“Quando entro em pânico, a mecânica do meu coração descarrila, ao ponto de pensar que sou uma locomotiva a vapor cujas rodas descolam nas curvas. Viajo nos carris do meu próprio medo. E tenho medo de quê? De ti. Aliás, de mim sem ti.”

“Se tiveres medo de uma avaria, aumentas as hipóteses, justamente, de uma avaria. Vê os acrobatas, por exemplo: achas que eles pensam que vão cair quando andam na corda bamba?”

“Oh, Madeleine, se ao menos fosse possível! Iria direitinho à minha cama, que ainda deve ter alguns sonhos de criança por baixo da almofada. Tentaria não os esmagar com a minha cabeça cheia de preocupações de adulto. Tentaria adormecer pensando que nunca mais acordaria. A ideia seria estranhamente tranquilizadora. No dia seguinte emergiria penosamente, tão atordoado como um pugilista derrotado, mas Madeleine, com todas as suas atenções, reparar-me-ia como antes.” 

Jack nasce em Edimburgo, em 1874, durante o dia mais frio de sempre. Com ele vem a grande maleita: o coração do bebé não suporta o frio e acaba congelado.
Mas o que deveria ter condenado automaticamente Jack à morte, acaba por ser o que o torna especial. Madeleine, a parteira que o trouxe ao mundo, é conhecida por muitos como sendo uma bruxa e resolve não deixar o pequeno morrer.

Instala então um coração alternativo no peito de Jack: um relógio de madeira. O mecanismo salva-o do que deveria ter sido uma morte certa, mas não vem sem contrapartidas. Não pode tocar nos ponteiros. Não pode ficar com raiva. E nunca, jamais, se pode apaixonar.

Jack cresce com Madeleine e as fantásticas e caricatas personagens que esta médica-mágica trata. Mas será possível viver uma vida inteira sem se apaixonar? E se o fizer, que lhe acontece? Será o seu coração realmente assim tão frágil?

Este é um livro leve, doce, que se lê de uma assentada em duas ou três horas. Faz lembrar a Alice de Lewis Carrol e os filmes fantásticos de Tim Burton. Tem uma magia inesperada que nos distancia do mundo realmente durante a leitura o que, por vezes, é mesmo aquilo de que precisamos.

Livro recomendado.

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