Dodô
Felipe Nunes
Laila tem seis anos e a mãe está tão ocupada a tentar que tenham comida na mesa que Laila não vai sequer à escola. No meio da sua solidão, Laila obsrva o jardim que fica à beira da sua casa. Então, um dia, um estranho pássaro vê Laila e decide morar com ela. Mas o Dodô não é um pássaro como os outros: é um pássaro muito doido e… capaz de comer qualquer coisa! Por breves momentos o leitor pode pensar que este é um livro divertido de banda desenhada, mas a verdade é que isso não passa de uma ilusão. Dodô é um livro sobre solidão, sobre tristeza, sobre uma criança sozinha num mundo que ainda não entende totalmente. E é também um livro sobre o amor adulto, ou a falta dele. Sobre as complicadas relações entre casais, sobre esperar e desistir. Dodô tem um fim que eu não vi chegar – de repente, já lá estava. Um fim tocante e profundo, que dá um peso diferente ao livro e deixa um sentimento de revolta no coração de muitos leitores. Recomendado.
O Destino de Fausto
Oliver Jeffers
Um dia Fausto decidiu que queria ser dono de tudo. Começa por dizer à flor “Tu és minha!” e a flor cede. Depois uma ovelha, uma árvore, um lago e uma montanha. Sentindo-se cada vez mais confiante Fausto avança em direcção ao mar, para o tornar também a ele, seu. Mas será que Fausto entende realmente o mar? Poderá alguma vez possuí-lo? Ao ler esta história tive, por momentos, a sensação de estar novamente a ler A Árvore Generosa, de que falei aqui e que eu francamente odeio. O Fausto desta história é muito parecido com o menino-homem da história da Árvore Generosa. São personagens egoístas, centradas nos seus próprios desejos, que não pensam nunca nos outros. Não vou dizer que O Destino de Fausto não é um livro bem escrito. É lindo, se o observarmos desse ponto de vista. Mas tal como com A Árvore Generosa, não percebo o porquê da sua existência. As crianças têm muito tempo pela frente para se confrontarem com personagens pessoas assim. Porque temos de lhes incutir tão cedo esta informação? É um livro bonito mas não esperava este livro vindo do Oliver Jeffers. Não é um livro que eu recomende a não ser que seja devidamente trabalhado, por psicólogos ou professores com os conhecimentos adequados. E o fim da história só o torna mais pesado. Não recomendo. 2*
Livro de receitas dos lugares imaginários
Alberto Manguel
Em Livro de Receitas de Lugares Imaginários Manguel dá-nos diversas receitas das histórias que conhecemos da literatura. Desde Hogwarts a Sangri-la, desde as Minas do Rei Salomão ao País das Maravilhas, com este livro o leitor pode aprender a fazer e saborear os mesmos pratos que os nossos personagens favoritos saborearam. Uma grande dúvida que eu tinha antes de ter este livro nas mãos era se as receitas eram realmente executáveis ou se seriam, também elas, imaginárias. Bem, são totalmente executáveis, algumas tremendamente simples até. É perfeitamente possível criar refeições literárias através deste livro. E provavelmente, bastante divertido. Ainda não testei nenhuma, mas vou testar em breve. A edição é em capa dura, bastante cuidada e cada receita traz também uma breve explicação da “sua origem”. Muito recomendado! 5*
Naufrágio
João Tordo
Em Naufrágio conhecemos a história de Jaime Toledo, um romancista caído em desgraça por dois grandes motivos: um cancro na bexiga e a acusação, por parte de várias mulheres, de assédio sexual. Este é um livro que tem tudo para ser um livro polémico. Primeiro, porque fala de um tema que está na ordem do dia: o assédio e o movimento #metoo. Depois, porque o narrador da história é o assediador e não a vitima. Foi uma leitura que me surpreendeu. A partir do momento em que percebi o tema e quem era o narrador, fiquei à espera de odiar aquela personagem. Mas a verdade é que isso não aconteceu. Jaime Toledo é um homem caído em desgraça, sozinho e incrívelmente humano, com um lado bom e um lado mau. E ele próprio está apenas a aprender a lidar com isso, um pouco como todos nós. Não é, simultâneamente, uma personagem que me apaixone, que queira defender ou salvar. Ele cometeu erros, crimes. Merecia pagar por isso. E até certo ponto, ele paga: os seus livros são retirados do mercado e ele dá por si sozinho, pobre e meio louco. Fosse ele como o pintor Rafael, outra personagem da história, e sem dúvida que seria odiado. Depois, temos o final do livro, que eu pessoalmente achei brilhante. A narrativa caminhou sempre no mesmo sentido e, de repente, temos a surpresa final. Surpreendeu-me. Não estava sequer à espera de uma surpresa, quanto mais daquela. Se calhar até esteve sempre lá e eu é que estava distraída… Muito recomendado! 5*
Petit, o Monstro
Isol
Petit é um menino bom. E um menino mau. Ele faz coisas boas. E faz coisas más. Às vezes, parece que quanto mais Petit se esforça para fazer coisas boas, pior corre. Mas a verdade é que ele não é o único assim. Os colegas também são meninos bons… e maus! Até a mãe, é boa… e por vezes é má! Um livro engraçado sobre a dualidade que todos nós temos em nós, sobre o nosso lado bom e o nosso lado mau. Um livro para mostrar às crianças que ninguém é só uma coisa ou outras mas que todos somos muitos coisas. Recomendado. 3*
Mulheres de Sal
Gabriela Garcia
Jeanette está em recuperação. Tem uma relação dificil com a mãe, Carmem, e decidi partir para Cuba em busca da avó, com quem a mãe não fala. Antes, Jeanette tinha acolhida Ana, uma criança cuja mãe foi presa e deportada. Mas Ana acaba por ir juntar-se à mãe e, no México, encontram uma vida dura à espera delas… Mulheres de Sal é um livro sobre mulheres, mulheres com histórias de vida difíceis. É um livro sobre imigração e deportação, sobre sonhos destruídos e esperanças vãs. É um livro que corre de mãe para filha, de avó para neta, de prima para prima, entre vizinhas. É um livro sobre mulheres, sobre a vida delas e sobre as suas relações. É uma leitura agradável, embora as histórias pesem. O livro está muito bem escrito e é fácil vermo-nos no papel daquelas personagens. O que fariamos? Um livro que alerta para questões atuais, que fala de temas difíceis, que serve para todos nós pormos uma mão na consciência. Nem todos têm a mesma sorte ao nascer… Recomendado. 3*
Marketing digital de A a Z
Vasco Marques
Vasco Marques é licenciado em Gestão e Negócios e especializado em Sistemas de Informação e e-Business. Em Marketing Digital de A a Z o autor ensina a melhorar o marketing digital, desde o início do negócio/página. É um livro denso, repleto de conteúdo interessante, que ensina tudo, desde o básico sobre as diversas plataformas até técnicas mais avançadas de SEO e marketing. Primeiro, dá-nos um panorama sobre sites e plataformas e depois fala-nos sobre a utilização das redes sociais. Já li mais livros sobre este tema, porque é algo que me interessa com o blog. Mas este foi sem dúvida o mais completo. É um livro para se ler uma, duas, três e mais vezes, de tanta coisa que nos ensina. E é um livro a que, provavelmente, vamos voltar. Muito útil, sem dúvida uma obra de referência a ter na estante. Muito recomendado! 5*
A Árvore
Britta Teckentrup
O mocho espreita da sua árvore em pleno inverno. Observa a natureza. Aos poucos a neve derrete e dá lugar à primavera, depois ao verão, depois ao outono e então é inverno novamente. Os animais e a árvore, o campo e o mocho, todos acompanham o rodar das estações. Este livro perfurado sobre o passar das estações é um daqueles livros que não têm como desiludir, de tão completos que são. A história, maravilhosa, é em rima, o que tende sempre a prender a atenção dos mais novos; a ilustração é maravilhosa, com muitos pormenores; e tem ainda a cereja no topo do bolo que é o ser um livro perfurado, o que o torna ainda mais dinâmico. Excelente! 5*
Balada para Sophie
Filipe Melo e Juan Cavia
Julien Dubois sonhava ser pianista e desde cedo a sua vida girou em torno da música. Era o melhor. Até que surge François e Julien percebe que não é assim tão bom. Acaba a tocar música banal, de que não gosta mas que o vai enriquecendo. E acaba apaixonado por Anne-Marie, a mulher de François. Ao longo desta história vemos o velho músico, já reformado e a viver numa grande mansão com uma governanta e um gato, contar a história da sua vida a Adeline, uma jornalista. Mas, afinal, quem é Sophie…? Balada para Sophie é um livro pura e simplesmente brilhante. É uma história de amor, de desilusão, de alegrias e tristezas. É a história de um músico e da sua música e também a história da Europa, entrelaçadas uma na outra. É sobre traumas e novas esperanças, sobre maldade e bondade, sobre superação e perdão. É um livro que nos deixa com um nó no estomâgo. Sentimo-nos no lugar daquele personagem e… bem, o que fariamos? Ele comete erros, imensos erros, como todos nós. Mas continuamos a gostar dele. O final do livro é lindíssimo. Não posso dizer que me tenha surreendido, mas posso dizer que era exactamente assim que queria que terminasse. Maravilhoso! A ilustração é também incrível, e a composição final difícil de igualar. Sem dúvida um livro para ter na prateleira. 5*. Livro muito recomendado e favorito!
Larga quem não te agarra
Raul Minh’alma
Larga quem não te agarra não é o meu tipo de leitura habitual. Resolvi experimentar esta leitura porque sei que tem sido um sucesso e achei que devia tentar. Mas não se vai tornar numa leitura habitual. Larga quem não te agarra é um livro que não tem história. A sensação que tive era a de que estava a ler o diário de um adolescente apaixonado. Sim, os textos são muito bonitos e tocantes, muito bem escritos e a leitura é fácil e rápida. São bons textos para quem procura isso mesmo: uma divagação amorosa. Mas nada mais. Não há uma história. Não sabemos porque o narrador diz as coisas que diz. Não tem um começo, meio ou fim. A ordem dos textos poderia ser outra, que seria a mesma leitura. Não é mau. Só não é algo que eu goste ou esteja habituada a ler. É claramente um livro para as massas, um livro que quem procure uma leitura fácil e leve vai gostar. Lê-se, mas não irei ler mais do género tão depressa. Recomendadinho. 2.5*
Como ser um leão
Ed Vere
Dizem que só há uma forma de ser um leão: ser feroz! Mas Leonardo é um leão e não concorda nada com isso. Ele gosta mesmo é de pisar a relva, pensar e escrever poemas com a sua amiga a pata Mariana. Conseguirá ele provar aos outros leões que os leões também podem ser assim? Cada um é como é e é precisa respeitar isso. Leonardo é um leão diferente, mas nem por isso menos leão que os outros. Um livro bom para falar com as crianças sobre as diferenças e as semelhanças entre todos nós. E muito, muito bem escrito e ilustrado! Recomendado. 4*
Doramar ou a Odisseia
Itamar Vieira Junior
Itamar Vieira Junior nasceu a 6 de agosto de 1979 na Bahia. Venceu o Prémio LeYa em 2018, o Prémio Jabuti em 2020 e o Prémio Oceanos em 2020 com o seu primeiro romance, Torto Arado, de que falamos neste link . Doramar ou a Odisseia é o seu segundo livro, desta vez um livro de contos. Nas 13 histórias que compõem esta obra encontramos várias personagens que podiam ser qualquer um de nós, que são tão humanas como todos nós, com amores e felicidades, dores e desalentos. E são, todas elas, personagens extremamente sofridas. Este é um livro sobre sofrimento. Um livro denso, com personagens que o leitor dificilmente irá esquecer, e um livo sobre sofrimento. Desde o carrasco ao homem que é morto pelo carrasco, a escrava fugida e o homem preso para a vida, cada uma destas histórias tem, só por si, o poder de deixar o leitor com uma lágrima no canto do olho e um nó no coração. É um livro tremendamente bem escrito, em que cada palavra tem poesia, e é também um livro denso de histórias marcantes, para se ler com muita calma, para apreender lentamente. Eu adorei o Torto Arado e estava com a expectativa muito alta para a leitura deste segundo livro. Não me sinto desiludida. É um livro que é exactamente aquilo que eu esperava: marcante, impressionante, apaixonante. Admito que gostei mais do Torto Arado, principalmente porque sendo um romance tem uma história mais longa, onde conhecemos melhor cada uma das personagens. Com estes contos, dei comigo muitas vezes com a sensação de “quero mais”. Quando me estava verdadeiramente a apaixonar pelas personagens e pelas histórias, o conto acabava. É uma leitura que vale muito a pena! Recomendado, 5*
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