Deflagrou no início desta semana, na Catedral de Notre Dame em Paris, um incêndio avassalador. Uns, dizem que foi acidente; outros, que é impossível que tenha sido acidente. O certo é que esta catedral, com séculos de história, que sobreviveu a duas guerras mundiais e viu Napoleão coroar-se a si próprio no seu altar, ardeu.
Será, certamente, reconstruída. Mas a catedral é, em certa medida, como nós próprios: podemos reconstruir-nos quantas vezes forem precisas após uma tragédia, mas nunca mais voltaremos a ser exactamente os mesmos que éramos antes.
Por isso, em homenagem a este marco da humanidade, hoje falamos do aclamado romance de Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris. Com este livro, em que o ponto central é a própria catedral, Victor Hugo conseguiu, em 1831, que Notre Dame fosse restaurada em vez de demolida.
A história passa-se em Paris, na idade média, e conta a história de Quasimodo, o sineiro corcunda da Catedral e de Esmeralda, a bela cigana por quem se apaixona.
Este livro é uma homenagem à catedral de Notre Dame, é uma critica à sociedade da época e à religiosidade.
Todos nós já ouvimos falar de Esmeralda e Quasimodo, normalmente graças ao filme da Disney o Corcunda de Notre Dame. Mas não se enganem. Esta história, a história original, não é como a história do filme da Disney. É mais pesado, todas as personagens têm em si o bem e o mal e nem sempre o bem vence. O fim, então, não tem nada a ver com o filme.
A leitura não é fácil, nem muito fluída. Basta ter em conta a época em que foi escritor para perceber porquê. Mas vale muito a pena, sem dúvida.
Livro recomendado!
Um dos factores que me fazem ler romances escritos nos séculos passados, é precisamente por ter a certeza que assim estarei a ler considerações, em viva voz, da época tratada. Ou seja, quando se lê um livro de Eça, Hugo, Dostoievsky, Tolstoi, Dickens, Cervantes, Homero, etc, na prática estamos a ler considerações da época e não considerações efectuadas nos dias de hoje, originadas por pesquisas. E isso é de uma riqueza tal que me faz confusão como é que esses clássicos são por vezes desprezados.
E um desses casos é precisamente a obra de Hugo “Nossa Senhora de Paris”, obra que trata uma época vital para a História da civilização e que, por outro lado, teve o condão de impedir a destruição de uma Catedral importantíssima da Nossa História.
Um outro caso que me ocorre agora, é a obra “Cântico de Natal” de Dickens. Com essa obra, Dickens ressuscitou o Natal e revitalizou toda uma tradição que perdura nos nossos dias, pese embora de uma forma mais comercial. Mas, para além de tratar magistralmente a época, Dickens trouxe o Natal de volta à tradição europeia numa época onde o Natal era somente visto como uma época de jejum e idas à missa.
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Eu acho que muitas vezes não é desprezo, mas antes medo. As pessoas têm medo de ler determinados autores e livros, porque eles têm fama de ser difíceis. Mas quase ninguém o admite também…
Entretanto, ontem consegui que as duas edições que há na biblioteca de Nossa Senhora de Paris fossem requisitadas. Só por isso já ganhei a semana 😉
Os livros têm um estatuto demasiado alto em muitas mentes, quando deviam ser objectos do dia a dia, com que as pessoas lidassem com à vontade. Só quando lidarem totalmente à vontade com livros e autores, quando não tiverem medo de tentar ler, é que esses clássicos vão circular mais. Mas talvez seja uma utopia…
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Não será antes preguiça?
Num tempo em que toda a gente quer tudo feito já, onde uma geração inteira vive num modo de “mastigar e deitar fora”, onde se consome de forma monstruosa informação condensada na internet sem se preocuparem de analisar mais profundamente, penso que, hoje em dia, se vive em constante preguiça mental e intelectual.
Concordo que existam clássicos cuja má fama os persegue, mas basta navegares por blogues e vlogs para te aperceberes que a maioria lê livros de fraca qualidade assente em histórias de consumo rápido.
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Sim, também há muitos casos de preguiça. Infelizmente
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