Nascido em 1930 no concelho do Fundão, Albano Dias Martins licenciou-se em Filologia Clássica. Foi docente na Universidade Fernando Pessoa, tradutor e poeta.
Entre as suas obras estão “Secura Verde” (1950), “O Oiro do Dia” (1979), “Os remos escaldantes” (1983), “Uma colina para os lábios” (1993) e “Escrito a vermelho” (1999).
Morreu dia 6 de Junho de 2018, aos 87 anos. A literatura ficou mais pobre.
Alguns poemas do autor:
Pintura
leia-se narciso.
Ou leia-se jacinto.
Ou leia-se outra flor.
Que pode ser a mesma.
As flores
são formas
de que a pintura se serve
para disfarçar
a natureza. Por isso
é que
no perfil
duma flor
está também pintado
o seu perfume.
Glosa para José Gomes Ferreira
não é só dos pássaros
e do vento, o mundo
é também nosso. Foi
por isso, poeta,
que encheste
uma gaveta
de nuvens com a memória
das palavras e acendeste
no chão
dos dias
comuns
algumas estrelas
com tua mão.
Poema para habitar
Uma Cidade
Uma cidade pode ser
apenas um rio, uma torre, uma rua
com varandas de sal e gerânios
de espuma. Pode
ser um cacho
de uvas numa garrafa, uma bandeira
azul e branca, um cavalo
de crinas de algodão, esporas
de água e flancos
de granito.
Uma cidade
pode ser o nome
dum país, dum cais, um porto, um barco
de andorinhas e gaivotas
ancoradas
na areia. E pode
ser
um arco-íris à janela, um manjerico
de sol, um beijo
de magnólias
ao crepúsculo, um balão
aceso
numa noite
de junho.
Uma cidade pode ser
um coração,
um punho.