“Mas, às vezes, quando minha mãe voltava do mercado, carregando sacolas, pela beira da praia e olhava para o mar, ela sentia receio de que as coisas na vida dela terminassem daquele jeito. Tinha medo de terminar ali naquele lugar. Também tinha medo das drogas, das bebidas alcóolicas, tinha receio de acabar sendo atropelada numa rua qualquer, como a mãe fora. Tinha medo da pobreza. Ter filhos para ela não significava gerar a vida, ter filhos para minha mãe era como gerar espólios, porque era assim que ela se sentia. Ter filhos era para ela uma espécie de arqueologia da pobreza.” (p. 107)
“Até ao fim você acreditou que os livros poderiam fazer algo pelas pessoas. No entanto, entrou e saiu da vida, e ela continuou áspera.” (p. 17)
Jeferson Tenório nasceu em 1977 no Rio de Janeiro. É doutorado em Teoria Literária e O Avesso da Pele é o seu terceiro romance.
Em O Avesso da Pele conhecemos a história de Pedro, que relembra o pai assassinado e a sua vida. Vemos uma narrativa intrincada, com diversas histórias e personagens que se cruzam entre si. Muitas semelhanças entre elas, muitas diferenças, todas interessantes, todas reais. São histórias de dor e amor, de aceitação e preconceito, de luta, sempre muita luta. São personagens que podiam estar aqui ao nosso lado, conviver connosco, ser um de nós. E de serem tão reais estas histórias acaba por tocar o leitor. São histórias humanas, com personagens humanas e com muitos sentimentos a que todos nós estamos bem acostumados.
A leitura é fluída e a escrita consistente, como se seguisse sempre em linha reta. Marcou-me principalmente o início do livro, mas todo ele vale muito a pena. Fiquei com a sensação de que este autor ainda tem muito para dar e será certamente um trabalho que irei seguir.
Recomendado! 4*