É para esta vida justamente
que o homem deveria ter vindo ao mundo
a palma grande como uma duna
os ombros altos como duas dunas
a língua vasta como uma praça
mil olhos em vez de dois
mil milhas atravessadas a cada passo
Mas somos como vedes assim
e só a morte nos livrará das correntes
ou só ela reacenderá as perguntas
Mourid Al-Barghouti
Hoje temos para quem nos segue mais uma opinião sobre mais um livro da colecção Poesia traduzida da editora contracapa. Já passaram pelas nossas estantes as antologias de poemas noruegueses, dinamarqueses e finlandeses. Ainda passarão os poemas árabes, argentinos e russos. Mas por agora, vamos falar de As pedras têm entranhas?, uma antologia de poemas palestinianos.
O curioso desta colecção é perceber o quanto a poesia varia de país para país. Tudo, desde temas a ritmo e métrica, muda de um para outro. A tradução destas obras para o português é algo que louvo sem qualquer tipo de dúvida: não deve ser fácil de fazer.
Sobre os poemas palestinianos: ao contrário do que acontece muitas vezes com a poesia, o tema principal não é o amor. Também não acontece como com os poemas noruegueses e dinamarqueses, um sofrer de desejar a morte. Aqui, somos tocados pela realidade que transparece da poesia: percebemos que quem nos escreve vive em condições dificeis, tem uma história dificil e quer contá-la. No entanto, aqui, o sofrimento é um dado adquirido. É o que é. A normalidade.
São poemas belissimo, com uma métrica muito diferente daquilo a que estamos habituados por cá mas que vale a pena conhecer.
Recomendado. 5*
Deixe um comentário