“As meninas Lisbon banalizaram o suicídio. Mais tarde, quando outros indivíduos do nosso círculo decidiram pôr termo à vida – às vezes até pedindo emprestado um livro no dia anterior -, imaginávamo-los sempre a descalçar as botas desconfortáveis para entrar no familiar bafio de uma cabana de família numa duna, à beira-mar. Todos eles tinham lido os sinais de desgraça que a velha Sr.ª Karafilis escrevera, em grego, nas nuvens. Em locais diferentes, com cores de olhos diferentes ou posturas diferentes, todos eles tinham decifrado o segredo da cobardia ou da bravura, fosse qual fosse. E as meninas Lisbon estavam sempre lá, à sua frente. Tinham-se suicidado por causa das nossas florestas moribundas, dos lamantins exterminados por hélices quando vinham à superfície beber das mangueiras do jardim; tinham-se suicidado ao verem uma pilha de pneus usados, mais alta do que as pirâmides; tinham-se suicidado por não terem encontrado o amor que nós nunca poderiamos ter sido. E, no final, a dor que dilacerava as Lisbon apontava para a simples e racional recusa de aceitarem o mundo que lhes tinha sido transmitido, com tantos defeitos.”

Jeffrey Eugenides Kent nasceu a 8 de Março de 1960 em Detroit, Michigan nos EUA. Escreveu vários ensaios e contos e é conhecido sobretudo pelos seus romances As virgens suicidas, Middlesex e O Enredo Conjugal.
As virgens suicidas conta-nos a história das cinco irmãs Lisbon: Therese de 17 anos, Mary de dezasseis anos, Bonnie de quinze anos, Lux de catorze anos e Cecília de treze anos. Sabemos, desde o início do livro, que todas elas se suicidaram e isso é um facto consumado. Nesta história não há reviravoltas surpreendentes nem finais inesperados, apenas uma história que vamos conhecendo aos poucos mas de que já conhecemos o final. Para quem gosta de finais felizes, este não é o livro indicado.
Diz, algures no livro, que “as irmãs Lisbon banalizaram o suicídio”. Eu diria que este é sem dúvida um livro que trata o suicídio por tu e isso pode ser chocante em várias alturas. Eu fiquei bastante impressionada mas tenho de admitir que adorei a história.
Esta é uma história dura e crua, rude, com arestas cortantes mas que ainda assim esconde alguma ternura lá no meio. Nunca chegamos realmente a saber os motivos daqueles suicídios, ou talvez os saibamos sem saber realmente que o são.
Eu não acho que este seja um livro para ser lido por qualquer pessoa. Acho que é um livro sobre um tema difícil e sensível, e que corre o risco de o banalizar. É uma história bastante trágica e é preciso ter um estômago forte para a ler. E é também um livro extremamente bem escrito. Estas irmãs têm um mundo próprio, só seu, onde ninguém consegue entrar e é impossível não nos apaixonarmos por pelo menos uma delas. É um livro sobre crescimento, sobre amadurecimento e sobre uma maneira bastante torta de descobrirmos quem somos.
Existe também o filme, de 1999, que vi já há alguns anos, e que é bastante fiel ao livro.
No fim, ficam-nos muitos Ses. Será que se tudo fosse diferente o fim teria sido igual?
Livro recomendado, mas com cautela. 5*