Para falar sobre o livro de que prefiro não falar ou Porque não voltarei a comprar livros da Oficina do Livro

Há muitos tipos de jogadas de marketing. Há o marketing positivo, aquele que eu prefiro utilizar por aqui – falando dos livros de que gostei tanto que acho que vocês deviam conhecer. E há o marketing negativo, quando se fala tão mal de algo que as pessoas ficam curiosas e, por isso, ainda compram mais.

Hoje, venho falar de um livro sem falar dele. Porque ele é tão, mas tão mau, que nem merece ser falado.

A opção correcta seria virar as costas e seguir em frente. Evitaria mais publicidade e vendas. Mas quando algo é de tal forma nojento, é dificil ignorá-lo.

É incrivel o quão fácil se tornou, neste país, publicar um livro. Basta ter um nome reconhecido por alguma coisa, mesmo que não tenha nada a ver com o mercado editorial; ter dinheiro que chegue nos bolsos e, francamente, alguma vontade de causar escândalo.

Mas o que me choca mais não é quem escreveu o livro. A isso chama-se liberdade de expressão, e desde que a liberdade de expressão dos outros não interfira com a minha liberdade, está tudo bem. O que me choca é existir uma editora no mercado, uma editora que eu até considerava digna, capaz de publicar um livro destes só porque sim.

O mundo dos lucros manda muito. Se a intensão era chocar, chocaram. Provavelmente, será um livro que lhes dará uma imensa margem de lucro. Eu por cá, assumo hoje perante todos que não voltarei a comprar livros à Oficina do Livro. Porque a publicação de uma obra destas não é apenas um caso de liberdade de expressão. A publicação de uma obra destas é um caso de falta de responsabilidade social, de propagação de preconceitos e ódio, de ostracizar toda uma comunidade que tem sido constantemente ostracizada ao longo dos séculos.

Deixo o apelo, a quem compreendeu este post: não falem do livro. Não lhe aumentem as vendas.

E não comprem livros à Oficina do Livro.

P.S.: Os livros desta editora que já estavam comentados aqui no blog deixarão de estar acessíveis.

1 comments

  1. No Brasil passamos por coisas parecidas com as que vocês estão passando em Portugal, por isso, presto solidariedade, sei bem qual é o sentimento que se sente diante da barbárie. Creio que você esteja certa em não divulgar o nome do livro e não alimentar a polêmica que a editora certamente deseja, mas acho que vale você considerar fazer, um dia, uma crítica desse livro ou de outros livros do gênero. Creio ser uma função nossa, de resenhistas ou críticos literários, desconstruir e criticar esse tipo de lixo que tem enchido prateleiras. Mostrar, ponto a ponto, de que porcarias o lixo é feito. Fazer crítica é desnudar processos profundos da construção de uma obra escrita, evidenciar os movimento ideológicos, as falhas lógicas, os vícios retóricos e os sofismos de toda espécie. Que isso contribua ou não com a polêmica de que se nutrem, o mais importante é mostrar a verdade, na esperança de que ela um dia prevaleça – que ela nunca falte. Não deixemos que os historiadores do futuro digam o que podemos dizer hoje.

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