“Deu-se conta, atónico, de que o meio século que haviam passado juntos escorrera num galope vertiginoso. Por e para onde tinham sumido todos os dias e todos os anos vividos a dois? O futuro sem ela era o imenso quarto vazio, sem portas nem janelas, que lhe surgia em pesadelos. Sonhava que fugia da guerra, do desfile do sangue e dos corpos mutilados. Corria e corria para longe, na noite, e de súbito avistava-se naquele quarto hermético, onde estava a salvo de tudo menos de si próprio. Abandonou-o a tenaz energia que o animara nos meses anteriores, quando se sentia invulnerável ao peso da idade. A mulher que tinha ao lado envelhecia também em poucos minutos. Pouco antes era ainda como a recordava e como sempre a recordaria: a jovem de vinte e dois anos com um recém-nascido nos braços, a que com ele casara sem amor e que depois o amara mais do que ninguém no mundo. A sua companheira de sempre. Com ela vivera tudo quanto valia a pena ser vivido.”
Isabel Allende nasceu a 2 de Agosto de 1942 em Lima, no Peru. No entanto, a sua nacionalidade é chilena, tendo-se tornado cidadã norte-americana em 2003. É filha de Francisca Llona e de Tomás Allende, funcionário diplomático e primo-irmão de Salvador Allende, médico e politico social democrata chileno. Em 1982 A casa dos espíritos, o seu primeiro romance, converteu-se num dos títulos míticos da literatura latino-americana. Seguiram-se muitos outros, todos êxitos internacionais. A sua obra está traduzida em trinta e cinco línguas, foi galardoada com o Prémio Nacional de Literatura do Chile e homenageada por Barack Obama, com a Medalha Presidencial da Liberdade a mais importante distinção civil daquele país.
A história de Longa Pétala de Mar começa em Espanha no final da década de 1930, quando a vitória iminente das tropas franquistas na Guerra Civil obriga milhares de pessoas a abandonar o país, entre eles Víctor Dalmau e Roser Bruguera. Roser, viúva do irmão de Víctor e com um filho pequeno nos braços, acaba então por se casar com ele para que os três possam embarcar no Winnipeg, um navio fretado pelo escritor Pablo Neruda para transportar estes espanhóis para o Chile. Victor e Roser passam as décadas seguintes no Chile, até serem forçados a novo exílio…
Esta é uma história com dois lados. De um, a história da Espanha, do Chile, da guerra, do mundo. De outro, a vida que levavam estes migrantes, as suas tentativas de integração, os seus sentimentos…
Este é um romance realmente muito bom. Aqui, Isabel Allende consegue contar-nos sobre a história e a politica de vários países, sem o tornar demasiado denso e sem perder o cunho pessoal, o sabor a romance e a doçura dos amores quase correspondidos. Víctor e Roser, assim como todos os que os cercam, passam por muito ao longo dos anos. Acompanhá-los até ao fim, ver como termina não só a guerra mas as suas próprias vidas, dá ao leitor a sensação de que sabe tudo, viu tudo, e isso sabe muito bem. É bonita também a forma como cabe tanta coisa numa única vida.
Foi uma boa leitura, sem ser demasiado ligeira. Uma leitura que serviu para aprender muito sobre esta parte da história e que é, ao mesmo tempo, um romance que distrai. Um livro que me agarrou do início ao fim.
Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura.
Muito recomendado!
5*