Fim – Fernanda Torres

Wook.pt - Fim

Livro Físico

“Eu tive uma epifania na cobertura do flamengo. E devo isso a ela. Foi a Suzana que me fez entender que o homem nasceu para ser livre, e gozar, e foder, e se fundir com outros braços, outras bundas, e peitos, e coxas e paus. Não me lembro bem do que aconteceu, só do êxtase, da realização. Aquela noite foi um divisor de águas, o auge de alguma coisa que me separava em definitivo do Ciro, do Neto, do Álvaro e do Ribeiro. Foi o fim da juventude.”

“Se possuísse a audácia de Bovary, tomaria cicuta, a nobreza de Sônia, enfrentaria a Sibéria, se miserável, como Fantine, arrancaria os dentes. Mas não, era uma mortal carioca, classe média, como tantas. Célia, Irene, Raquel, todas tratavam seu sofrimento como algo vulgar, um mero destique. O talho nos pulsos, a forca, o gás, eram fins grandiosos demais para alguém como ela. Decidiu ser humilde, matou o amor com discrição de vestal, fez do lar um convento.”

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Fernanda Torres

Fernanda Torres nasceu a 15 de setembro de 1965 no Rio de Janeiro e é atriz, apresentadora e escritora. Venceu o prémio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, em 1986

Álvaro, Sílvio, Ribeiro, Neto e Ciro conheceram-se na juventude e tornaram-se amigos. Agora, estão velhos. Ao longo deste livro ficamos a conhecer as suas vidas, que desenvolveram paralelamente, e os seus fins. Sim, porque estes amigos… vão encontrar a morte.

Fim é um livro que tinha na minha lista de “Para ler” há imenso tempo. As expectativas eram muitas, depois de ter visto inúmeras resenhas a elogiarem o livro. No fundo, talvez as expectativas estivessem altas de mais…

Fim é um bom livro. Engraçado, ter um livro que começa com a palavra fim (logo no título)!

As histórias estão muito bem construídas, as vidas destas personagens entrelaçam-se de maneira complexa e realista, surpreendente por vezes. Admito que a linguagem me surpreendeu, não esperava tanta crueza. Nunca achei que um livro precisasse de usar todo o tipo de termos e linguagem comum e palavrões para ser um bom livro, muito pelo contrário. Um bom livro é um bom livro só por si, sem precisar desse tipo de coisas para impressionar. E embora compreenda que em algumas personagens deste livro essa linguagem faça sentido, achei que o livro perdeu por exagerar. As histórias, a história, é muito boa e não precisava disso. Acabou por dar-me a sensação de que a autora estava a “forçar” a situação para impressionar o leitor.

Mas ok, repito, se não se incomodarem com essa questão, é um óptimo livro. As diferentes formas como as personagens vêm surgir a velhice e a inevitabilidade do passar do tempo, as suas relações, o que fizeram ao longo das suas vidas… é tudo tão humano, tão real, tão cru, que prende realmente o leitor. É um livro que não é demasiado pesado, que trata a morte com uma certa ironia e um certo humor, sem nunca perder de vista o quão importante é aproveitarmos a vida enquanto podemos.

Recomendado. 3*

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