Laura e Júlio
Juan José Millás

Laura e Júlio eram um casal perfeitamente normal. Um dia, Manuel muda-se para o apartamento do lado e o casal depressa se torna chegado ao novo vizinho. Tão chegado que quando Manuel é atropelado e entra em coma, algum tempo depois, Júlio ironiza dizendo que parecem “ter ficado viúvos”. O que ele não estava à espera é que pouco depois Laura lhe pedisse o divórcio, motivada por um segredo que carrega com ela. Essa estranha reviravolta leva Júlio a intrometer-se na vida e na casa de Manuel, assumindo uma nova identidade… Ler esta obra trouxe-me, de novo, a sensação de estar a ler A Insustentável Leveza do Ser. É um livro sobre o amor (e a falta dele), sobre monotonia, compromisso, acomodação e opressão. É um livro que nos relembra o quão frágeis são as relações humanas e a própria vida, o valor do tempo que temos com quem amamos e a importância de sermos verdadeiros connosco e com os outros. Tem uma trama que não agradará a todos, bem como o seu final. É uma leitura calma, que corre devagar. Conhecemos a história através do olhar de Júlio e ele não é um homem que se deixe levar pelos seus impulsos. Atrevo-me a dizer que a maioria dos leitores não se irá apaixonar por esta personagem acomodada que tem pouca vontade própria. Ele só quer ficar onde está, mesmo que o sitio onde está não seja o que pensou inicialmente. Recomendado. 3*
E se? Os monstrinhos da dúvida
Emily Kilgore
A Beatriz é uma menina muito ansiosa. Os Monstrinhos da Dúvida, os E Se? não a largam! E se ele tropeça? E se se esquece? E se tudo corre mal? E se ninguém gostar dela? Então, ela encontra uma amiga, a Sara, que lhe vai mostrar que há outros E Se? muito mais interessantes… Este é um livro verdadeiramente excepcional sobre ansiedade, uma história encantadora e com ilustrações maravilhosas, excelente para falar com os mais novos sobre este tema tão pesado que são os nossos medos e ansiedades. Quem sabe não consegue realmente mudar os E Se? de algumas crianças… Recomendadíssimo! 5*
As Raparigas de Papel
Louise O’Neill

Nesta distopia as mulheres deixaram de nascer naturalmente. Agora são criadas artificialmente e geneticamente modificadas para serem o mais atraentes possíveis para os homens. E para elas, existem apenas três futuros possíveis: o de companheiras, aquelas que se casarão com os homens para gerarem filhos homens; o de concubinas; e o de professoras. Neste mundo desigualitário e opressivo onde o que importa é a beleza, as raparigas tem de ser as melhores. Um livro originalmente publicado como As Filhas de Eva. Este é um livro que nos fala de temas polémicos: a ditadura da beleza, a pressão pelos pares, a importância de nascer homem ou mulher. É uma leitura fácil e voraz, que nos toca pela proximidade que tem com o nosso mundo real. É praticamente uma metáfora aos nossos dias e quase podia acontecer. Apesar de ser fácil de ler – demasiado fácil, talvez – é um livro que tem algumas partes mais pesadas, principalmente no início. Quando percebemos porque é que as mulheres deixaram de nascer naturalmente por exemplo, ou quando vemos as meninas aconselharem-se umas às outras sobre os seus defeitos, é difícil. Mas há muito mais de difícil nesta história. Não me encheu totalmente as medidas, no sentido em que eu esperava uma leitura mais aprofundada. Queria saber mais sobre aquele mundo, como é que as pessoas chegaram ali, o que aconteceu com o meio ambiente. Queria saber o que acontece depois das evas saírem das escola, quais são os papéis e a vida de cada fracção. Algumas coisas poderiam ser tratadas e explicadas de outra maneira. O mundo que a autora construiu está lá e faz sentido, apaixona o leitor, mas é como se tocássemos apenas a superfície e faltasse algo. Deixa-nos com sede de mais. A determinada altura percebi que estava à várias páginas apenas a ler sobre maquilhagem, comprimidos e redes sociais e isso não chegava. Livro recomendado. 3*
As boas raparigas não sobem na vida
Drª Lois P. Frankel

Lois P. Frankel é uma reconhecida psicoterapeut com anos de experiência na area dos recursos humanos. É também a fundadora da Corporate Coaching International. Em As Boas Raparigas não Sobem na Vida Lois traz-nos os 101 erros que as mulheres mais cometem no que ao mercado de trabalho diz respeito, dividido por áres. O livro começa também com um pequeno teste psicológico para a leitora perceber em que áreas comete menos erros e aquelas onde precisa de se esforçar mais. É um livro que pode ser lido apenas em partes ou como um todo. As Boas Raparigas não Sobem na Vida é um livro de uma leitura fácil, rápida e deliciosa, em que a autora explica os erros, como os resolver e muitas vezes traz ainda exemplos reais que observou nos seus anos de experiência. Por vezes, a leitora tem tendência para acabar a rir-se de si própria, tamanha é a identificação. Mas no fundo percebe-se que o que a autora diz é verdade, a verdade nua e crua, dita sem preâmbulos. Um livro que é sem dúvida uma ajuda para as mulheres que querem destacar-se mais no mercado de trabalho mas não sabem como melhorar nem o que fazem de errado. E também um livro para ter na estante, pois o mais provável é que acabe por voltar a ele uma e outra vez. Muito recomendado. 4,5*
O Jardim
Anna Walker
A família de Ema muda-se do campo para a cidade e ela não pode levar o seu jardim. Agora, está cercada por caixas feias, prédios e mais prédios e espaços abertos que têm apenas pedras. Então, ela encontra um jardim, mas está fechado. Mas algo espreita desse jardim, algo que pode ajudá-la a… criar o seu próprio jardim! Um bonito livro, com ilustrações bonitas e inteligentes, sobre o amor ao campo e às plantas e sobre a importância da perseverança. Ema queria o seu jardim… e consegue-o! Recomendado! 5*
Um crime da solidão
Andrew Solomon

Andrew Solomon nasceu a 30 de outubro de 1963 em Nova Iorque. É escritor de política, cultura e psicologia e também já colaborou em publicações como o The New York Times, The New Yorker, Artforum, Travel and Leisure, entre outras. Em Um Crime da Solidão Andrew fala-nos sobre o suicídio. A partir de diversos casos de suicídio quer de famosos quer de pessoas da sua esfera pessoal Andrew desenvolve um relato e uma análise ao tema que nos põe a pensar. Afinal, o que leva uma pessoa a um desespero tão profundo? Um crime da solidão é um livro pequeno e que se lê de um sopro, mas não é uma leitura fácil. É um livro pesado, difícil de digerir, que nos enrola o estomago. E é um livro verdadeiramente incrível, na medida em que nos põe realmente a refletir sobre este tema complicado e que tantas vezes ainda é um tabu. Muito, muito recomendado. 5*
Tenho mesmo, mesmo de fazer chichi!
Karl Newson
Ele tem mesmo, mesmo de fazer chichi! Está tão apertadinho que os joelhos até tremem e batem um no outro. Mas onde fazer? Conseguirá chegar a tempo a uma casa de banho? Devia era ter feito antes de sair de casa, ele sabe… Um livro divertidíssimo, que não traz nenhuma mensagem especial mas que também não precisa. A ilustração é simplesmente genial e a parte em que mostra as casas de banho de diversos animais é brilhante. Muito bom! Recomendado! 4*
A grande fábrica de palavras
Agnés de Lestrade
Esta é a história do Filipe, um menino que vive num estranho país: um país onde para falar, é preciso comprar as palavras. Como os pais de Filipe não têm muito dinheiro, ele não tem palavras suficiente para dizer à Sara que está apaixonado por ela. Ainda assim, há ações que valem mais que mil palavras, não é? Um bonito livro sobre o valor das palavras e dos gestos, sobre ler nas entrelinhas e sobre o amor. Uma história verdadeiramente encantadora! Recomendado! 3*
A Educação de Eleano
Gail Honeyman

Gail Honeyman é uma escritora escocesa nascida em 1972. Estreou-se com o livro A Educação de Eleanor. Eleanor é uma mulher de trinta anos que tem um trabalho aborrecido e leva uma vida extremamente solitária, sem família nem amigos. A mãe, que vive presa algures, liga-lhe uma vez por semana só para a atormentar. Eleanor estabeleceu uma rotina mais do que previsivel: trabalha de segunda a sexta, sexta à noite compra pizza e vodca, e passa o fim de semana em casa. O único traço que parece destacar-se na personagem são as suas cicatrizes de queimaduras, do incêndio a que milagrosamente sobreviveu na infância e do qual ela nunca fala… E Educação de Eleanor é um livro que, à primeira vista, eu descreveria como triste. É um livro sobre saúde mental, sobre traumas e infâncias pelas quais ninguém devia passar. Eleanor está escondida na sua rotina porque é essa a sua forma de se proteger do mundo, e talvez ela não esteja totalmente errada ao fazê-lo. É um livro sobre as coisas grandes, como o amor e a morte, o trauma e a dor; mas é também um livro sobre coisas pequenas, como um toque no ombro, palavras cruzadas ou o ir a um concerto. É um livro verdadeiramente brilhante. Escrito para poder ser lido por qualquer pessoa, é uma leitura fácil e corrida mas que nos põe a pensar sobre temas importantes. Talvez o leitor comece por ter dificuldade em habituar-se a Eleanor, esta personagem tão conformada, tão pacata, quase chata. Mas no fim vai querer apenas ter como a tirar do livro, só para lhe dar um abraço. Excelente. Livro recomendado! 5*
Mario e o Mágico
Thomas Mann

Thomas Mann nasceu a 6 de junho de 1875 na Alemanha e foi escritor e critico social. Foi o vencedor do Nobel de Literatura de 1929 e é considerado um dos maiores romancistas do século XX. Uma das suas obras mais reconhecidas é A Montanha Mágica. Em Mario e o Mágico conhecemos uma família que vai de férias para a cidade italiana Torre di Venere. Tinha tudo para ser umas férias tranquilas mas ao longo da sua estadia a família vai-se deparando com alguns problemas. No culminar da trama a família vai assistir ao espéctaculo do mágico Cipolla, onde também se encontra o jovem Mario. Um espectaculo que não termina bem… É um livro pequeno e fácil de ler. Eu fiquei particularmente encantada com a escrita do autor nesta obra, pois apesar de ser bastante explicativa – ele conta-nos o que aconteceu, mas não nos insere na acção – não se torna demasiado complexa ou desinteressante. Thomas Mann relata-nos simplesmente os factos da sua ficção. Pode parecer de início, ou até mesmo no desenrolar da trama para um leitor mais desatento, que é uma história corriqueira, sem grandes mensagens. Mas a verdade é que através deste pequeno livro Thomas Mann, como todos os grandes autores da literatura, nos traz recados importantes. Aqui, em particular, sobre ditaduras. O mágico (e hipnotizador) da trama é capaz de criar no público obediência e admiração, sentimentos e desejos, tal como os grandes ditadores da história conseguem. Um livro pequeno mas valioso, que vale a pena ler de olhos e mente atentos. Recomendado. 4*
Obsessão
Madeline Stevens

Ella tem 26 anos e não parece ter um futuro brilhante pela frente. Abandonada pela mãe ainda criança, vive agora afastada do pai, está desempregada e falida ao ponto de ter de engatar homens para que estes lhe paguem o jantar. É então que consegue um emprego como ama de William, um bebé filho de um casal rico da zona, James e Lonnie. Ao entranhar-se na vida desta família Ella começa a ter estranhos sentimentos. Lonnie tem a vida perfeita e sempre teve tudo de mão beijada; ela própria parece perfeita. Quando encontrei este livro peguei-lhe, admito, com uma certa empolgação. Nunca tinha ouvido falar dele antes, mas parecia ser exactamente o tipo de policial de que eu gosto. Bem, enganei-me. A escrita da autora é boa e empolgante. No início da leitura eu acreditei realmente que aquilo ia levar a qualquer lado. Mas li, li e li e não passou de lado nenhum. Ella é estranha, Lonnie é estranha, bem como as personagens que as cercam. A determinado momento pensei se a obra iria acabar por falar de saúde mental, mas a verdade é que não trouxe nenhuma explicação para nada. Há personagens que aparecem e desaparecem só porque sim, situações que não entendi para que serviam e cenas de sexo que me deixaram com a sensação de que a autora estava só a tentar introduzir ali à força algum género de climax. No fim, dei comigo a pensar em que género se insere esta obra. É um policial que não tem um crime? Um romance que não fala de amor? Ou uma espécie de literatura erótica fora do comum? Talvez a história tenha alguma mensagem ou objectivo que não percebi. Mas francamente, mesmo que seja isso, também não fiquei interessada em esforçar-me para perceber. A determinada altura estava verdadeiramente aborrecida a ler, e só não desisti porque já tinha lido tanto que queria levar aquilo até ao fim. Quem sabe se não haveria alguma reviravolta no final, não é? Bem, não há. Não contem com reviravoltas. Não recomendo. 2*