A Demanda do Santo Graal – ed. Irene Freire Nunes

Homem dos Livros - Alfarrabista - Old Books - Livres Anciens: A Demanda do Santo  Graal

A Demanda do Santo Graal em que Irene Freire Nunes se baseou para a publicação desta obra é um manuscrito da Biblioteca Nacional de Viena, um pergaminho do séc. XV que é por sua vez cópia de um manuscrito anterior mas ainda não o original.

Esta obra concentra-se na própria busca dos cavaleiros da Távola Redonda pelo Graal mas é também riquíssima em histórias paralelas. A história começa no reino de Logres, na corte de Artur, durante o dia de Pentecostes. De noite, no banquete, surge o Santo Graal.

Após esta aparição, todos os cavaleiros ficam encantados com o Graal . Então Galvam faz a promessa perante o rei de no dia seguinte começar uma Demanda em busca do Santo Graal e mantê-la por um ano e um dia ou mais se preciso fôr. Os outros cavaleiros seguem-lhe o exemplo e fazem a mesma promessa. O Rei Artur fica zangado e triste com a atitude de Galvam e dos outros cavaleiros pois sabe que a Távola Redonda ficará vazia, que muitos morrerão na Demanda e que mesmo os que viverem demorarão muito a voltar, mas nada pode fazer para os impedir de partir. Foram em Demanda 150 cavaleiros.

Ao longo da Demanda vamos conhecendo também muitas das suas histórias. Desses cavaleiros, três são puros, sem pecado: Galaaz, o filho de Lancelot recém tornado cavaleiro e destinado a encontrar o santo vaso, Persival e  Boorz, que já cometera pecado mas que depois se corrigiu. São esses três que irão encontrar o Santo Graal.  Um dos outros está destinado a cometer grandes pecados, ser desonrado e matar muitos dos seus companheiros se partir em demanda: Galvam, que é avisado da sua sina por uma misteriosa dama logo no início da história mas que parte mesmo assim. Para além desses cavaleiros temos também presentes Lancelot, Tristam, Blioberis e Lionel, Estor, Elaim o Branco, Gaariet, Agravaim, Mordret, Sagramor, Glifet e muitos outros. Ao longo da demanda muitos são os desafios. De armas em punho muitos vezes não se reconhecem devido à armadura e acabam por lutar uns com os outros. Depois, a sede de justiça por um amigo vencido fá-los enfrentar novamente outro dos cavaleiros. Outras vezes, enfrentam cavaleiros desconhecidos e perigos maiores, como demónios e a Besta Ladrador. Galaaz, o destinado, entra na história desarmado mas consegue uma espada ainda na corte do rei Artur e pouco depois consegue também um Escudo que nenhum outro cavaleiro antes dele conseguiu usar sem morrer. No fim da Demanda Galaaz encontra o Santo Graal e Joseph o filho de Joseph Abarimatia desce do céu e vem busca-lo por ordem de Deus. Assim morre Galaaz.

A demanda é uma obra em forma de romance de cavalaria, que pretendia entreter mas também doutrinar. Nela podemos ver claramente, em vários aspectos, a ideologia da igreja. Galaaz por exemplo, é o cavaleiro perfeito: virgem, virtuoso, bondoso, belo, corajoso e leal que não morre como os outros mas antes sobe aos céus calmamente após ter cumprido o seu destino. Só ele e os puros como ele podem encontrar o Santo Graal. Já Lancelot, por outro lado, vive em pecado devido à sua paixão pela rainha Genevra e ao longo de todo o livro podemos ver o seu castigo: sonhos e visões que o relembram do seu pecado e o ameaçam com o inferno, a visão de Genevra a arder no inferno. A determinado momento ele tenta redimir-se do seu pecado e veste uma roupa áspera sob a armadura como penitência, mas no regresso a Camelot volta a pecar, é descoberto e despoleta uma guerra.

Tive de ler esta obra por motivos escolares e, claro, este está longe de ser um livro em que se pegue num dia qualquer para ler só porque sim. Acho que é preciso haver algum interesse prévio pelo tema. A história em si tem 510 páginas, escritas em português antigo, divididas em mais de 700 capítulos. Mas eu, que nunca tinha lido nada da matéria da Bretanha, admito que adorei. É uma leitura bastante demorada e trabalhosa, mas que vale muito a pena. Ficamos a conhecer esta época de uma perspectiva totalmente diferente e vendo-a agora, passado tanto tempo, é uma análise bastante interessante. Para além disso, tenho um fascinio imenso pelas histórias da corte do Rei Artur e poder lê-las numa obra não contemporânea é uma verdadeira dádiva.

Muito bom!

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