“Apenas as silenciosas e sonolentas casas de olhar fixo das florestas do interior podem denunciar tudo o que permaneceu escondido desde os tempos primitivos; mas elas não são de muitas falas, sendo avessas a afastar a sonolência que as ajuda a esquecer. Por vezes, tem-se a impressão de que seria misericordioso deitar abaixo essas casas, pois elas devem sonhar com frequência.”
“A vida é uma coisa terrível e, por detrás do pano de fundo de tudo o que sabemos sobre ela, espreitam demoníacas alusões veladas e verdadeiras, que a podem tornar, quando menos esperamos, mil vezes mais terrível.”
“Não era uma paisagem sã, depois de escurecer, e acredito que me teria apercebido da sua morbidez mesmo se ignorasse o terror que ameaçava aquele lugar. Criaturas selvagens, não as havia – revelam-se sempre sensatas quando a morte lança de perto o seu mau olhado.”
Atrevo-me a admitir que ainda não terminei completamente a leitura deste livro, não por ele não ser excelente, apenas porque é, como se diz em bom português, um grandessíssimo calhamaço. Ainda assim acho que está na altura de trazer aqui a minha opinião, que está mais do que formada.
Howard Phillips Lovecraft nasceu em Providence em 1890. Aclamado como um dos grandes mestres do terror, muitos afirmam que foi ele que criou o género como nós o conhecemos hoje, misturando-lhe fantasia e ficção cientifica.
Muito eu já tinha ouvido falar deste autor, mas nunca tinha lido. Agora que li, as palavras “mestre do terror” ganharam para mim todo um novo significado.
De facto Lovecraft era um mestre naquilo que escrevia. O terror como o conhecemos hoje é apenas uma pequena amostra de medo perto das palavras deste senhor, principalmente se pensarmos na época em que ele viveu. É como se o terror dos nossos dias precisasse ser gritado para nos assustar, enquanto que Lovecraft simplesmente sussurra o medo. E sussurrar, podem ter a certeza, tem muito mais efeito.
A sensação que temos ao ler as histórias deste livro é que estamos a ler as histórias-mãe de todas as outras histórias de terror. É de saborear cada palavra, cada surpresa, cada criatura. São contos que nos agarram do inicio ao fim, que nos assombram os sonhos, que nos fazem olhar para trás na rua quando caminhamos à noite. Mas não é como o terror que estamos habituados a ver nas telas de Hollywood ou a ler nos grandes lançamentos da actualidade. É melhor, muito melhor. E muito mais sussurrado.
Se tivesse de escolher uma palavra para definir este livro seria essa mesmo, sussurrado.
Lovecraft é primoroso nos pormenores e tem uma escrita impressionante pois é fácil de ler sem ser corriqueira. Não fossem histórias de terror e poderíamos dizer que ele tinha poesia nas palavras. Mas, aqui, tem um toque muito mais macabro.
Não é um livro que se lê depressa, tanto pelo tamanho como pela forma como os contos podem mexer connosco.
Os pormenores desta edição, então, são a cereja no topo do bolo. Capa dura, com ilustração terrivelmente fantásticas e uma grafia excelente. Nota ainda para algumas notas de rodapé que contextualizam certos pormenores da história e da sua escrita e para a excelente biografia do autor, no inicio.
Se há um livro que definisse e orgulhasse Lovecraft, eu acredito, seria este, que não peca em nada. Muitos já devem ter lido por aqui quando eu me assumo como uma amante do género de terror. Agora, atrevo-me a dizer que estava enganada: ninguém é verdadeiramente fã deste género sem antes ter lido Lovecraft.
Recomendado? Sem dúvida.
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Olá.
Excelente análise!
A mitologia criada por Lovecraft é fascinante.
A escrita desse mestre é altamente envolvente e o suspense é trabalhado de forma em que seja gradativamente incutido em nós leitores.
Eu também fiquei com a sensação de que deveria ter conhecido o autor muito antes.
Um abraço!
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Sim, adorava te-lo conhecido há mais tempo! É excelente!
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