um livro difícil. A escrita é directa, quase factual. A história, apesar de inusitada, não podia ser mais simples e no entanto, a metáfora (as metáforas) que nos sugere são intensas.

Em primeiro lugar, falemos sobre a abertura deste livro.

“Quando numa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos inquietos, viu-se na cama transformado num monstruoso insecto.”

E pronto, o leitor está agarrado na primeira frase. Simples. E numa frase, na primeira frase, Kafka apresentou-nos o problema, trouxe-nos o mistério, escreveu o climax da história e mostrou o que é ser realmente kafkiano. Poderoso!

Depois, a história.

De início Gregor era o filho e irmão amado, o único sustento da família, que estava disposto até a continuar num trabalho que não gostava para conseguir pagar as dividas dos pais. Então Gregor acorda transformado num insecto gigante e tudo muda.
Sem poder trabalhar e nem sequer comunicar-se com a família, a distância entre eles aumenta cada vez mais. Os que antigamente diziam amar Gregor, agora temem-no, têm nojo dele. E a transformação que libertou Gregor do seu mal amado trabalho, agora prende-o cada vez mais entre as paredes sufocantes do seu quarto.

É um livro fácil de ler em termos da escrita em si, mas é preciso lê-lo com atenção para o compreender. É preciso “olhá-lo com olhos de ver”. E é um livro que nos causa um aperto no coração, uma sensação de revolta mesmo dentro daquela situação tão estranha.

Livro recomendado! Não tenham medo de Kafka!