O Desassossego da Noite
Marieke Lucas Rijneveld
Livro Físico
Marieke Lucas Rijneveld nasceu a 20 de abril de 1991 em Nieuwendijk, nos Países Baixos. Venceu o International Booker Prize em 2020 com O Desassossego da Noite, tendo sido a primeira autora holandesa a ganhar o prémio. Quando Matthies morre no gelo, a sua pequena irmã Cas fica realmente convencida de que a culpa foi sua, por lhe ter rogado aquela praga por ele não a ter levado com ele para patinar. Mas Cas não é a única nesta história que não consegue lidar com a dor e com a culpa da morte de Matthies: os seus pais, crentes fervorosos, estão tão afogados na sua dor que nem percebem que Cas e os seus outros irmãos, Hanna e Obbe, podem estar a arranjar estranhas e perigosas fugas para a perda do irmão e o abandono dos pais. Eu vi opiniões muito dispares sobre O Desassossego da Noite. Talvez, vendo bem, seja um daqueles livros que ou se ama ou se odeia. Eu pessoalmente não percebo como é possível não gostar deste livro: adorei-o, do início ao fim. É um livro que não é muito longo, que está muito bem escrito e que nos transporta para a ação de forma fluída. A leitura é rápida e só queremos ler mais e mais, o livro devora-se. É, sim, uma história extremamente triste, dura e cruel, mas todos esses sentimentos estão escritos de forma tão natural na história, vistos através dos olhos de uma personagem que não passa de uma criança e que já está habituada ao mundo dela, que quase nos parece uma situação normal. Mas não é. As nuances estão lá, as falhas humanas, as dores, os medos, o luto, os segredos, o terror e as repercussões físicas que tudo isso tem, estão lá. É uma história que é preciso ler com atenção para se conseguir compreender na sua totalidade. O Casulo de Cas, o comportamento dos pais e dos irmão de Cas, a vida antes e depois da morte de Matthies, tudo isso merece ser lido e sentido com muita atenção. Esta tensão psicológica, o enredo, a culpa e a dor, são coisas que não são nada fáceis de transpor para uma narrativa sem que fique demasiado óbvio, demasiado preto no branco, e aqui a autora consegue fazê-lo na perfeição. É um livro que não substima os leitores, que os põe a pensar e a sentir sem rodeios. Livro preferido! 5*, recomendado!
Os Colegas Não São Para Comer
Ryan T. Higgins
Penélope é uma pequena dinossaura que vai pela primeira vez à escola. O que ela não sabia é que todos os seus colegas são… crianças! E que saborosas são as crianças! Penélope não resiste e acaba por comer os colegas… várias vezes. Como poderá Penélope aprender que os colegas não são ara comer? Um livro diferente, uma história inusitada e muito engraçada e uma disfarçada lição sobre empatia. Pessoalmente adorei também as ilustrações, muito bem feitas e recheadas de pormenores. Fantástico! Muito recomendado!
O Prazer
Maria Hesse
Maria Hesse nasceu em Huelva, Espanha, em 1982 e desde cedo revelou dotes para a ilustração. As suas obras, belíssimas, tem marcado o mundo artistico e literári nos últimos anos. Prazer é, como o próprio título diz, um livro sobre o prazer. O prazer feminino, mais especificamente. Aqui a autora fala sobre a importância d prazer feminino, sobre como o atingir, sobre a sua trajectória e a sua sexualidade e sobre diversas figuras femininas de relevo no mundo da sexualidade. Prazer é um livro escrito sem tabus, de forma natural, tal como este tema devia ser. A autora normaliza a temática, fala do bom e do mau, ensina e esclarece. E as ilustrações, como não podia deixar de ser, são verdadeiramente impressionantes, lindissimas. É sem dúvida um livro que vale a pena ter na estante e oferecer às amigas. O texto é curto e serve tanto para adolescentes como para mulheres de idade. Agarra, prende, é quase mágico. É delicado e ainda assim não usa meias palavras. Honesto, direto, que diz o que tem a dizer. Atrevo-me a dizer que todas as mulheres deviam ler este livro. Muito recomendado! 5*
Amok
Stefan Zweig
Stefan Zweig nasceu a 8 de novembro de 1881 em Viena, na Áustria e faleceu a 22 de fevereiro de 1942 no Rio de Janeiro. De origem judaica, foi escritor, romancista, poeta, dramaturgo, jornalista e biógrafo. Foi também um dos mais importantes autores europeus da primeira metade do século XX. Amok é, segundo a cultura indonésia, uma palavra que define alguém que se atira loucamente para a batalha. Nesta curta novela de Stefan Zweig o narrador vem contar-nos o que o levou a entrar em estado de Amok e as consequências disso.Médico em decadência, vê-se obrigado a aceitar um emprego de dez anos numa zona isolada para assim garantir a sua reforma. Mas a solidão que tanto o aliciou no principio, torna-se pesada com o tempo. Quando os dez anos estão enfim quase passados, surge uma mulher da alta sociedade à sua porta. Uma mulher que tem um segredo e que precisa desesperadamente da sua ajuda. Mas o narrador, movido pelo orgulho, nega ajudá-la. Assim que ela parte ele cai em si e segue-a. Mas ainda irá a tempo de a ajudar? Com uma escrita fluída e uma história interessante, Amok é um livro curto que se lê em menos de nada e ainda nos consegue surpreender um pouco. Conhecer o termo e conseguir perceber o que ele representa é, para quem não está acostumado a esta cultura, bastante curioso. Vale a pena! Recomendado! 3*
Uma Grande Família
Elisenda Roca e Rocio Bonilla
No dia seguinte há uma festa no bairro e as crianças estão a decorar a praça para a festa. Percorrendo as ruas com Violeta, a menina deste livro, vamos conhecendo as suas famílias e as suas histórias. São todos muito diferentes entre si. Aqui há famílias com um pai e uma mãe, com dois pais e com duas mães. Há famílias de várias raças e etnias, crianças muito diferentes entre si. Mas no fundo, todos são uma grande família. Este é um livro inspirador para ensinar às crianças sobre a diferença, sobre a importância de respeitar os outros e as suas diferenças e que, por muito diferentes que sejamos, somos mesmo todos uma grande família. As ilustrações são incríveis e acrescentam muito à história, é um livro colorido que nos faz sorrir muito e nos dá esperança num mundo melhor. Lindíssimo! Muito recomendado!
Aqui a princesa salva-se sozinha
Amanda Lovelace
Nascida nos Estados Unidos da América em 1991, Amanda Lovelace é uma poetisa e contadora de histórias, formada em literatura inglesa, feminista e defensora dos direitos humanos, que começou a divulgar o seu trabalho nas redes sociais. Aqui a princesa salva-se sozinha é um livro de poesia. São poemas muito breves, alguns com meia dúzia de linhas ou menos, que não rimam. Talvez por serem tão breves podemos ser levados a pensar que vai ser uma leitura fácil e leve, mas não é. São poemas duros, doridos, de alguém que passou por muita coisa. Ainda não tinha chegado a meio do livro e já estava impressionada com a quantidade de coisas pelas quais a autora tinha passado. Chega a ser surpreendente a quantidade de dor e sofrimento que existe nestas páginas, não é uma leitura nada fácil. É um livro belissimo, sem dúvida alguma, e quando percebi que os poemas não rimavam achei realmente que não ia gostar. Mas a verdade é que adorei. É uma leitura forte, impactante, que sem dúvida me vai ficar na memória. Custa a crer como é possível dizer tanto em tão poucas palavras. Impressionante. 5*, recomendado.
Histórias de (En)Contar de um Lobo que não Gostava de Matemática
Maria Francisca Macedo
O Lobo desta história é o Lobo que todos já conhecemos das histórias infantis. Sim, esse mesmo, o que come a avó do capuchinho, destrói as casas dos três porquinhos e ataca as ovelhas de Pedro, o pastor mentiroso. Mas este lobo está com um pequeno problema… é que ele não sabe contar! Então nem um capuchinho, nem três porquinhos nem cinco ovelhas… Será que o Lobo fica sem jantar por não saber contar? Um livro divertidissimo, para ser lido aos mais novos de forma interactiva e para os pôr a contar até dez num instantinho. É uma excelente introdução aos números, bem misturada com o imaginário infantil e muitas das histórias que conhecemos da nossa infância. Excelente! 5*! Muito recomendado!
Aldeia Nova
Manuel da Fonseca
Manuel da Fonseca nasceu a 15 de Outubro de 1911 em Santiago do Cacém, no Alentejo e faleceu em Lisboa, a 11 de Março de 1993. Foi poeta, contista, romancista e cronista. Em Aldeia Nova encontramos diversos contos do autor que se passam… numa aldeia. Manuel da Fonseca não é dos autores portugueses mais falados ou reconhecidos, mas ao lê-lo percebemos que isso pode ser, de certa forma, uma injustiça. Os contos são curtos e coerentes, a escrita é fluída e poética, o género de escrita que a mim me recorda sempre Miguel Torga. São contos que se intercalam uns nos outros, que se relacionam, tornando esta obra em algo quase híbrido entre conto e romance. Nestes contos Fonseca leva-nos a uma típica aldeia portuguesa e retrata sem dó, piedade nem falinhas mansas a realidade dessas aldeias. A pobreza, as alegrias e as tristezas, a mentalidade… nada falta neste retrato português. Quem vive ou já viveu numa aldeia irá com certeza achar estes textos muito interessantes. Apesar de já ter passado uns bons anos desde que foram escritos, a verdade é que muitas coisas não mudaram assim tanto… Muito recomendado! 4* (Livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura para o 7º ano de escolaridade)
Este Livro Está a Chamar-te
Isabel Minhós Martins
Livro Físico
Este livro está a chamar-te. Ou melhor, está a chamar os pequenos leitores deste livro. O que quererá ele deles? Que segredos terá para lhes revelar? Este livro está a chamar-te propõe-se a ser um livro interativo. Mesmo feito de papel ele põe os mais novos a mexer como se fosse muito mais que isso. Aqui o tato, o olfato e a audição fazem-se essenciais e o livro objeto transforma-se em muito mais do que um simples livro. Uma proposta interativa que aproxima as crianças do livro e cria uma relação de proximidade muito boa para a criação de hábitos de leitura. Muito recomendado. 5*
Luanda Lisboa Paraíso
Djaimilia Pereira de Almeida
Djaimila Pereira de Almeida nasceu em Luanda, Angola, em 1982. Crescida em Portugal, esta jovem escritora portuguesa licenciou-se em Estudos Portugueses na Universidade Nova de Lisboa e doutorou-se em Teoria da Literatura, na Universidade de Lisboa. Já venceu os prémios Novos 2016 – categoria Literatura, Prêmio de Ensaísmo serrote, atribuído pela Revista serrote (Instituto Moreira Salles, Brasil) e o Prémio Oceanos. Em Lisboa Luanda Paraíso conhecemos Cartola e a sua família. Quando o filho mais novo de Cartola, Aquiles, nasce, traz com ele uma triste surpresa: um calcanhar doente, que precisará de ser operado quando o jovem fizer 15 anos. A mãe de Aquiles, Glória, adoece pouco depois do nascimento da criança e vive acamada durante os anos que se seguem. Quando Aquiles faz quinze anos, o pai parte com ele para Lisboa para que o jovem possa receber tratamento médico, deixando para trás Luanda, a sua mulher e filha. Mas será que pai e filho irão conseguir encontrar em Lisboa o que procuram? A cura? O paraíso? E poderá uma amizade salvar alguém do seu próprio desespero? Eu não achei que este livro tivesse uma história excepcional. É uma história singela, calma, lenta e escura como a tristeza. Não nos traz grandes ensinamentos nem inspirações, mas ainda assim é uma história lindíssima. O livro ganha, sem dúvida alguma, pela maneira como está escrito. O texto de Djaimilia foge-nos perante os olhos, o livro devora-se e em menos de nada já foi. A escrita é mágica, bonita e triste, o género de escrita que eu pessoalmente adoro. Apesar de a história não ter nada a ver, a escrita relembrou-me a sensação que tive ao ler Torto Arado e já não consegui largar o livro. É uma história que de maneira pacifica nos fala das diversas faces do amor, que nos fala de amizade e de exílio e nos relembra que as relações humanas são extremamente complexas. Livro recomendado. Vale muito a pena. 4*