Uma Doninha Preocupada
Ciara Gavin

Certo dia a Doninha andava a recolher algumas coisas no campo quando começa uma forte trovoada. A chuva, vento e granizo que se seguiram deixaram-na tão preocupada e assustada que a Doninha decidiu construir uma casa que, tal como uma fortaleza, a protegia do mundo exterior. E tudo estava bem, até um dia lhe aparecer dentro de casa a Toupeira, que tem uma forma de ver as coisas muito diferente da dela. Um livro muito bonito que é também uma lindissima metáfora sobre a vida e as formas de viver e promete deixar os pequenos leitores a pensar. Muito bem ilustrado e com uma história original. Recomendado. 5*
I love this part
Tillie Walden

I love this part é uma novela gráfica juvenil da cartoonista americana Tillie Walden. I love this part é um livro curto, com muito pouco texto e uma ilustração muito simples e bonita, que nos conta o começo de uma história de amor entre duas raparigas adolescentes. É um livro de momentos quotidianos e de pequenas coisas, das pequenas coisas que aos poucos vão criando e construindo o amor. Recomendado. 4*
Passada toda a paixão
Vita Sackville-West

Victoria Mary Sackville-West, mais conhecida por Vita Sackville-West, nasceu a 9 de março de 1892 em Knole House, Reino Unido. Foi poetisa, romancista e paisagista inglesa e o seu longo poema narrativo, The Land, valeu-lhe o prémio Hawthornden Prize em 1927. Quando começa a história de Passada Toda a Paixão, Lady Slane, de oitenta e oito anos, acaba de ficar viúva. Os seus seis filhos, todos eles já com mais de sessenta anos, estão então a discutir o futuro da mãe. Não lhes passa pela cabeça que, na sua avançada idade, ela tencione pela primeira vez soltar-se das rédeas que sempre a prenderam e tomar decisões próprias. Mas é exatamente isso que Lady Slane faz. Do alto dos seus oitenta e oito anos ela decide ir viver sozinha, apenas com a sua criada de sempre, numa casinha que a apaixonára muitos anos antes. Longe dos filhos, dos netos e dos bisnetos, Lady Slane é finalmente livre pela primeira vez na vida e nós vemo-la meditar sobre a velhice, sobre os sonhos, sobre o passado e a morte. Pode parecer, de início, que este livro tem uma premissa bastante simples. E de facto tem. Mas a escrita de Vita é tão magnífica e envolvente que depressa nos esquecemos disso. E, em boa verdade, este é também um livro com um significado mais profundo do que poderíamos pensar. É um livro que nos fala da velhice, que põe em perspetiva uma vida inteira. E é um livro que nos fala sobre a condição da mulher, sobre a forma como tantas mulheres se encontravam presas a uma vida que não queriam e sobre a forma como tantas vezes tinham de desistir dos seus próprios sonhos pelas convenções sociais. Um livro lindíssimo, brilhante e apaixonante. 5*
O Jaime é uma sereia
Jessica Love

Jaime costuma ir com a avó à natação. Um dia, no regresso, encontram três senhoras vestidas de sereia no metro. E Jaime fica encantado. Mas será que ele também pode ser uma sereia? A questão das sereias é um tema que pode não ser facilmente compreendido por toda a gente. É sobre individualidade, mas é também um pouco mais do que isso. E é um tema que pode tornar-se denso e dificil muito facilmente. Neste livro Jessica Love fez uma coisa maravilhosa: traz-nos as sereias de uma forma leve e apaixonante, perfeita para estes leitores mais pequenos. No fundo, este tema deveria sempre ser simples, quer para miúdos quer para graúdos. Mas ainda não é. Um livro maravilhoso. Recomendado a 100%.
Amar e ser livre
Sri Prem Baba
Sri Prem Baba é um mestre espiritual brasileiro conhecido pelos seus livros e palestras. Em Amar e Ser Livre o autor fala-nos sobre relacionamentos, em particular os relacionamentos afetivos e sexuais. Segundo Prem Baba estes relacionamentos têm um poder enorme sobre nós e sobre o mundo que nos rodeia e deviam caminhar lado a lado com a liberdade, algo que não costuma acontecer. Amar e Ser Livre é um livro de leitura fácil, leve, sobre um tema que pode deixar algumas pessoas de pé atrás. A ideia do amor se ligar à liberdade desta forma é muitas vezes ainda um tabu e a maioria da sociedade está longe disso. Será, talvez, uma obra boa para nos pôr um pouco a pensar sobre o tema, desde que seja lida com a mente aberta. Consigo, honestamente, perceber onde o autor quer chegar e dar-lhe razão. No entanto este foi um livro que não me marcou, de todo. É muito leve e o tema é tratado de uma forma um pouco espiritual de mais. Além disso, tenho para mim que há certas coisas (poucas) que não se aprendem nem se desenvolvem a partir dos livros, e o amor é uma delas. Para que os nossos relacionamentos possam evoluir, seja em que direção for, é necessário sobretudo que nos relacionemos. Talvez o livro possa servir, em alguns casos, como um apoio para determinados relacionamentos. Mas sozinho não me parece ter grande poder. Recomendado, com moderação. 3*
Nem todos os cactos têm picos
Mosi

Rita e Luísa são amigas desde sempre. Cresceram juntas, andaram sempre juntas na escola e agora, já adolescentes, continuam amigas. Ou será que não…? Nem todos os cactos têm picos é uma novela gráfica bastante curta e muito, muito simples. A história é bonita mas singela, quase como um breve comentário sobre o valor da amizade. Admito que esperava mais deste livro, mas tudo bem. As ilustrações são boas e a história, apesar de pouco desenvolvida, é bonita. Recomendado. 3*
Orlando
Virginia Woolf

Adeline Virginia Woolf foi uma escritora, ensaísta e editora britânica. Nasceu a 25 de janeiro de 1882 em Kensington, Londres, Reino Unido. Escreveu obras aclamados como O Quarto de Jacob e Mrs. Dalloway. Suicidou-se em março de 1941, enchendo os bolsos de pedras e entrando no rio Ouse. Em Orlando: uma biografia, Virginia Woolf conta-nos a história de um jovem aristocrata que vive 30 anos enquanto homem e depois… se torna uma mulher. Um livro repleto de ironia, que é uma carta de amor e, mais do que tudo, um pensar sobre as diferenças entre os sexos. Orlando é um livro verdadeiramente apaixonante. Uma história que cativa, que fala de amor e de género, de igualdades e desigualdades. A naturalidade com que Orlando deixa de ser homem para se tornar mulher e todas as personagens e o leitor o aceitam tornam este livro em algo verdadeiramente excepcional. É também um livro que se lê muito bem, sem se tornar demasiado pesado ou exaustivo. Esta obra foi sem dúvida um romper de amarras no seu tempo, uma obra transgressora e bem humorada, moderna e ousada. Virginia Woolf era sem dúvida uma mente brilhante e à frente do seu tempo, que dizia o que tinha a dizer. Livro preferido. Recomendado. 5*
Leopardo e abstracção
Tatiana Faia

Tatiana Faia nasceu a 30 de junho de 1986. É uma escritora/poeta portuguesa que em 2019 recebeu o Prémio de Literatura PEN na categoria Poesia. Quem me conhece sabe que eu adoro poesia. Sim, digo muito isto aqui pelo blog. Posto isto, cabe-me agora admitir a minha culpa: é extremamente raro eu ler poetas menos conhecidos, principalmente se a poesia não rima. Manias. A poesia de Tatiana Faia neste livro não rima. E tem, digamos, uma métrica irregular. Mas eu li. E verdade seja dita, gostei. É uma poesia complexa e inteligente, que é um desafio de leitura e de interpretação. Não é um livro que eu levasse para o meu grupo de leitura, recomendando-o a pessoas que não são leitoras de poesia. Mas para quem já tem alguma relação com este género, é uma poesia bonita e bastante interessante, que merece ser lida. Tatiana fala das pequenas e das grandes coisas da vida, misturando-as com mestria e deixa-nos a digerir as suas palavras. Livro recomendado. 4*
Indomável
Glennon Doyle

Glennon tinha aquilo que muitos considerariam a vida perfeita: um casamento bem sucedido apesar dos seus altos e baixos, três filhos, uma fé forte e uma carreira de sucesso como escritora. Ela própria achava que tinha a vida perfeita. Mas algo não estava bem. Então um dia, num evento, uma mulher que Glennon nunca tinha visto entra na sala. E ela apaixona-se imediatamente por ela. Indomável é a história verídica de Glennon Doyle, a autora do livro. Uma mulher casada, mãe de três filhos, religiosa e escritora que de um momento para o outro se apaixona por outra mulher e decide abandonar a vida que sempre conheceu por esse amor. É uma leitura muito fácil e que, de certa forma, nos faz questionar muitas coisas. Glennon não se limita a falar sobre sexualidade. Neste livro ela dirige-se às mulheres e incentiva-as a terem coragem de procurar o que realmente querem, de descobrirem quem realmente são, por detrás de todos os padrões de género e expectativas que nos são impostas desde a primeira infância. É, acima de tudo, um livro sobre coragem e autodescoberta. Um livro sobre como todos nós somos um mar, fluido. A leitura é extremamente fácil e rápida. Admito que a determinada altura dei comigo um pouco cansada de ler sobre os filhos e a religião da autora, que são temas muito falados ao longo da obra e não me dizem muito. Mas é uma leitura agradável e uma história de amor e coragem muito bonita. Livro recomendado. 3,5*
Lillias Fraser
Hélia Correia

Hélia Correia é uma autora portuguesa nascida em 1949. É licenciada em Filologia Românica e professora de Português do Ensino Secundário. Recebeu em 2002 o prémio PEN 2001, pela sua obra Lillias Fraser; o prémio literário Correntes d’Escritas/Casino da Póvoa com o livro de poesia A Terceira Miséria; e o Prémio Camões, em 2015. Lillias Fraser é um romance histórico que se passa entre 1746 e 1762 e onde acompanhamos uma parte da vida de Lillias que ainda em criança começa a ter visões de mortes e tragédias. Orfã desde tenra idade, Lillias passa, ao longo dos anos, por duras e dificeis situações e à medida que acompanhamos o seu crescimento e a sua vida acompanhamos também um pouco da história de Portugal e não só. Lillias Fraser é um livro denso, com muito contexto histórico e que deve ser lido com calma. E é também um livro muito bom. A vida de Lillias e dos que a cercam agarra-nos desde o primeiro momento, as descrições que a autora faz são abismais e a escrita é deliciosa. Marcou-me bastante a forma como a autora refere e descreve o terramoto de Lisboa e os tempos que se lhe seguiram. É um marco importante no livro, tal como o foi para o país. E o final da obra, esse, é encantador. Ficamos com vontde de saber o que acontece a seguir, a Lillias. Muito recomendado. 4,5*
Eliete
Dulce Maria Cardoso

Dulce Maria Cardoso nasceu em Trás-os-Montes em 1964. Formada em direito, é uma das escritoras portuguesas mais reconhecidas da actualidade e venceu o prémio Oceanos em 2019. Nesta obra nós conhecemos Eliete, uma mulher de meia idade, casada e mãe de duas filhas. A história inicia-se quando a avó de Eliete começa a mostrar sinais de demência, mas o verdadeiro enredo é a vida desta personagem. Uma personagem que, podemos dizer, tem uma vida bastante normal. O casamento de Eliete não está nos seus melhores momentos. As filhas, as redes sociais, a avó internada e a má relação com a mãe tornam esta trama em algo um pouco dramático mas, ainda assim, sem exageros. Gostei muito da escrita da autora. No entanto, tenho de admitir, não gostei da história. Eliete é uma mulher acomodada com a vida que tem ao ponto de quase nem fazer nada sobre ela. E quando faz, é asneira. Uma personagem que com certeza será baseada em muitas pessoas reais, e que vale a pena se quisermos fazer-lhe uma análise psicológica, mas apenas isso. Eliete não apaixona, não empolga, não inspira, quase não age. Não acho que tenha ganho algo com esta leitura. Se não a estivesse a fazer em grupo, provavelmente nem a teria acabado. Tinha. e continuo a ter, muita expectativa nos livros desta autora, até porque já me disseram que os outros são bastante melhores. Mas Eliete… Não recomendo. 1*
Ernesto o elefante
Anthony Browne

Ernesto era um pequeno elefante que todos os dias caminha, comia e conversava muito com a sua mãe e a sua manada. Mas um dia ele achou que devia fazer algo diferente… e escapuliu-se para a selva, onde acabou por se perder. Será que vai encontrar alguém capaz de o ajudar a voltar? As cores deste livro são lindas, mas a história não é nada de extraordinário. Mas uma vez, é a história de uma cria que de alguma forma de perde, agora na selva. Acaba por ser ajudado por quem achava que não o conseguiria ajudar. Duas boas lições. Recomendado. 3*
Satânia
Judith Teixeira

Judite dos Reis Ramos Teixeira, também conhecida como Judith Teixeira ou Lena de Valois nasceu a 25 de janeiro de 1880 em Viseu e faleceu a 17 de maio de 1959 em Lisboa. Publicou três livros de poesia e um livro de contos, e em 1925 lançou a revista Europa, de que saíram três números. Judith Teixeira foi alvo de polémica pelo tom homossexual e erótico dos seus escritos. Causou escândalo, morreu quase em anonimato e ainda hoje é uma escritora pouco conhecida da maioria das pessoas. Em Satânia temos acesso a duas novelas desta autora, Satânia e Insaciada, e a uma conferência de Judith intitulada De Mim, onde a autora explicou o motivo dos seus escritos. É um livro curto, para ler pausadamente, de uma escrita muito poética, erótica e romântica. É uma obra que prende o leitor mas de uma maneira um pouco diferente do habitual, um livro que nos faz mergulhar numa autora apaixonante e renegada, controversa e diferente. Livro recomendado. 4*
O monstro da vergonha
Tânia Carneiro

A menina desta história carrega dentro de si um monstro: o monstro da vergonha! O Monstro da Vergonha é um Monstro Grande, que não a deixa conversar com as pessoas com quem se sente menos à vontade, nem fazer novos amigos nem falar na aula de teatro. Será que existe alguma maneira de vencer este monstro? Um livro sobre um tema importante, que deve ser lido e falado com os mais novos. Com ilustrações muito boas, uma história com principio, meio e fim e muito bem construída. Livro recomendado. 4*
O mergulho
Séverine Vidal

Yvonne tem oitenta anos e é lúcida e independente. Ainda assim é preciso enfrentar a vida como ela é e no início desta novela gráfica vemo-la virar as costas à casa onde viveu 40 anos para se mudar para uma residência de idosos. A adaptação não será fácil. O Mergulho é uma novela gráfica que nos fala sobre o envelhecer, sobre as mudanças que a terceira idade nos traz, sobre o passado e as recordações e sobre adaptação. As ilustrações são de cortar o fôlego e a história não lhes fica atraz. É um livro que se lê facilmente mas que nos deixa com um aperto no peito e uma lágrima no canto do olho. Lindíssimo e muito recomendado. 5*
Como fazer amor com um negro sem se cansar
Dany Laferrièrre

Dany Laferrière nasceu a 13 de abril de 1953 no Haiti. É jornalista, escritor e roteirista, em 2009 recebeu o Prémio Médicis e em 2013 foi eleito para a Academia Francesa. Nesta obra conhecemos Cota e Bouba, dois jovens negros que dividem um quarto em Montreal nos anos 70. Um alimenta o sonho de ser escritor, o outro dorme horas infindas enquanto caminha para um qualquer despertar espiritual. Na sua rotina, muito jazz, imenso sexo e um vizinho extremamente barulhento que eles apelidam de Belzebu. Como fazer amor com um negro sem se cansar é uma sátira original aos estereótipos racistas, um livro controverso e atrevido que nos leva a umas boas gargalhadas mas que também tem o dom de nos deixar a pensar. É um livro muito inteligente, de humor requintado e que diz tudo o que tem a dizer sem qualquer tipo de filtro. Capaz, arrisco-me a dizer, de ferir algumas suscetibilidades. Mas a literatura deve servir exatamente para isso. Recomendado. 4*
Os sete maridos de Evelyn Hugo
Taylor Jenkins Reid
Taylor Jenkins Reid nasceu a 20 de dezembro de 1983 na Costa Leste de Maryland. É uma escritora norte-americana reconhecida pelos seus livros Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, Daisy Jones & The Six e Malibu Renasce, entre outros. Nesta obra Evelyn Hugo é uma das maiores estrelas de Hollywood, que se afastou das luzes da ribalta há muitos anos. Agora, do alto dos seus 80 anos, Evelyn decide publicar a sua biografia, onde promete contar toda a verdade sobre os filmes que protagonizou, sobre os seus sete casamentos e… sobre o amor da sua vida. Para escrever esta biografia Evelyn escolhe Monique, uma jovem e desconhecida jornalista, facto que surpreende todos. Quais serão realmente as intenções de Evelyn? E que grandes segredos terá esta artista a revelar? Este livro tem sido tão badalado que eu estava, admito, sem vontade nenhuma de lhe pegar. Vícios do ofício, esta mania de julgar um livro pela quantidade de vendas que teve. Mas a história eu tenho de admitir que me surpreendeu. É uma trama verdadeiramente bem construída, cheia de nuances e pormenores. Uma história com pés e cabeça que retrata o mundo do cinema da época, a forma como esta indústria tratava as mulheres e a forma como a própria sociedade tratava aqueles que considerava diferentes. A história de Evelyn Hugo é magnífica e envolvente, a personagem é cativante e as suas lutas são inspiradoras. É um livro que nos fala de machismo, de racismo e de homofobia, um livro que levanta questões importantes, que retrata factos importantes e que nos leva a visitar uma época que, apesar de passada, não está assim tão distante. Foi um livro que me comoveu. Um livro a que voltarei, sem dúvida várias vezes, para ler e reler. É, além de tudo o que já disse anteriormente, um livro sobre o amor. Sobre o amor proibido, o amor condenado, o amor que podia destruir a vida de quem o sentia. Mas que ainda assim era apenas isso: amor. Livro preferido. 5*
A sesta de terça-feira
Gabriel García Márquez

Em A sesta de terça-feira Gabriel García Márquez apresenta-nos uma mãe e uma filha, de luto e aspecto muito pobre, que viajam de comboio numa tarde muito quente. Chegam ao destino à hora da sesta e vão procurar a casa do padre. É um livro de uma premissa que pode parecer simples, mas que tem uma mensagem bem escondida nas entrelinhas. É um livro infantil – o único de Gabriel García Márquez – mas que me atrevo a arriscar que provavelmente é melhor aproveitado e compreendido se lido já após a infância. Um livro bonito, com uma escrita sublime que é tudo aquilo a que Gabriel García Márquez nos habituou. Muito recomendado. 5*
Uma solidão demasiado ruidosa
Bohumil Hrabal

Nascido a 28 de março de 1914 em Brun na República Checa e falecido a 3 de fevereiro de 1997, Bohumil Hrabal é considerado um dos maiores escritores checos da atualidade. Em Uma solidão demasiado ruidosa o autor dá-nos a conhecer Hanta, um velho cujo trabalho é o de prensar e destruir livros e que, às escondidas, salva da sua própria prensa os livros que considera mais valiosos, como os de Kant, Hegel, Camus, Novalis e Lao-Tsé. Tenho de dizer, antes de mais, que dificilmente se encontra um livro em que o titulo encaixe melhor do que este título neste livro. Toda a vida de Hanta é exactamente o que o título nos diz: uma solidão demasiado ruidosa. Hanta vive só, com a sua prensa, os seus livros, a bebida e as suas recordações e desejos. Ainda assim, está cercado de pessoas e de situações que tornam a sua vida num caos de ruído. Queremos ouvi-lo, e ouvimo-lo. Mas será que o ouvimos realmente? Uma solidão demasiado ruidosa é um livro escrito quase como se fosse um monólogo. É um livro de uma escrita bela e poética, cheio de nuances e camadas, de muitas sensações e de muitas coisas escondidas nas entrelinhas. É também um livro que nos traz uma grande escuridão, que nos mostra um lado negro da humanidade e nos leva a visitar as catacumbas e os esgotos de Praga de uma maneira quase animalesca. Livro recomendado. 4*