
“Continuaram a falar sobre o incesto. Manuel assegurou que por vezes, na vida, se encontram coisas novas, mas sempre como efeito secundário de procurar as antigas.
– Para que é que vamos a Marte? Para vermos se há lá água, vê lá tu que novidade, a água. E exploramos o universo para averiguarmos se há vida, ou seja, para vermos se há mais do mesmo. Os homens, saibam ou não, casam-se com as mães, e as mulheres com os pais, porque são esses os seus modelos.”
Laura e Júlio eram um casal perfeitamente normal. Um dia, Manuel muda-se para o apartamento do lado e o casal depressa se torna chegado ao novo vizinho. Tão chegado que quando Manuel é atropelado e entra em coma, algum tempo depois, Júlio ironiza dizendo que parecem “ter ficado viúvos”. O que ele não estava à espera é que pouco depois Laura lhe pedisse o divórcio, motivada por um segredo que carrega com ela. Essa estranha reviravolta leva Júlio a intrometer-se na vida e na casa de Manuel, assumindo uma nova identidade…
Ler esta obra trouxe-me, de novo, a sensação de estar a ler A Insustentável Leveza do Ser.
É um livro sobre o amor (e a falta dele), sobre monotonia, compromisso, acomodação e opressão. É um livro que nos relembra o quão frágeis são as relações humanas e a própria vida, o valor do tempo que temos com quem amamos e a importância de sermos verdadeiros connosco e com os outros.
Tem uma trama que não agradará a todos, bem como o seu final. É uma leitura calma, que corre devagar. Conhecemos a história através do olhar de Júlio e ele não é um homem que se deixe levar pelos seus impulsos. Atrevo-me a dizer que a maioria dos leitores não se irá apaixonar por esta personagem acomodada que tem pouca vontade própria. Ele só quer ficar onde está, mesmo que o sitio onde está não seja o que pensou inicialmente.
Recomendado. 3*