
Era mais uma daquelas situações de que se dera conta vagamente ao longo da vida; certos acontecimentos provocavam resultados aparentemente incoerentes. (SACKVILLE-WEST, 1993, P. 74)
Talvez a sua solidão fosse maior do que a coragem humana podia suportar; talvez tivesse exigido de mais da sua força de ânimo. Só uma alma de ferro podia suportar a solidão total. (SACKVILLE-WEST, 1993, p. 221)
A sua lealdade para com Henry era total, mas, depois da partida de FitzGeorge, aquele jovem viajante sem destino certo cujo nome mal registara na consciência, sentira-se como se lhe tivesse explodido uma carga de dinamite num recesso muito secreto. Alguém, com um simples olhar, descobrira o caminho para uma câmara que ela conservava oculta, mesmo para si própria. Ele tinha cometido a suprema audácia de lhe olhar para a alma. (SACKVILLE-WEST, 1993, p. 181)
Victoria Mary Sackville-West, mais conhecida por Vita Sackville-West, nasceu a 9 de março de 1892 em Knole House, Reino Unido. Foi poetisa, romancista e paisagista inglesa e o seu longo poema narrativo, The Land, valeu-lhe o prémio Hawthornden Prize em 1927.
Quando começa a história de Passada Toda a Paixão, Lady Slane, de oitenta e oito anos, acaba de ficar viúva. Os seus seis filhos, todos eles já com mais de sessenta anos, estão então a discutir o futuro da mãe. Não lhes passa pela cabeça que, na sua avançada idade, ela tencione pela primeira vez soltar-se das rédeas que sempre a prenderam e tomar decisões próprias.
Mas é exatamente isso que Lady Slane faz. Do alto dos seus oitenta e oito anos ela decide ir viver sozinha, apenas com a sua criada de sempre, numa casinha que a apaixonára muitos anos antes. Longe dos filhos, dos netos e dos bisnetos, Lady Slane é finalmente livre pela primeira vez na vida e nós vemo-la meditar sobre a velhice, sobre os sonhos, sobre o passado e a morte.
Pode parecer, de início, que este livro tem uma premissa bastante simples. E de facto tem. Mas a escrita de Vita é tão magnífica e envolvente que depressa nos esquecemos disso.
E, em boa verdade, este é também um livro com um significado mais profundo do que poderíamos pensar. É um livro que nos fala da velhice, que põe em perspetiva uma vida inteira. E é um livro que nos fala sobre a condição da mulher, sobre a forma como tantas mulheres se encontravam presas a uma vida que não queriam e sobre a forma como tantas vezes tinham de desistir dos seus próprios sonhos pelas convenções sociais.
Um livro lindíssimo, brilhante e apaixonante. 5*