Afinal, o que faz um bibliotecário? Faz a biblioteca!
Sim, a resposta de hoje à nossa pergunta é um bocadinho diferente. Mas é uma das maiores verdades que já aqui escrevi.
Um bibliotecário é o que conhece o fundo que representa e consegue trazer ao leitor o livro que ele quer, mesmo quando ele não sabe que livro quer. É aquele a quem pedem um livro de capa azul e acabam por ter nas mãos o livro que pretendiam. É o que arruma livros eternamente sem nunca se cansar, o que ajuda quem precisa a preencher os documentos que precisa, o que vos dá os bons dias e todas as indicações que pedem. Um bibliotecário é aquele que ensina o leitor a pesquisar os livros que precisa, que instiga o leitor a ler mais e melhor a cada dia, que faz atividades de promoção da leitura.
Mas não é só isso. É muito mais.
Eu já vi bibliotecários a darem comida a crianças que não tinham o que comer, a fazerem currículos de quem não os sabia fazer; a ensinarem idosos a mexerem pela primeira vez num computador para falarem com os filhos que estão longe; a apoiarem comunidades carentes em tudo quanto era educação ou burocracia; a darem explicações a crianças e adultos que de outra forma não as podiam ter. E muito mais.
E é isso que é uma biblioteca. Uma sala de estar para todos, um porto de abrigo que acolhe desde a pessoa mais rica, mais formada e com mais possibilidades à pessoa mais pobre e com mais necessidades. Sem olhar a quem, nem porquê.
Uma cabine telefónica com livros não é uma biblioteca, tal como uma máquina de snacks não é uma pastelaria. Uma cabine telefónica com livros é só uma cabine telefónica com livros, tal como uma máquina de snacks é só uma máquina de snacks.
Dizer que inauguraram uma biblioteca quando o que inauguraram foi uma cabine telefónica com livros é desmerecer o trabalho das bibliotecas e dos bibliotecários de uma forma que eu nem sei por onde começar a explicar.
E ok, é muito giro ter uma cabine com livros. Podia até ser útil, se a cidade não tivesse já uma biblioteca com um fundo quase astronómico proveniente do depósito legal; vários pólos dessa biblioteca nas juntas de freguesia, alguns dos quais até com esse mesmo sistema de troca gratuita de livros em vigor; e um desses pólos não se situa-se quase mesmo à beira dessa dita cabine.
Entendam-me, eu não tenho nada contra cabines de livros nem contra nenhum partido político. Nunca aqui referi preferências políticas e não o vou fazer agora. Mas uma cabine telefónica com livros não é uma biblioteca e esta cabine é particularmente inútil. Nem sequer vou falar da pouca importância que estes políticos dão às bibliotecas reais. Nem vale a pena.
Então, o que faz um bibliotecário? Faz a biblioteca, pois claro.