Santuário – Andrew Michael Hurley

Wook.pt - Santuário

Livro Físico

“Sentia-se sozinho. Mais sozinho do que alguma vez se sentira na vida. Era uma espécie de nudez, de súbito despojamento das vestes que o cobriam. Sentia a pele a arder. Uma enguia fria deslizava-lhe no estômago. Sentimentos que pensava ter deixado para trás na infância, naquelas noites em que chorava até adormecer a morte de mais um irmão ou irmã, vinham à superficie, alastravam e dominavam-no.”

Leaders in Residence - Andrew Michael Hurley
Andrew Michael Hurley

Andrew Michael Hurley nasceu em 1975 em Preston, no Reino Unido. É um escritor pouco conhecido e o seu romance de estreia, The Loney (O Santuário) foi publicado inicialmente numa edição limitada de apenas 350 exemplares.

Em O Santuário conhecemos a história de dois irmãos, Tonto e Andrew e da sua família e amigos. Vemos o mundo pelos olhos de Tonto, criado por uma mãe fervorosamente religiosa e um pai sempre meio aéreo e ausente. Andrew, o seu irmão, sofre de uma misteriosa deficiência que o impossibilita de falar e de compreender totalmente aquilo que o cerca. Tonto adora o seu irmão e é o único que realmente consegue percebê-lo e comunicar com ele.

Quando um novo padre chega à paróquia após a trágica morte do padre anterior todos parecem passar por uma estranha adaptação. Decidem então partir numa peregrinação de Páscoa a um Santuário em Loney, uma faixa costeira isolada e baixamente povoada. Else, a mãe de Andrew e Tonto, gosta particularmente desse Santuário pois está convencida que ali Deus irá curar o seu filho. Mas há algo de muito sombrio a acontecer naquela povoação e o Santuário pode já não ser o que era…

Demorei muito a entrar realmente nesta leitura. É um livro com uma acção lenta e admito que não me agarrou logo de início. Mas estava curiosa para saber onde a história me ia levar e resolvi insistir. Depois, a determinado ponto, a leitura lá me agarrou e desapareceu completamente a hipótese de largar o livro. Ainda assim a acção é lenta ao longo de todo o livro e ler esta história deu-me a mesma sensação de ver um filme francês: é bom, mas acontece num ritmo diferente.

A escrita do autor é agradável e a leitura interessante. A acção decorre entre vários tempos. Andrew é adulto quando nos conta esta história e vai intercalando entre o presente, as suas recordações de Loney e as suas recordações de antes de Loney. No início isso pode ser um pouco confuso, mas acabamos por nos acostumar.

Depois, o enredo. Não apanhamos sustos nem há grandes reviravoltas, mas também não é a isso que o livro se propõe. Esta é uma narrativa suave, que decorre sempre com um tom macabro como pano de fundo. Sabemos que há algo muito errado, que vai acontecer alguma coisa muito má, ao longo de todo o livro. É uma história que quer pôr os leitores a roer as unhas de nervosismo e pode mesmo conseguir! A fé, a religião e a luta entre o bem e o mal são os princípais temas e estão tratados de uma forma impressionante. No final o leitor pode mesmo ficar na dúvida se acabou bem ou mal. Se acabou bem devido ao mal, ou mal por causa do bem. Não faz sentido? Terão de ler!

Livro recomendado! 3*

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