“Ser mulher significa viver com medo. Todas as mulheres trazem gravado no ADN o medo do homem. Pensam duas vezes antes de fazer algo tão banal como passar à frente de um grupo de homens ociosos.”
(pág. 125)
“Não existe feminismo sem independência económica. Vi-o claramente na minha infância com a situação da minha mãe. As mulheres precisam de ter rendimentos próprios e de os gerir, o que requer educação, capacitação e um ambiente laboral e familiar adequado. Nem sempre é esse o caso.”
(pág. 143)
“A violência contra as mulheres é universal e tão antiga como a própria civilização. Quando se fala em direitos humanos, na prática está-se a falar em direitos dos homens. Quando um homem é agredido e privado de liberdade, é tortura. Se for uma mulher a passar pelo mesmo, chama-se violência doméstica e, na maior parte do mundo, ainda é considerado um assunto privado. Existem países onde matar uma menina ou mulher por uma questão de honra nem sequer é denunciado. As Nações Unidas calculam que, anualmente, são assassinadas cinco mil mulheres e meninas para salvar a honra de um homem ou de uma família no Médio Oriente e no Sul da Ásia.”
(pág. 123)

Isabel Allende Llona é uma escritora chilena nascida a 2 de Agosto de 1942 em Lima, no Peru. É uma das escritoras mais conceituadas e lidas da actualidade e a sua obra é marcada pelas profundas alterações politicas e sociais do Chile que conheceu ao longo da sua vida. A sua obra mais conhecida é A Casa dos Espíritos, de que falámos neste post.
Ao contrário das obras anteriores de Isabel, Mulheres da Minha Alma não é um romance. A autora define esta obra, dentro da própria obra, como uma “conversa informal” e de facto foi isso que eu senti ao longo de toda a leitura: que estava a ter uma conversa informal (e extremamente interessante) com a autora.
Nesta obra fala-se de mulheres (e, de quando em vez, de homens). Fala-se do mundo em que vivemos hoje e do mundo em que vivemos ontem e fazem-se especulações para o futuro. É uma boa leitura para quem não acredita que ainda exista machismo e que as mulheres não tenham direitos iguais.
Admito que adorei. Este livro transformou-se num dos meus preferidos de 2020. É uma leitura fluída e clara e, na experiência de Isabel conseguimos ver a experiência de muitas outras mulheres. É também uma chamada de atenção para tudo o que ainda falta fazer, para todos os passos que as mulheres ainda vão ter de dar para terem realmente os mesmos direitos e usufruirem da mesma segurança que os homens.
Custa um bocadinho assimilar tantas injustiças como as que são faladas nesta obra, mas é este o mundo em que vivemos. E este é sem dúvida um livro inspirador.
Muito, muito recomendado! 5*