“Naquele momento eu soube o que era a plebe, com muito mais precisão do que quando, anos antes, ela mo perguntara. A plebe éramos nós. A plebe era aquela luta por comida e vinho, aquela altercação sobre quem é que devia ser servido primeiro e melhor, aquele chão sujo que os criados de mesa pisavam para a frente e para trás, aqueles brindes cada vez mais ordinários.”
“Não tinha saudades do meu pai, dos meus irmãos, da minha mãe, das ruas do bairro, dos jardins. Só sentia falta de Lila, Lila que não respondia às minhas cartas. Receava que lhe acontecessem coisas, boas ou más, sem eu estar presente. Era um receio antigo, um receio que nunca me passara: o medo de que, perdendo bocados da vida dela, a minha perdesse intensidade e importância.”
A Amiga Genial é a história de Elena e Nina, duas raparigas que se conhecem na primeira classe. O livro acompanha o crescimento delas, a sua formação e a formação da sua personalidade, bem como os acontecimentos do bairro em que vivem.
Uma das vantagens de trabalhar numa biblioteca é a forma como isso nos dá consciência do que as pessoas gostam mais ou menos de ler. Há livros que nunca são pedidos. Outros, saem constantemente.
A Amiga Genial é um desses livros que sai constantemente, muitas vezes há fila de espera para ler esta obra. E isso foi algo que sempre me intrigou porque, vamos ser francos, a capa deste livro é feia. Senão feia, pelo menos extremamente desinteressante.

Sim, eu sei, não se julga um livro pela capa. E foi por isso que depois de tantas vezes esta capa chata me passar pelas mãos eu me decidi finalmente a lê-lo.
A escrita de Elena Ferrante é uma escrita seca, directa, os factos estão lá e pronto. É assim e acabou. Eu não costumo gostar disso mas para esta história em particular essa é uma grande vantagem. É um livro duro, poído como seria a calçada do bairro de Elena e Lila.
As relações entre as personagens são extremamente complexas, principalmente entre Elena e Lila. Todo o bairro é complexo, profundo, realista. São tantos, tantos sentimentos misturados…
A certa altura dei comigo a pensar se esta seria ou não uma história verídica. Elena Ferrante é um pseudónimo e a sua identidade verdadeira é desconhecida. Isso cria toda uma aura de mistério em torno da história e das personagens que só serve para melhorar ainda mais o livro e a leitura. É claro que há suspeitas, mas nada confirmado.
Eu adorei esta obra. Nem sempre adorei Lila, nem sempre adorei Elena, mas admito que estou bastante curiosa para ler os livros seguintes e saber o destino destas personagens. Como é óbvio, o livro termina na melhor parte.
Só não digo que entrou para a minha lista de livros preferidos porque tenho medo que a história descarrile nos livros seguintes. Veremos…
Muito recomendado!
4/5*