“E sem lhe dar tempo de sentir pânico libertou-se da matéria podre que o impedia de viver. Confessou-lhe que não passava um momento sem pensar nela, que tudo o que comia e bebia tinha o sabor dela, que a vida era ela a toda a hora e em todos os lugares, como apenas Deus tinha o direito e o poder de ser e que o prazer supremo do seu coração seria morrer com ela”
“Abrenuncio compreendeu-o. Sempre pensara que quando se deixava de acreditar, ficava para sempre uma cicatriz no lugar em que estivera a fé, o que impedia que esta fosse esquecida.”
Em Do Amor e Outros Demónios ficamos a conhecer a história de Sierva Maria. Filha de uma mãe que a odeia e com um pai que lhe começa a dar valor muito tarde, Sierva cresce no meio dos escravos e é lá que se sente bem. Aprende a sua religião, as suas linguas, as suas canções, os seus costumes…
Quando, ao fazer 12 anos, é mordida por um cão de rua, o espectro da raiva muda por completo a sua vida. Apesar de nunca apresentar realmente sintomas da doença, o medo de todos paira à sua volta e as voltas são tanta que Sierva acaba internada num convento para ser exorcizada. É então que o padre Delaura entra em cena…
A certa altura este livro fez-me lembrar A Casa dos Espiritos de Isabel Allende, Tem um sabor parecido a terras espanholas e magias distantes. Mas é, claro, muito diferente.
Sierva é uma personagem principal que nunca ficamos realmente a conhecer. Há sempre uma certa dúvida, será que tem raiva ou não, será que está possuida ou não. Mas é uma dúvida boa, que aumenta o mistério, que melhora o livro. A mãe de Sierva é uma personagem um tanto ou quanto detestável e o pai é um pouco tosco, quase como caricaturas de pessoas reais. Já Delaura quase podia ser uma personagem de quem gostamos, ou é, até certa parte do livro.
Este é um livro muito bom, com sabores de terras espanholas e alguns tons de realidade. O amor é fugaz, devorador e acabamos a questionar se será mesmo real.
Afinal, não será o amor o maior demónio que enfrentamos?
Livro recomendado! 4*