“Nunca vim a saber se Moscovo é uma cidade bela, porque a beleza das cidades só existe refletida nos olhos dos seus habitantes, e os moscovitas olham insistentemente para o chão, como se procurassem uma terra inútil perdida debaixo dos pés.
Não há nada mais triste que os velhos que, com a cabeça metida entre os onbros e os olhos colados ao asfalto, não esperam absolutamente nada, a não ser que um espírito caritativo lhes compre algumas das mil e uma ninharias expostas em cima de lenços, de toalhas de banho e de mesa ou de sobras do enxoval nupcial.”
(p. 95)
Luis Sepúlveda nasceu a 4 de outubro de 1949 em Ovalle, no Chile e faleceu a 16 de abril de 2020 vitima de covid19. Foi escritor, realizador, jornalista e ativista político. Dele já falámos de O Velho que Lia Romances de Amor.
Em Rosas de Atacama o autor traz-nos 35 histórias, “histórias marginais”, as histórias que ninguém conta. O mote para esse livro é uma inscrição que o autor encontrou gravada numa pedra no campo de concentração de Bergen Belsen, “Eu estive aqui e ninguém contará a minha história”.
São histórias curtas, que se lêem de enxorrada, que conquistam e apaixonam o leitor. A voz do autor, tão caracteristica, não falha nesta obra. Sepúlveda traz-nos histórias que são ao mesmo tempo muito pés na terra e muito poéticas. Tristes, em grande parte, também. É uma mistura de livro de viagens, livro de prosa poética, livro de testemunho.
Aqui o leitor dá consigo nos sitios que o autor lhe apresenta, a conviver amigavelmente com cada uma das personagens. Personagens em que a maioria de nós nunca pensaria se não fosse este livro. Esta é uma daquelas obras que distrai, ensina e desenvolve empatia.
Recomendado. 4*