
“Os alemães eram capazes de todas as perversões para nos humilharem. Por exemplo, para se divertir, um alemão mandava um pai chicotear um filho. Se o pai recusasse era o inverso: mandava o filho bater no pai. O pai dizia ao filho para obedecer e se os dois recusavam, eram ambos chicoteados, muitas vezes até à morte.”

Shlomo Venezia foi um judeu italiano nascido na Grécia a 29 de dezembro de 1923 e falecido em Roma a 1 de outubro de 2012. Foi deportado com 21 anos para os Auschwitz-Birkenau onde acabou a trabalhar no Sonderkommando, o crematório.
Que segue o blog sabe que leio imensas obras sobre este tema. Muitas acabam por não trazer ao leitor nada além do que já leu. São testemunhos de atrocidades, mas sempre das mesmas atrocidades. Mas nesta obra elas soam ainda mais atrozes. Este livro é um testemunho único não só de alguém que esteve nos campos de concentração mas de alguém que trabalhou nos crematórios, nas câmaras de gás onde as pessoas eram mortas.
Em jeito de entrevista, foi um livro que me deixou dividida. Estes trabalhadores eram prisioneiros como todos os outros, mas eram ainda assim diferentes dos outros. Tinham mais regalias, mais comida, melhores condições, para poderem realizar o seu trabalho. E apesar de não matarem ninguém diretamente, como os nazis matavam, eram um mei direto, um apoio, para esse fim. Algumas das descrições de Shlomo sobre o que tinha de fazer, apesar da maneira lúcida e calma como as diz, são verdadeiramente impressionantes. Eles sabiam o que estavam a fazer. Mas tinham de o fazer para não morrerem. Até que ponto podemos chegar, enquanto humanos?
Impressionante. Foi provavelmente um dos livros sobre o holocausto que mais me custou ler, e eu li muitos. A forma como está escrito, a forma como Shlomo dá o seu testemunho, é arrepiante. Duro, intenso.
Recomendado, mas não a pessoas impressionáveis.