“Em Auschwitz morrer era muito fácil. Sobreviver era um trabalho a tempo inteiro.”
“A raiva e o ódio são sementes das quais germina a guerra. O perdão é a semente da paz. É o derradeiro ato de autorregeneração. Vejo o perdão como o cume de uma montanha muito alta. Um lado é escuro, sombrio, húmido e muito difícil de escalar. Mas aqueles que se esforçam e chegam ao topo podem ver a beleza do outro lado da montanha, que está coberto de flores, de pombas brancas, de borboletas e da luz do sol. Lá do cume, podemos ver ambos os lados da montanha. Quantas pessoas escolheriam voltar a descer pelo lado sombrio em vez de passear pelo lado soalheiro e coberto de flores?”
As gémeas Eva e Miriam Mozes nasceram na Roménia em 1934. Em 1944, quanto tinham apenas 10 anos, a sua família foi obrigada a entrar num dos temidos comboios para Auschwitz. Por serem gémeas verdadeiras foram separadas dos pais Alexander e Jaffa e das duas irmãs mais velhas logo à chegada e seleccionadas para as terríveis experiências do Doutor Mengele, o Anjo da Morte. Nunca mais viram a sua família.
Em Auschwitz os gémeos de Mengele tinham um estatuto diferente. Viviam numa caserna à parte e não precisavam de trabalhar. Mas as terríveis experiências matavam muitos deles, ou deixavam consequências para toda a vida. Eram medidos, injectados com doenças e, se um morria o outro era muitas vezes morto rapidamente, para que se pudesse fazer uma autópsia em simultâneo. Entre muitas outras coisas.
A primeira sensação que tive quando o livro me chegou às mãos foi que era mais pequeno do que eu esperava. Isso, em conjunto com o facto de ser uma escrita fácil de ler, fez com que o lê-se em dois dias. É sem dúvida uma leitura rápida.
É também uma leitura concisa. A história de Eva e Miriam é contada de forma rápida, sem entrar em muitos pormenores. Conseguimos perceber as privações que passaram e o sofrimento que conheceram, mas sem termos realmente o estômago revirado com descrições muito gráficas. Eva conta as suas memórias exactamente como aquilo que são: memórias.
O facto de ela vir a público recordar aquilo por que passou parece-me a mim um acto extremo de coragem. Mas mais que isso, é também uma mensagem linda sobre perdão. Em 1995 Eva escreveu e leu uma declaração pessoal de perdão ao Drº Munch, outro dos médicos de Auschwitz. O final desta obra é exactamente sobre esse tema. É uma mensagem de perdão.
A atitude de Eva faz-nos sentir pequenos, na mesquinhez do nosso dia a dia. Elas passaram por tanto, e Eva perdoou os que a feriram. Nós andamos tantas vezes aqui só a complicar, por coisas tão pequenas…
Uma bonita obra, com uma importante mensagem.
Recomendado!!