“É mais ou menos a mesma hora que leva Anna às questões difíceis de suportar. A criança espancada pelo padrasto, o menino abandonado numa cave. abusado, destruído como lixo, o mal que tem cara de homem, de mulher, de pai, de padre, de mãe, de bruxa, de mestre, que surge do nada, de tudo, como Proteu, de tantas formas.”
(p. 29 e 30)
“Giulia aprendeu com Byron a largueza dos vocábulos e dizia «paixão» a torto e a direito. Tudo eram paixões na sua adolescência, e entre todas a primeira, aquela de se atirar à água e de nadar para longe. Revia-se na descrição das proezas do Poeta, que desde criança se lançava a charcos, lagos, rios, canais, estreitos e a toda a água que se lhe atravessasse no caminho.”
(p. 11)
Luísa Costa Gomes nasceu a 16 de junho de 1954 em Lisboa. Licenciada em Filosofia, foi professora e atualmente é escritora, tradutora e dramaturga.
Em Afastar-se a autora brinda-nos com uma coletânea de treze contos que de alguma forma se relacionam com a água, alguns de maneira mais discreta, ouras em que ela tem uma presença bastante importante.
São contos duros e de certa forma também poéticos, como tantas vezes acontece na literatura portuguesa. São histórias simples mas complexas, como o é a natureza humana, que retratam o mais humano que existe nas personagens retratadas e em cada um de nós. A autora revela, ao longo destas páginas, uma enorme maestria no domínio da escrita, deixando para o leitor uma leitura fluída mas densa, cheia de nuances.
Não foi para mim um livro muito marcante, mas isso deve-se unicamente a questões pessoais. É, sem sombra de dúvida, um livro maravilhoso de uma densidade e de uma simplicidade impressionantes, que merece muito ser lido.
Recomendado! 4*
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