“Gosto de pensar no peixe que balouça contra a corrente como as bandeiras tremulam ao vento; e nos insectos de água que abrem lentamente os seus túneis no fundo do regato. Gosto de pensar na própria árvore: primeiro na sensação abrigada e seca de ser madeira; depois na agitação das tempestades; depois no lento e delicioso escorrer interior da seiva. Gosto de imaginar também as noites de Inverno, ser então uma árvore de pé no campo raso cheio à volta de folhas desfeitas e caídas, sem nada em mim de vulnerável que receie expor-se aos raios de aço da lua, um mastro nu cravado na terra que treme e treme durante a noite inteira.”
“Posso pensar tão bem continuando sentada como se me levantasse. E o que é o conhecimento? O que são os nossos homens instruídos senão os descendentes das feiticeiras e eremitas das grutas e florestas, que apanhavam plantas, interrogavam o voo do morcego e transcreviam a linguagem das estrelas?”
Adeline Virginia Woolf nasceu a 5 de janeiro de 1882 em Kensington e faleceu a 28 de março de 1941 em Lewes, Reino Unido. Entre as suas obras mais reconhecidas contamos com Mrs. Dalloway, Orlando, As Ondas e A Viúva e o Papagaio.
Apesar de Virginia ser maioritariamente conhecida pelas suas obras em forma de romances e ensaios A Casa Assombrada é um livro de contos que merece sem dúvida muito destaque. Aqui conhecemos histórias como a da Marca na Parede, A Casa Assombrada, Lappin e Lapinova, entre outras.
Virginia Woolf não é uma leitura fácil. Para muitos leitores mais inexperientes, ela pode ser um verdadeiro desafio. Muitos dos seus textos estão escritos usando o fluxo da consciência ou seja o leitor é apresentado à história através dos pensamentos das personagens. Ora, como sabemos, os pensamentos muitas vezes não seguem uma linha recta. Pensamos ora numa coisa ora noutra, misturamos factos e opiniões parciais. Por isso as suas obras são obras para se ler com muita atenção, ou corremos o risco de não a compreender. A Marca na Parede, um dos contos deste livro, é sem dúvida um excelente exemplo desta escrita em fluxo de consciência.
Pode não ser uma leitura simples, mas é sem dúvida uma leitura que vale a pena. Por serem contos, também acaba por tornar-se uma obra que se lê bem, pois as histórias não se alongam muito. Uma frase pode ser vibrante de optimismo, a seguinte pode conter toda a escuridão de uma alma. As suas palavras têm sabor de divagações e de lembranças da infância, sabem ao que tivemos e perdemos, aos sonhos que nunca se concretizaram, a velhas esperanças e amargas desilusões. Sabem a amor e a solidão.
Este é um livro de contos, contos curtos, em que cada um nos leva a um mundo pessoal completamente diferente, com personagens dispares mas que quase podiam tratar-se de uma mesma personagem. A melancolia é a linha que os une.
É sem dúvida um bom livro para começar Virginia Woolf.
Livro muito recomendado. 5*