“Ainda está por nascer o primeiro ser humano desprovido daquela segunda pele a que chamamos egoísmo, bem mais dura que a outra, que por qualquer coisa sangra.” 

Nesta obra, de um dia para o outro, todas as pessoas ficam cegas. De repente, um mar de leite invade os olhares e todos passam a ver apenas branco. Os primeiros cegos são isolados, postos em quarentena, excluídos, por se pensar que a epidemia pode ser contagiosa. Mas com o tempo, apenas uma pessoa não cega, uma mulher.

As personagens deste livro não têm nomes e em nenhum momento ele diz que cidade é aquela que a epidemia atinge. Podia ser qualquer pessoa, qualquer um de nós, em qualquer cidade do mundo.

A escrita do Saramago é, como todos já sabemos, diferente e nem sempre fácil. Ainda assim as suas histórias valem muito, muito a pena.

Esta sua história é diferente das outras. As outras têm geralmente um toque de sátira, de humor, de ironia. Este não. Este é um livro mais pesado, mais forte, mais realista. Mais duro e sério.

Nesta obra Saramago pergunta o que aconteceria se todos fossemos cegos. A resposta é a barbárie, claro. Mas, tal como ele disse numa das entrevistas que deu, “nós já somos todos cegos”.

Além de uma excelente história com um final fantástico, esta alegoria é uma metáfora à nossa própria sociedade, ao nosso mundo. Um pouco de atenção, e ficamos a pensar.

Uma obra capaz de revolver estômagos, que não é para qualquer um, com uma escrita que também não é para qualquer um. E uma obra brilhante, que deve ser lida com olhos de ver. Com muita, muita atenção.

Livro recomendado!

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