“Antes de a minha mulher se ter tornado vegetariana, sempre pensei nela como alguém que não tinha rigorosamente nada de especial. Para dizer a verdade, quando nos conhecemos, nem sequer me senti atraído por ela.”
Este livro conta-nos a história de uma mulher absolutamente normal, submissa, que nunca se tinha revoltado com nada nem feito nada de especial. Tinha um trabalho sem emoção, um casamento sem amor e não discutia com o marido, deixando-o viver a sua vida como bem entendesse, limitando-se ao seu papel de esposa submissa. Até ao dia em que tem um sonho e resolve tornar-se vegetariana.
Antes de ler A Vegetariana, vi diversas opiniões sobre ele na internet. É um livro que tem sido muito falado nos últimos tempos e que desperta sempre uma de duas reacções: ou o leitor ama e ele se transforma num dos seus livros preferidos, ou o odeia. Foi essa dualidade que me deixou curiosa e me fez pegar no livro.
Bem, não gosto de dizer isto mas tenho de dizer: eu faço parte do segundo grupo.

Suponho que posso dizer que este livro é uma hipérbole. Uma grande hipérbole, perdoem-me a redundância.
Tudo neste livro é estranho, à beira do surrealismo. Os sonhos da personagem principal, a decisão dela de se tornar vegetariana por causa de um sonho, a forma drástica como o faz, a reacção do marido, a reacção da família que lhe mete comida pela boca abaixo… Tudo neste livro é exagero. As personagens, tem dois tipos: ou são totalmente submissas e não discutem de todo, ou sempre que aparecem na história é porque vai haver discussão.
É uma história que beira a loucura, mas nem a forma como beira a loucura faz sentido.
Apesar de tudo isso, e apesar de eu realmente ter odiado ler este livro, tenho de reconhecer que tem qualidade literária.
Está bem escrito e a leitura é fluída. E rápida, felizmente, ou eu provavelmente teria desistido da leitura antes de terminar.
Para além disso, dá para ver através de toda aquela loucura, a intenção da autora. Esta história é uma forma de luta contra a repressão. Vários tipos de repressão. É uma forma irónica e hipérbolica de ela chamar a atenção para certas injustiças e de as enfrentar de frente.
Mas nem com a forma como ela faz isso eu consigo concordar. Acredito que a intenção tenha sido boa, mas este livro, na minha opinião, vinca mais certos estereótipos do que aqueles que enfrenta.
Porque é que a mulher submissa que enfrenta o que a submete tem de se tornar louca, ou porque é que uma vegetariana tem de ser uma mulher que gosta de andar nua pela casa e que se recusa a usar sutiã? Estereótipos. O homem que trabalha com vídeos e arte é meio tarado, estereótipo. E podia desencantar vários outros, mas nem sequer me apetece.
Acredito que a intenção da autora tenha sido a de lutar contra esses estereótipos. Mas pessoalmente, acho que não resultou, pois sei que há muitas pessoas que não o iam compreender dessa maneira.
Conclusão: é um livro com qualidade literária, um livro de extremos de que francamente eu não gostei nada.
Não recomendo.
2/5*