Ficam já avisados que isto hoje é em forma de desabafo. Podem desistir já.

Eu sou uma pessoa de filmes de terror. 98% das vezes que vou ver um filme, escolho filmes de terror. Como o meu namorado 98% das vezes que escolhe, escolhe filmes de acção, então, são basicamente esses os dois únicos géneros que vimos.

Mas hoje eu achei que não me apetecia ver terror nem acção e resolvi ir procurar um filme diferente. Que desilusão!

O primeiro que encontrei foi o Isn’t it romantic. Supostamente o filme é sobre uma jovem arquitecta que se empenha para ser reconhecida pelo seu trabalho e entretanto se apaixona. Pensei “boa, um filme sobre uma mulher bem sucedida”. Pois sim, está bem.
O filme começa com a mãe da personagem principal a dizer-lhe que “mulheres como elas” nunca vão ser bem sucedidas no amor porque não são “nenhuma Julia Roberts”. Depois, a tal arquitecta bem sucedida chega ao escritório e o que faz? Recolhe o lixo dos colegas, dá recados, entrega cafés e doces, assobia aos “gajos bons” e mostra-se bastante reticente (medrosa, fraca e cobarde!!) em relação a ir a uma reunião expor as suas “brilhantes” ideias. Não fosse o colega – homem, provavelmente gay – a empurrá-la e decerto nem lá punha os pés. É preciso dizer que parei de ver o filme aí? Não, pois não?

Resolvi fazer uma segunda tentativa, sei lá porquê. Desta vez encarei com o Second Act. Verdade seja dita, esta personagem é relativamente mais confiante que a anterior. Aqui temos uma mulher sem formação superior mas com 15 anos de experiência em vendas, que pensa que vai ser promovida mas acaba por não ser. No lugar fica um homem, que (cliché dos clichés) é um autêntico tótó mas tem formação superior. E o que faz ela? Nada! Nadinha! É o seu afilhado que envia o seu currículo às escondidas e faz com que ela consiga um emprego bastante melhor. E isto eu até deixava passar, não fosse o que se passa a seguir. Sabem como conseguiu ele o emprego, sabem? Com mentiras. Um currículo falso, um facebook falso, um website falso, todos eles repletos de mentiras…

Aham. A sério, Hollywood?

E que tal um filme sobre uma mulher bem sucedida profissionalmente, em que não se fale do corpo dela (se é gorda, magra, feia ou bonita), que tenha conseguido o seu lugar graças ao mérito do seu trabalho e não ande com metade das mamas à mostra para ajudar? Um filme com uma personagem feminina forte e confiante, que suba a custo mas sem desistir e sem precisar de um empurrão de qualquer espécime masculino?

Vou voltar a ver filmes de terror. Assassinos e fantasmas não são tão estupidamente sexistas.

Para terminar, deixo um exercício que vi outro dia num vlog brasileiro. Para fazer pensar.

Olhem para a vossa estante. Quantos livros têm? Apontem esse número.

Agora, subtraiam todos os livros que foram escritos por homens. Quantos ficaram?

Agora, dos livros escritos por mulheres que têm na vossa estante, quantos têm uma personagem principal que é uma mulher? E em quantos desses livros há mais do que uma personagem relevante que é uma mulher?

Nos que cumprem essas condições, em quantos é que essas duas ou mais mulheres conversam umas com as outras?

E em quantos conversam elas sobre algo que não seja só filhos, homens, casamentos ou moda e compras?

Quantos livros têm, na vossa estante, escritos por mulheres, em que existam duas ou mais personagens mulheres que conversem umas com as outras, em algum momento, sobre politica? Ou sobre a sociedade? Não precisam de falar só sobre isso, podem falar sobre homens e filhos, mas também têm de falar sobre isso.

Eu não vou dizer qual foi o meu resultado. É demasiado vergonhoso.