Vidas Secas – Graciliano Ramos

Wook.pt - Vidas Secas

Livro Físico

“O menino mais velho hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças bem vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tivesse sido feito por gente. Nova difículdade chegou-lhe ao espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão intrincada. Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era ímpossivel, ninguém conservaria tão grande soma de conhecimentos. Livres de nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente. E os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos, falavam baixo para não desencadear as forças estranhas que elas porventura encerrassem.” (p. 72 e 73)

O Pequeno Pedinte (conto) – Wikipédia, a enciclopédia livre
Graciliano Ramos

Graciliano Ramos de Oliveira, conhecido como Graciliano Ramos nasceus em Quebrangulo a 27 de outubro de 1892 e faleceu no Rio de Janeiro a 20 de março de 1953. O livro Vidas Secas, considerado a sua melhor obra, foi publicado originalmente em 1938.

Em Vidas Secas conhecemos Fabiano, Sinha Vitória e os seus dois filhos pequenos. Habitantes do sertão, passam uma vida dura sempre à mercê das estações, do clima, das secas e inundações e vêem-se ocasionalmente obrigados a partir com os seus poucos haveres em busca de outra terra onde possam trabalhar e alimentar a família.

Vidas secas é um livro duro mas belissimo. As personagens são cruas, honestas, humildes, que assim como as intempéries têm as suas pr´prias secas e trovoadas. O título, pessoalmente, acho-o brilhante. Vidas secas, como as secas do sertão. São personagens que vivem para sobreviver, sempre em busca de um futuro um pouco ou nada melhor, que não mostram sentimentos profundos além de um ou outro laivo de violência, de um ou outro laivo de arrependimento e saudade. A vida é tão cruel nesta história que os meninos, que andam muita svezes nus pela terra, mal conhecem os nomes às coisas pois os adultos não têm tempo para lhes ensinar.

E depois, claro, há a cadela Baleia. Eu já tinha ouvido falar da cadela Baleia, anteriormente, quando ouvi falar desta história e sabia que algo trágico lhe acontecia. Mas ler o seu fim, a maneira como está escrito, a história que é, bem… que aperto no peito! Que dor!

É, também, uma história que acaba onde começa. Sem grandes reviravoltas, sem surpresas, na simplicidade dura e crua da vida. E é assim mesmo.

Lindíssimo. 5*

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