As velas ardem até ao fim – Sándor Márai

Wook.pt - As Velas Ardem Até ao Fim

Livro Físico

O palácio encerrava tudo, como um grande túmulo ornamentado, talhado em pedra, em que ossos de gerações se deterioravam, onde se desfaziam vestidos fúnebres de mulheres e homens de outros tempos, de seda cinzenta ou de pano negro. Encerrava em si também o silêncio, como um preso religioso que apodrece desmaiado na palha pútrida, numa masmorra, de barba comprida, esfarrapado e coberto de bolor. E encerrava a memória, a memória dos mortos que se ocultavam nos recantos ocos dos quartos, como se ocultam os fungos, a humidade, os morcegos, as ratazanas e os insectos nas caves húmida das casas muito velhas. Sentia-se nos puxadores das portas o tremor duma mão, a emoção dum momento passado quando a mão hesitava em puxar essa maçaneta. Todas as casas onde a paixão tocou as pessoas com a sua força arrebatadora se enchem desse conteúdo obscuro.

Sándor Márai - Portal da Literatura
Sándor Márai

Sándor Márai nasceu a 11 de abril de 1900 em Kosice na Eslováquia e faleceu a 21 de fevereiro de 1989 na Califórnia. Apesar de ter alcançado um enorme sucesso, devido a questões politicas a sua obra esteve proibida na Hungria durante alum tempo.

Um era rico, o outro pobre. Conheceram-se na escola e tornaram-se os melhores amigos, uma daquelas amizades raras e difíceis de encontrar. Mas então algo doloroso acontece e os dois homens desta história afastam-se e não se vêem durante quarenta e um anos. Quando se voltam a reencontrar, no palácio do homem rico, há antigas perguntas que ainda estão por fazer. Eles já não são o que eram, o palácio já não é o que era. E a amizade? Será que ainda existe? Poderá uma amizade sobreviver a algo assim?

Falaram-me imenso deste livro antes de eu o decidir ler. Talvez por isso as minhas expectativas estivessem demasiado altas. A verdade é que é um bom livro: tem uma boa história, segredos que vamos descobrindo na altura certa, uma mulher misteriosa, uma amizade inquebrável mas que afinal… quebra! Os cenários deste livro, as descrições, o palácio, é o que ele tem de mais belo, sem sombra de dúvida. Mas isso leva a descrições longas que eu admito, não adoro.

Traz-nos, também, alguns importantes e humanos dilemas. O amor, a amizade, a passagem do tempo, a velhice. Os caminhos que escolhemos seguir são sempre uma faca de dois gumes. E se não tivesse sido assim? As personagens estão bem criadas, sobretudo os dois homens que estão no centro da acção. É uma história calma, que conhecemos através de recordações.

Recomendado! 3*

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