“Aqui há muito silêncio, mas é um silêncio cheio de caos e loucura. Tento recordar-me do som das abelhas. Tento encontrar alguma luz, fechando os olhos e imaginando os campos e as colmeias. Mas depois lembro-me do fogo e lembro-me do Firas e do Sami. Os nossos filhos foram para onde estão as abelhas, Nuri, para onde estão as flores e as abelhas. Alá protege-os, até que possamos vê-los novamente quando esta vida terminar.”
“Encontrei um espaço entre as árvores. Havia ali uma sensação de tranquilidade que me era desconhecida; na Síria, o silêncio significava perigo, podia ser despedaçado a qualquer momento por uma bomba, ou pelo som de disparos, ou pelos passos pesados dos militares. Lá longe, na direção da Síria, a terra tremia.”

Christy Lefteri nasceu em Londres, é filha de refugiados cipriotas e voluntária num centro da Unicef de apoio aos refugiados em Atenas, experiência que deu origem à obra O Apicultor de Alepo.
Nesta obra conhecemos Nuri e a sua fuga da Síria com a esposa Afra, que ficou cega após a morte do filho de ambos. Numa busca desesperada por uma vida melhor que lhes permita acima de tudo manterem-se vivos e em paz, as personagens deste romance vivem uma dura duplicidade de sentimentos: a dor pela vida que perderam, a vontade de desistir e a esperança numa possivel vida melhor noutra terra que os aceite, onde possam recomeçar.
Este é, acima de tudo, um livro extremamente humano. As dores imensas e os sofrimentos pelos quais estas personagens passam são quase inimagináveis. Ainda assim são reais, e a autora expõe esta realidade sem a tornar demasiado cruel, dando a quantidade certa de poesia à sua prosa sem fugir da realidade. Poético, comovente, encantador, adorável e claro, díficil de ler, não pela escrita em si mas por ser algo tão duro.
Nuri, a sua família e os seus amigos viviam uma vida normal e isso era tudo o que queriam. Então, a guerra começou e a vida como a conheciam acabou. Perderam amigos, perderam familiares e trabalhos. Viram as suas vidas em perigo, foram obrigados a fugir por terra e por mar, arriscando mais uma vez a vida porque ainda assim era melhor o risco de partir do que a hipótese de ficar. E, claro, foram julgados no lugar de destino.
Uma escrita deliciosa e poética, uma história dura e comovente, um livro que me conquistou logo na primeira página e já não me deixou escapar.
Muito recomendado! Na verdade, este é provavelmente um livro que todos deveriam ler, nos dias que correm!
5*