Instinto – Ashley Audrain

Wook.pt - Instinto

Livro Físico

Lembro-me de um dia ter percebido a importância do meu corpo para a nossa família. Não do meu intelecto, nem das minhas ambições de fazer carreira como escritora. Não da pessoa moldada por trinta e cinco anos de vida. Apenas do meu corpo. Fiquei nua em frente ao espelho, depois de tirar a camisola, repleta de puré de ervilhas que o Sam cuspira. Tinha os seios murchos como a planta da cozinha que nunca me lembrava de regar. A minha barriga espraiava-se para fora do recorte das cuecas como a espuma que invadia a borda do meu copo de café com leite morno. As minhas coxas eram nacos de carne enfiados num espeto. Estava desfeita. Contudo, a única coisa que interessava é que estava a conseguir garantir a sobrevivência física de todos nós. O meu corpo era o nosso motor.”
(p. 149)

Blythe Connor não teve uma boa mãe, por isso, quando chega a sua vez de criar a sua própria família, tudo o que quer é dar à filha o amor que nunca teve. Mas rapidamente percebe que há algo errado com Violet. Apesar de ninguém acreditar nela, Blythe vê em Violet uma maldade inesperada, quase invísivel. Será tudo imaginação sua? Ou Violet tem mesmo algo de estranho?

Quando nasce Sam, o seu segundo filho, tudo melhora. Blythe sente com ele toda a ligação que nunca sentiu com a filha e até mesmo Violet parece acalmar. É então que um acidente acontece e Sam morre de repente. Mas será que o acidente foi mesmo um acidente?

É difícil arranjar uma forma de descrever este livro. Sem sombra de dúvida é um thriller psicológico envolvente e arrepiante. Eu diria que é quase um livro de terror capaz de diminuir a vontade de ter filhos. Transparece uma imagem bastante negra da maternidade neste livro, mesmo tendo em consideração a relação de Blythe e de Sam. Não é um livro que recomende a quem esteja grávida ou com crianças recém nascidas.

A história é muito intensa, a escrita óptima e as personagens estão muito bem construídas. E é uma história que tem ainda o dom, mesmo que leve, de nos relembrar que todas as histórias têm dois lados e que nem tudo é sempre preto no branco. Um drama que podia ser real (ainda que esperemos que não), uma leitura que terminamos com a sensação de que conhecemos pessoalmente estas personagens.

Muito, muito bom! 5*

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