“Não obstante todo o seu poder, o apartheid tinha falhas inultrapassáveis, começando com o facto de nunca ter feito qualquer sentido. O racismo carece de lógica. Tomemos o seguinte em consideração: na África do Sul, os chineses estavam classificados como negros. Não estou com isto a dizer que se faziam passar por negros. Não deixavam de ser chineses. Ao contrário dos indianos, porém, não havia chineses suficientes para justificar a criação de uma classificação racial separada. O apartheid, apesar da sua precisão e idiossincracias, não sabia o que fazer com eles, por isso, o governo disse: «Bem, chamamos-lhes negros. Assim, é mais simples.»
Curiosamente, ao mesmo tempo, os japoneses foram classificados como brancos. O motivo para tal prende-se com o facto de o Governo da África do Sul querer estabelecer boas relações com os japoneses para importar os carros e os artigos de electrónica que eles produziam. Assim sendo, aos japoneses foi dado o estatuto honorário de brancos, ao passo que os chineses se mantiveram negros. Gosto sempre de me pôr na pele de um polícia sul-africano que provavelmente não saberia a diferença entre um chinês e um japonês, mas cuja missão era assegurar que as pessoas da cor errada não cometiam ilegalidades. Se visse um asiático sentado num banco para pessoas brancas, que diria?”

Actualmente, Trevor Noah é um humorista reconhecido, que apresenta o programa televisivo The Daily Show. Mas a sua vida nem sempre foi assim tão agradável. Filho de mãe negra e pai branco, nascido durante o apartheid, Trevor teve uma infância cheia de pobreza e discriminação mas com uma mãe muito valente, que lhe transmitiu toda a coragem a amor que o autor precisava.
Escrito de uma forma estranhamente leve e divertida tendo em conta o tema de que trata, Sou um crime é um livro que se devora em menos de nada, que prende o leitor e lhe renova a esperança na vida. É incrível a forma como o autor conta a sua história, sem se lamentar nem a tornar triste e dramática. O leitor vê as dificuldades, mas é mais provavel que dê uma risada do que chore uma lágrima.
O livro é também, à sua maneira muito própria, uma homenagem à corajosa mãe de Trevor. Um livro feroz, revoltante, que nos fala de violência, preconceito e discriminação sem se tornar demasiado pesado. Trevor é sem dúvida, alguém para admirar.
Muito recomendado! 5*
Completamente de acordo com a opinião. Gostei muito deste livro. É bom ver como o Trevor Noah ultrapassou aquele início de vida tão complicado.Estou a gostar cada vez mais de não-ficção.
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Agora surpreendeu-me, ainda não a tinha visto por aqui! É um livro excelente, sim ❤
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